Nos últimos dias, li talvez meia dúzia de artigos que sugeriam que somos todos responsáveis pela tragédia com o Museu Nacional. Alguns autores foram bastante diretos, como meu amigo Jairo Marques, outros se cercaram de circunlóquios, mas também acabavam fazendo apelo a uma noção algo abstrata de culpa coletiva. Discordo de todos.
Não sou nem me sinto responsável nem pelo incêndio nem pelas péssimas condições de segurança do prédio. Minha obrigação como cidadão, que é a de pagar corretamente os tributos devidos, eu cumpro. Até fui milimetricamente além do dever estrito ao utilizar repetidas vezes minha voz na imprensa para apoiar a ciência e a cultura em geral.
Não vejo, porém, por que eu precisaria visitar assiduamente museus brasileiros ou militar contra uma suposta indiferença da população para com a coisa pública antes de cobrar das autoridades que deem conta de suas incumbências, que incluem zelar pelo patrimônio que administram, precaver-se contra riscos muito óbvios e, num plano um pouco mais geral, evitar desastres econômicos autoinfligidos.
É claro que, num sentido meio metafísico, podemos afirmar que somos todos responsáveis pelo lamentável estado da política nacional. Nossos representantes, afinal, não vieram de Marte, mas foram eleitos pelo povo. Só que também isso é relativo e comporta individualizações. Eu, por exemplo, nunca dei voto nominal a nenhum desses parlamentares mais picaretas que abundam no Congresso Nacional. Não sou nem me sinto responsável pelo centrão.
O perigo que vejo nesse discurso que coletiviza a culpa é que ele acaba escondendo e diluindo as responsabilidades individuais. Na verdade, precisamos é fazer cada vez mais com que cada um, das mais altas autoridades aos mais humildes cidadãos, assuma os ônus e os bônus de suas ações e escolhas. É o que os americanos chamam de “accountability”. É a melhor vacina contra a tragédia dos comuns.
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