O esgoto das fake news enfim ganhou a atenção devida. Neste mês, abriram-se diferentes frentes para combater as mentiras na rede, em ataque descoordenado e de escala inédita. O movimento é ótimo —e problemático.
No Brasil, o principal lance veio do inquérito pilotado por Alexandre de Moraes no STF. A investigação tem raízes questionáveis, mas mira agora um alvo real: a rede que fomenta mentiras em favor do bolsonarismo.
As ações desse ninho foram expostas pela Folha em 2018. Não foi suficiente para que a Justiça Eleitoral investigasse de verdade.
A ofensiva do STF corrige parcialmente a lacuna. Mas não o faz sem atropelos. Um exemplo é o do ex-deputado Roberto Jefferson. Se ele comete crimes ao se expressar, deve ser julgado por isso. Bloquear suas redes não passa de censura. Esse mesmo inquérito, vale lembrar, censurou a revista Crusoé por publicar uma decisão judicial. Os conceitos de fake news no STF são preocupantes.
No Congresso, o buzz está no projeto dos deputados Tabata Amaral e Felipe Rigoni. É um caminho equivocado. Abre espaço para classificar de desinformação reportagem que deixe alguém em maus lençóis. Tenta balizar o que fazem verificadores de fatos. Determina até as configurações iniciais dos aplicativos de mensagens.
Nos EUA, o Twitter confrontou pela primeira vez Donald Trump, que reagiu prometendo regular ou fechar as redes sociais. Obviamente não sairá coisa boa. Originado também lá, o movimento Sleeping Giants colocou a pressão sobre os anunciantes. A ação, que chegou ao Brasil, é bem-vinda —e confortável para quem vive de publicidade programática.
Os interesses das plataformas, por sinal, saem guarnecidos nos movimentos acima (excetuada a torpeza de Trump). Isso nem sempre fica claro, pois as big techs já cooptaram para seu ecossistema, inclusive financeiramente, muitos dos protagonistas do debate. Sem mexer em pilares dessas empresas, o combate às fake news continuará inglório.
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