terça-feira, 5 de agosto de 2025

iFood anuncia investimentos diretos de R$ 17 bilhões no Brasil até março de 2026, FSP

 

Luciana Magalhães
São Paulo | Reuters

O iFood anunciou, nesta terça-feira (5), investimentos diretos de R$ 17 bilhões no país entre abril deste ano e março de 2026, acima dos R$ 10,3 bilhões investidos pela plataforma em 2024 e dos R$ 13,6 bilhões em 2025, considerando os 12 meses encerrados em março.

O valor contempla, prioritariamente, ações para impulsionar o tráfego na plataforma, aumentar a recorrência de compras no aplicativo e ampliar os segmentos de atuação da empresa.

Apesar das incertezas globais decorrentes das tensões geopolíticas, o presidente-executivo do iFood, Diego Barreto, disse em entrevista à Reuters que a plataforma mantém uma perspectiva positiva sobre a economia brasileira.

Um entregador de comida está montado em uma motocicleta vermelha, usando um capacete e uma jaqueta vermelha com detalhes em amarelo. Ele carrega uma caixa de entrega vermelha nas costas, com o logo da empresa iFood e a frase "PENSOU COMIDA" visível. O ambiente parece ser urbano, com outros veículos e iluminação de rua ao fundo, e o clima parece estar chuvoso.
Ponto de atendimento do Ifood no bairro de Moema, zona sul da capital paulista - Jardiel Carvalho - 25.abr.25/Folhapress

"Essa discussão geopolítica vai passar de um jeito ou de outro", afirmou o executivo, acrescentando que o iFood antecipa que o país terá um nível de desemprego "constantemente baixo" com a atuação do Banco Central no controle da inflação e crescimento econômico.

O aporte também será direcionado às áreas de tecnologia e inovação, como o desenvolvimento de inteligência artificial proprietária. Parte dos recursos ainda será voltada para disponibilização de crédito a restaurantes parceiros e também a clientes para uso no aplicativo, disse o CEO.

De abril de 2025 até março de 2026, a plataforma de delivery estará contratando 1.100 funcionários diretos, mais da metade na área de tecnologia; uma expansão que elevará o número total de empregados para mais de 8.600, de acordo com o executivo.

O investimento anunciado não inclui os recursos do iFood reservados para possíveis aquisições, disse o CEO, que não quis comentar os rumores recentes de que a plataforma estaria interessada em adquirir a empresa de cartões de benefícios Alelo.

Atualmente, o iFood trabalha com 400 mil estabelecimentos online e offline, tem 55 milhões de clientes e está presente em 1.500 cidades. A plataforma, que alcançou em 2025 a marca de 120 milhões de pedidos por mês, quer chegar a um volume mensal de 200 milhões de pedidos em cerca de três anos.

O iFood faz parte do portfólio do grupo holandês de investimentos Prosus na América Latina.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

As tarifas de Trump nos deixam no segundo pior dos mundos, FSP

 Jason Furman

O autor é professor na Universidade Harvard e ex-presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca

Financial Times

Os americanos que apoiam Donald Trump estão celebrando suas vitórias nos acordos comerciais com a UE (União Europeia), JapãoCoreia do Sul e outros. Enquanto isso, muitos nessas economias estão irritados com o que consideram a rendição unilateral de seus líderes.

Ambas as visões refletem o mesmo pensamento mercantilista equivocado que motivou o presidente dos EUA a lançar suas extraordinárias tarifas em primeiro lugar. Os acordos nos deixam no segundo pior de todos os mundos, mas pelo menos evitaram o pior cenário: uma guerra comercial global total com tarifas crescentes em todos os lados.

"Vencedores", "perdedores" e "concessões" são todos termos inadequados quando se trata de política comercial. Os EUA aumentaram a taxa tarifária média de cerca de 3% para cerca de 20%. O resultado será que os consumidores americanos se beneficiarão menos das importações, enquanto as exportações americanas também diminuirão.

Um homem está falando, usando um boné vermelho com a frase "MAKE AMERICA GREAT AGAIN". Ele tem cabelo loiro e está vestido com um terno azul. O fundo é claro, com algumas nuvens visíveis.
Donald Trump usa o boné do Maga ("Fazer os EUA forte de novo"), lema de seu governo - Mandel Ngan/AFP

O problema que o resto do mundo enfrentava era que estava negociando com um homem que não entendia isso ou não se importava. A questão é que impor tarifas é como uma pessoa simultaneamente atirar no próprio pé e no pé de outra pessoa. Se a outra pessoa responde atirando em seu próprio pé e no pé da pessoa original, isso deixaria ambos incapazes de andar.

O único argumento para a Europa, Japão ou outras economias imporem tarifas comparáveis aos EUA seria se isso levasse a um acordo no qual os últimos eliminassem suas tarifas sobre eles. O melhor resultado para a Europa ou Japão seria tarifas médias próximas de zero em ambos os lados, que é aproximadamente onde as coisas estavam em janeiro. Mas se os EUA iam prejudicar essas economias com tarifas, como Trump claramente estava disposto a fazer, foi sábio da parte deles não agravar o dano com mais tarifas próprias.

Na verdade, o Canadá —que seguiu uma estratégia diferente— pode sofrer mais com sua retaliação contra os EUA do que com as próprias tarifas americanas. Além disso, países que fizeram acordos se beneficiarão de algum desvio comercial porque o que importa para as exportações para os EUA não é o nível absoluto de tarifas, mas como elas se comparam com aquelas enfrentadas por outros países.

Se países ao redor do mundo se unissem, poderiam ter tido influência suficiente para fazer os EUA recuarem. Um pouco para minha surpresa, isso nunca aconteceu. Então, as economias que aceitaram acordos fizeram a escolha racional, dados os jogos bilaterais que estavam jogando.

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Mas por que a UE, Japão, Coreia do Sul, Vietnã e outros foram ainda mais longe e fizeram o que são amplamente chamadas de "concessões"? Estas devem ser vistas não como um preço que pagaram para apaziguar Trump, mas como um benefício que receberam enquanto o apaziguavam. Os consumidores nesses países se beneficiarão ainda mais com a redução de tarifas sobre exportações americanas de itens como carros, produtos industriais e agrícolas do que os trabalhadores americanos.

Claro, havia um argumento de que outros países deveriam ter continuado a se prejudicar impondo tarifas para ganhar influência para um acordo ainda melhor no futuro. Eu não estava próximo o suficiente da negociação para saber, mas sou cético —e como economista, posso apenas observar que as "concessões" geralmente eram do interesse dos países que as fizeram.

A grande exceção a tudo isso é a China, que não concordou com nada e, na verdade, forçou Trump a recuar de pelo menos algumas de suas tarifas. As questões levantadas pelo comércio com a China são reais, incluindo sua falta de adesão às regras comerciais globais, os riscos de muita dependência de um país e a possibilidade de conflitos futuros. Infelizmente, a China tem muito mais influência sobre os EUA do que qualquer outro país no mundo. Os Estados Unidos são um bom cliente para as empresas chinesas, mas as terras raras chinesas são imprescindíveis para muitas empresas americanas.

Para enfrentar a China, os EUA precisam fazer duas coisas. Primeiro, fazer investimentos domésticos em pesquisa, adotar uma política de imigração aberta e oferecer apoio a indústrias críticas. Segundo, construir uma coalizão global que pudesse ter ao menos uma chance de reverter toda a influência que a China atualmente possui. Infelizmente, construir coalizões globais contra agressores comerciais é muito difícil —e nada do que os EUA fizeram a países ao redor do mundo acabará tornando isso mais fácil.

Portanto, o resultado final é que os EUA ficarão mais pobres por causa de suas tarifas, enquanto Europa, Japão, Coreia do Sul e outros negociadores estarão em melhor situação. E a China continuará em seu curso atual, sem ser dissuadida pelas divisões no resto do mundo. Mas suponho que poderia ter sido ainda pior.

Estamos cancelando nossos compromissos em cima da hora sem sentir culpa?, FSP

 Há cerca de dez dias, a atriz Sydney Chandler iria participar de um vídeo e uma sessão de fotos para a prestigiada revista Variety. Ela é a estrela de "Alien: Earth", a primeira série da franquia "Alien", que estreia dia 12 no Disney+.

Mas a estrela de 29 anos cancelou a participação em cima da hora, enfurecendo o repórter da revista. O episódio levantou a questão: será que estamos cancelando nossos compromissos, encontros com amigos e dates em cima da hora com cada vez mais naturalidade, sem nos preocuparmos com as pessoas em que damos o cano?

O caso de Sydney, uma jovem atriz que recebeu a honrosa missão de continuar o legado de Sigourney Weaver na franquia do cinema, causou um choque porque ela se recusou a ir a compromissos considerados normais entre os artistas de Hollywood e do streaming. O repórter abre a matéria narrando o vaivém desgastante entre a equipe da estrela e a revista.

Primeiro, seu agente mandou uma mensagem ao repórter dizendo: "Ela está a caminho". Dez minutos depois, seu assessor de imprensa escreveu outra coisa: "Não. Ela não vai. Acabei de falar com ela. Seu consultor de moda e seu maquiador não estão respondendo. Ela também está muito doente". Difícil engolir a desculpa.

Não me parece que Sydney está sozinha. Com a hiper conectividade dos dias de hoje, cancelar um compromisso profissional, um barzinho com os amigos ou um date de aplicativo parece cada vez mais comum. "Ah, ele é muito meu amigo e não vai ligar. Aliás, ele mesmo fez isso outro dia". "Ah, era só um date... A gente nem se conhecia pessoalmente ainda. E além do mais, quais as chances de ser bom?" OK, mas então por que você marcou?

Existe ainda todo um cardápio de desculpas consagradas e bem aceitas, ao menos entre nós brasileiros. Está muito frio. A academia hoje me quebrou demais. Eu até queria ir, mas a idade pesou hoje, foi mal. Hoje a Raquel vai rasgar o vestido de noiva da Maria de Fátima em "Vale Tudo". (Como noveleiro, nem tenho argumento para rebater este último).

Morei cinco anos no Rio de Janeiro, onde os compromissos costumam ser, digamos assim, um pouco mais fluidos do que em São Paulo. Uma vez, marquei um cinema no sábado às 20h com um amigo. Às 19h55, eu o esperava na entrada do cinema, convencido de que ele só estava um pouco atrasado.

De repente, recebo sua mensagem no zap: "Amigo, não vou conseguir ir. Foi mal". Ainda dei a chance de ele me dar aquela desculpa social, ainda que naturalmente falsa: uma dor de barriga, uma enxaqueca, cachorro passando mal. Recebi um sincericídio: "Deu preguiça de cinema hoje. Vou ficar quietinho em casa mesmo. Bom filme aí". Lembrando: isso tudo cinco minutos antes de o filme começar.

Mas não vou ficar aqui só pagando de vítima do cancelamento –não aquele mais cruel e definitivo das redes, mas aquele real e literal, que aborta um encontro ou evento. Também tenho minha cota de cancelamentos em cima da hora, e peço sinceras desculpas aos amigos afetados. Talvez seja a hora de promover uma campanha por mais responsabilidade afetiva, por um mundo com menos gente tomando cano, bolo ou chá de cadeira.

Quem sabe não podemos sugerir ao nosso Congresso toda uma legislação anti-cano. A nova lei traria uma tabela com os prazos máximos de cancelamento permitidos. As infrações estariam sujeitas a multa: cinema, teatro, shows e eventos culturais seriam canceláveis até no máximo dois dias antes; aniversários, até uma semana antes; casamentos, até um mês antes; dates por aplicativo, até um dia antes; e um máximo de três cancelamentos por ano, sob pena de azar no amor por período indeterminado.