terça-feira, 11 de junho de 2024

Sem 'pegadinha', correção do Zoneamento de SP não ampliará prédios em bairros, dizem vereadores, FSP

 Clayton Castelani

SÃO PAULO

A retomada do debate sobre a Lei de Zoneamento pela Câmara de São Paulo não cederá espaço para discutir mudanças que possam permitir o aumento da altura de edifícios em locais mais afastados de corredores de ônibus e estações de trem e metrô, os chamados miolos de bairro, afirmou nesta terça-feira (11) o presidente da Casa, Milton Leite (União Brasil).

A discussão sobre a revisão da lei que define o que pode ser construído em cada quadra da capital paulista foi reaberta porque o mapa legal com as zonas foi publicado com erros em relação ao aprovado pelos vereadores. A falha teria ocorrido quando o documento precisou ser ajustado às dezenas de vetos do prefeito Ricardo Nunes (MDB) ao projeto que saiu do Legislativo.

O trem está preso a uma via elevada com prédios ao fundo
Trem do Metrô passa diante prédios construídos próximos ao monotrilho na região do Oratório, na zona Leste de São Paulo - Danilo Verpa - 22.mar.2024/Folhapress,

Por tratar especificamente do zoneamento, há a possibilidade de que vereadores apresentem emendas para pedir alterações de quaisquer pontos da lei.

Para fazer a correção, um novo projeto de lei foi apresentado pela Comissão de Política Urbana, presidida pelo vereador Rubinho Nunes (União), que também disse à Folha descartar mudanças que envolvam a alteração no tamanho dos edifícios —e que isso vale para movimentos de bairros que podem procurar a Câmara para pedir a exclusão de quadras sobre as quais houve a expansão de zonas mais permissivas às grandes edificações, por exemplo. "Eu garanto que isso não vai acontecer", afirmou.

Prefeitura e Câmara não detalharam, porém, quais são exatamente os pontos do mapa que serão modificados. O relator do projeto que corrige a Lei de Zoneamento, vereador Rodrigo Goulart (PSD), diz que a análise está em curso e que deverá ser detalhada na audiência pública prevista para quinta-feira (13). Ele também afirma que não haverá surpresas em relação ao regramento aprovado. "Não vai ter pegadinha", diz.

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Alterações de última hora não são incomuns em projetos complexos. No caso específico do zoneamento, o aumento do gabarito altura máxima dos prédios nos miolos de bairros somente apareceu no texto na segunda votação do projeto que, antes disso, havia sido submetido a mais de 30 audiências públicas.

A verticalização de bairros onde ainda predominam construções baixas é um dos principais conflitos entre incorporadores imobiliários e associações de moradores de bairros paulistanos de alta renda, onde estão os terrenos com maior demanda de mercado.

A liberação de prédios mais altos nos miolos de bairro chegou a ser aprovada pela Câmara, mas foi vetada pelo prefeito. O Executivo fez 58 vetos que barravam 78 medidas inseridas pelo Legislativo. Os vereadores derrubaram 17 vetos, mas não insistiram na questão do gabarito.

Nesta terça, Milton Leite garantiu que este ponto não será retomado. "Nos miolos de bairro nós não mexeremos. Sei que há demanda do setor imobiliário, mas o prefeito Ricardo Nunes e eu tivemos um longo debate sobre isso e está superado."

Alguns pontos a serem modificados no mapa, levantados por técnicos que conversaram com a Folha, são a inclusão de zonas de desenvolvimento rural nas extremidades da cidade e a exclusão de uma área de proteção ambiental incluída por equívoco no Brás. O presidente da Câmara diz que cerca de oito áreas "ficaram em branco".

Existem também ajustes no texto da lei. Um deles determina quais técnicas construtivas podem ser aplicadas para edificações em locais onde o solo tem risco de afundamento, como é o caso de Moema, Água Branca, Chácara Santo Antônio e Paraíso.

A Câmara também deve permitir a instalação de escolas particulares em alguns locais predominantemente residenciais e nos corredores viários que ficam nas bordas dessas áreas.

A Lei de Zoneamento de São Paulo, que está em vigor desde de 2016 e foi revisada neste ano, determina quais tipos de construções e usos podem ou não existir em cada quadra da cidade. Ela é complementar ao Plano Diretor Estratégico, que aponta as regras gerais do desenvolvimento urbano. Se um grande edifício é construído em uma rua qualquer, possivelmente isso tem algo a ver com o Plano Diretor e com a Lei de Zoneamento.

Uma corrida para prender e outra para salvar Bolsonaro, Alvaro Costa e Silva - FSP

 São dois caminhos, com rastros e obstáculos diferentes, mas que têm em comum o ponto de chegada –Bolsonaro.

A Polícia Federal avança para concluir os inquéritos envolvendo o ex-presidente e encaminhar os relatórios à Procuradoria-Geral da República ainda neste mês ou em julho. Em agosto deverão terminar os casos de dois colaboradores diretos de Bolsonaro: Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, e Anderson Torres, ex-ministro da Justiça. Investigada pelo uso irregular do cartão corporativo da Presidência, Michele Bolsonaro por enquanto pode respirar: não está entre as prioridades.

Tornado inelegível, Bolsonaro é alvo de pelo menos cinco investigações, entre as quais a da fraude no cartão de vacina contra a Covid, a da venda e recompra de joias e presentes recebidos em viagens oficiais (que teve a cooperação internacional do FBI), a das milícias digitais (que se arrasta desde 2021) e a da tentativa de golpe de Estado. Esta, segundo a PF, acumula um caminhão de provas. Caso a conclusão da PGR seja denunciar o ex-presidente, o Supremo provavelmente só entrará em ação depois das eleições municipais, para evitar qualquer tipo de influência.

A outra corrida é para salvar o capitão, plano de voo já elaborado no Congresso com a participação de Arthur Lira, que em troca faria seu sucessor no comando da Câmara. O relatório do projeto de lei que trata da anistia aos condenados, muitos foragidos, pela insurreição fascista de 8 de janeiro está nas mãos do deputado Rodrigo Valadares, franco-atirador bolsonarista em primeiro mandato.

Entre os dois caminhos, abriu-se um atalho. Lira desengavetou um projeto que proíbe a delação premiada de réus presos. Para um Congresso que tem um quinto dos deputados com pendências na Justiça criminal, é uma sopa no mel. A corrupção empresarial e o crime organizado em narcomilícias também agradecem.

Indicado por Bolsonaro para a vice de Nunes gera revolta no PP, FSP

 

SÃO PAULO

O fortalecimento do nome do coronel da reserva Ricardo de Mello Araújo (PL), indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a vice de Ricardo Nunes (MDB) na eleição para a Prefeitura de São Paulo, gerou revolta em lideranças do PP.

Nomes como o deputado estadual Delegado Olim e o federal Fausto Pinato têm se organizado para barrar o ex-comandante da Ceagesp. Eles pediram uma reunião com o presidente do partido, Ciro Nogueira, para manifestar insatisfação.

Coronel da reserva Mello Araújo durante encontro com Jair Bolsonaro
Coronel da reserva Mello Araújo durante encontro com Jair Bolsonaro - Reprodução-2.mai.2021/@melloaraujo10 no Instagram

"Ele não agrega um voto. Não subo no palanque ao lado dele. Quando estava na Ceagesp, encheu de viaturas da PM. Quando perguntei o tamanho do desfalque de viaturas da PM por causa das ações dele, recebi uma resposta vaga, sem dados. Se o Tarcísio [de Freitas, governador] está apoiando esse nome só para agradar o Bolsonaro, está indo para o caminho errado", afirma Olim.

Nesta segunda-feira (10), Tarcísio disse apoiar a escolha de Mello Araújo para a vice.

"Eu quero que o Ricardo Nunes ganhe. Vou fazer campanha para ele. Mas não aceito ficar ao lado do Mello Araújo. Ele está criando uma minirrebelião no PP", completa o parlamentar.

Presidente municipal do partido Pinato afirma que Bolsonaro, ao forçar a indicação de Mello Araújo, parece estar querendo arrumar um motivo para brigar com Nunes e, dessa forma, ficar livre para apoiar Pablo Marçal (PRTB).

O nome de Mello Araújo ganhou força nas últimas semanas, com a entrada de Marçal na disputa. Com a opção do coach na eleição, o ex-presidente e seus aliados passaram a pressionar Nunes a fazer gestos mais explícitos de aliança com o bolsonarismo —sendo o mais importante deles a escolha de Mello Araújo para a vice.

Nesse cenário, Aldo Rebelo, secretário municipal de Relações Internacionais e favorito dos presidentes de partidos que compõem a coligação de Nunes, desistiu de disputar a vice, o que deu ainda mais força para Mello Araújo.