sexta-feira, 7 de junho de 2024

Notícias bizarras caem no esquecimento, Luís Francisco Carvalho Filho, FSP

 Alexandre de Moraes, do STF, acumula papel de vítima e juiz (simbiose que nenhum sistema judicial do planeta autorizaria) e decreta prisão de quem ameaça sua família. Que a "jurisprudência" não se espalhe por condomínios e vizinhanças do país.

Juíza britânica nega extradição de brasileiro acusado de assassinato em Caratinga, Minas Gerais, e listado pela Interpol como foragido: por ser gay e pelas condições das prisões, risco de tortura, de tratamento desumano. O estado de coisas inconstitucional no sistema penitenciário (declarado pelo STF) repercute no exterior.

Deslumbrados, ministros perambulam pelo mundo e o Supremo não é transparente. Dias Toffoli estava na final da Champions League em camarote de empresário bolsonarista.

Tabata Amaral (PSB-SP) e Maria do Rosário (PT-RS), pré-candidatas às prefeituras de São Paulo e Porto Alegre, aderem à proposta de bancadas obscurantistas de derrubar o veto do presidente Lula à lei que restringe as "saidinhas" de presos.

O Congresso demora 965 dias para apreciar (e manter) o veto do ex-presidente Jair Bolsonaro a dispositivos da lei que cria crimes contra o Estado Democrático de Direito. O prazo estabelecido pela Constituição é de 30 dias. Um dos artigos vetados tem prisão para quem disseminar fatos que sabe inverídicos e capazes de comprometer a "higidez" do processo eleitoral: é veto em causa própria.

O pardal, pássaro exótico e absolutamente adaptado ao meio urbano, desaparece dos céus de São Paulo. Já é considerado animal sob risco de extinção. A construção de prédios seria uma das explicações para o fenômeno.

Pardal
O pardal - Sylvia Hirome

Impune e livre (como um passarinho), o golpista Jair Bolsonaro é garoto-propaganda de perfume lançado no mercado pela empreendedora ex-primeira-dama. "Mito", eau de parfum amadeirado e de duvidosa procedência odorífica, sai por R$ 387,87.

Bispa Sônia, mulher do "apóstolo" Estevam Hernandes, chefe da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, comercializa seu kit de cosméticos na Marcha para Jesus por R$ 250. O prefeito bolsonarista de São Paulo discursa para evangélicos e foge da Parada do Orgulho LGBT+.

Papa Francisco diz que seminários estão "cheios de viadagem" (do italiano "frociaggine", termo considerado depreciativo, homofóbico).

Querem se apropriar das praias. O governo do Paraná privatiza a gestão de 200 escolas públicas. Doze governos estaduais não mencionam educação infantil em leis orçamentárias.

Manifestante levanta cartaz em que diz: "Educação não é mercadoria"
Manifestantes protestam na Assembleia Legislativa do Paraná contra terceirização da gestão de escolas - Divulgação/Alep

PMs da Rota fazem segurança privada de dirigentes de empresa de ônibus ligada ao PCC.

Morre, no Amazonas, a ex-sinhazinha do Boi Garantido Djidja Cardoso, suspeita de integrar seita que impunha a funcionários de rede de salões de beleza o consumo de cetamina, droga com efeitos alucinógenos.

Depois do escândalo que pôs em perigo o mandato presidencial de Michel Temer, os ididja crmãos Batista (Joesley e Wesley), impolutos proprietários da JBS, estão de volta à cena política e participam de encontro com Lula no Palácio do Planalto, para, generosamente, doarem proteína animal para desabrigados do Rio Grande do Sul.

O PT envelhece. É o partido com maior idade média na Câmara dos Deputados.

Arthur Lira, presidente da Câmara, participa de articulação política para que o Flamengo tenha estádio.

Meio milhão de pessoas na cidade do Rio de Janeiro se alimentam uma vez por dia ou não têm o que comer, diz o Mapa da Fome.

Notícias bizarras, assim como as boas notícias, caem no esquecimento.


Corinthians perde maior patrocínio, fica sem goleiro e vive caos, FSP

 Luciano Trindade

SÃO PAULO

"O jogador do elenco do Corinthians com mais tempo de atuação como goleiro profissional nas últimas duas temporadas é o zagueiro Gustavo Henrique."

A frase, que circulou em grupos alvinegros na sexta-feira (7), dá apenas uma pequena amostra do que foi o dia preto e branco. A jornada começou com a notícia de que o goleiro Carlos Miguel, substituto do agora cruzeirense Cássio, também está de saída, deixando como opções os inexperientes Matheus Donelli e Felipe Longo –e o beque Gustavo Henrique, que quebrou o galho no gol em clássico contra Palmeiras.

Pouco depois, a VaideBet anunciou a rescisão unilateral do contrato de patrocínio com o clube, apresentado com pompa, em janeiro, como o maior da história do futebol brasileiro. A decisão minou o presidente Augusto Melo, que é investigado justamente por esse acerto com a casa de apostas e viu mais dois dirigentes importantes desembarcarem de sua gestão: o diretor financeiro, Rozallah Santoro, e o diretor-adjunto de futebol, Fernando Alba, que na prática era o diretor –o titular, Rubens Gomes, o Rubão, já tinha pulado fora.

Augusto Melo vive momento de pressão no Corinthians - Zanone Fraissat - 2.jan.24/Folhapress

Enquanto o ambiente fervia na sede social da agremiação, o Parque São Jorge, o estádio de Itaquera estava sem luz. Profissionais da Enel, a empresa concessionária que distribui energia em São Paulo, encontraram dificuldade em um trabalho de manutenção, deixando na escuridão a academia e os demais pontos comerciais que funcionam na Neo Química Arena quando não há jogo.

Era o menor dos problemas, mas foi ilustrativo de um dia de trevas. Só quem estava radiante eram membros da oposição, que farejam a possibilidade de um impeachment.

Por causa de acusações de irregularidade em comissões pagas na assinatura com a VaideBet, já havia desde o mês passado uma lista com assinaturas de 86 conselheiros pedindo o afastamento do presidente. Como são necessários 51 nomes para a abertura do processo, parece haver mera questão burocrática para ele ser instaurado.

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O rito prevê, então, uma reunião do Conselho Deliberativo, na qual, para o processo ir adiante, é preciso que haja votos a favor do impedimento de metade mais um dos presentes. O passo seguinte é votação em assembleia geral dos sócios, também com exigência de maioria simples.

Tudo levaria cerca de 90 dias, com um mês para cada etapa, porém já há quem aposte que Augusto Melo renunciará ao cargo antes disso. Ele é pressionado também por uma investigação da Polícia Civil que fragiliza ainda mais sua situação.

O inquérito é a respeito de um pagamento de comissão de R$ 25,2 milhões para a Rede Social Media Design, que pertence a Alex Fernando André, o Alex Cassundé, que atuou na campanha de Augusto. Essa empresa, como revelou no UOL o jornalista Juca Kfouri, repassou parte da comissão para a Neoway Soluções Integradas em Serviço, registrada em nome de Edna Oliveira dos Santos, uma mulher que mora em residência humilde em Peruíbe e nem sabia da existência da empresa.

Em nota, o Corinthians afirmou que "todas as negociações, incluindo patrocínios, se deram de forma legal com empresas regularmente constituídas". "O clube destaca que não guarda responsabilidade sobre eventuais repasses de valores a terceiros", dizia o texto.

A resposta não satisfez a VaideBet, que já tinha enviado uma notificação extrajudicial e anunciou a quebra do vínculo. "Só a dúvida, no crivo ético da marca, já é suficiente para determinar a rescisão", publicou a casa de apostas.

Augusto Melo, que teve na caótica sexta do Corinthians uma reunião com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), para tratar da liberação de uma área de estacionamento no entorno do Parque São Jorge, não concedeu entrevista até a publicação deste texto. O clube apenas se manifestou, em nota, sobre o distrato, lamentando que "o maior acordo de marketing do Brasil" tenha sido encerrado "sem que houvesse nenhuma conclusão das investigações relacionadas ao intermediário da negociação".

O acordo anunciado –R$ 370 milhões por três anos– era o grande orgulho de Melo, que se habituou a aparecer no gramado, como fez na conquista da Copa São Paulo de juniores, e em entrevistas, como fez em múltiplos podcasts, com o boné da VaideBet. Ele não estará com o acessório em sua próxima aparição pública e tem outros problemas para resolver.

Augusto Melo e representantes do Corinthians posam ao lado do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB)
Augusto Melo teve encontro com o prefeito Ricardo Nunes - Gil Souza/PMSP/Divulgação

Por um exótico dispositivo no contrato de Carlos Miguel, a multa rescisória do seu contrato foi de 50 milhões de euros (R$ 285,2 milhões, na cotação atual) em 2023 para 4 milhões de euros (R$ 22,8 milhões) em 2024. O mecanismo foi definido em acerto do goleiro com a gestão anterior, do presidente do Duilio Monteiro Alves, mas Augusto só tentou uma remodelação do compromisso após a saída de Cássio.

Os ingleses Nottingham Forest e West Ham demonstraram interesse no atleta de 25 anos, que avisou: está de saída. Os dirigentes que ainda não partiram, como o executivo Fabinho Soldado, ainda tentam uma improvável reviravolta, mas as opções de momento são mesmo Matheus Donelli e Felipe Longo (e Gustavo Henrique). A diretoria consultou Walter, 36, que já defendeu o Corinthians e respondeu favoravelmente sobre a possibilidade de retornar, mas depende de uma liberação do Cuiabá.

É esse o cenário que encara Augusto Melo, com dificuldade para manter salários em dia e para pagar pela aquisição de jogadores que já chegaram, como Félix Torres e Rodrigo Garro. O Santos Laguna, do México, e o Talleres, da Argentina, protestaram, e agora o Corinthians luta contra sanções na Fifa (Federação Internacional de Futebol), como o "transfer ban", que impediria novas contratações para um time encravado na zona de abaixamento do Campeonato Brasileiro.

A semana alvinegra teve ainda a saída de um garoto-prodígio de dez anos… Ao que tudo indica, para o arquirrival Palmeiras.

"Eu avisei que seria um caos. Caos!", afirmou à Folha Andrés Sanchez, mentor do grupo político que comandou o clube de 2007 a 2023 e perdeu, com André Luiz de Oliveira, o André Negão, a última eleição para Augusto Melo. "Caos. Eu só não sabia que seria tão rápido."

Leilão de arroz do governo foi vencido por loja de queijos e empresário que já confessou propina, FSP

 João Gabriel

BRASÍLIA

Das quatro empresas que venceram o leilão de arroz do governo federal, a maior compradora é dona de um estabelecimento em Macapá (Amapá) que tem como atividade principal a venda de leite e laticínios. Outra é de um empresário de Brasília que disse à Justiça ter pago propina para conseguir um contrato com a Secretaria de Transportes do Distrito Federal (DF).

No total, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comprou 263,3 mil toneladas de arroz importado, por R$ 1,3 bilhão.

O objetivo do governo é amenizar os impactos das chuvas no Rio Grande do Sul sobre o abastecimento e os preços do cereal, mas a medida é questionada pela oposição e pelo agronegócio —que também é majoritariamente antilulista.

Fachada da Queijo Minas, no centro de Macapá (AP), maior vencedora do leilão de arroz do governo federal
Fachada da Queijo Minas, no centro de Macapá (AP), maior vencedora do leilão de arroz do governo federal - Reprodução/Google Street View

Segundo o governo, a importação de arroz é necessária em função da importância do Rio Grande do Sul na produção de arroz e porque a calamidade observada a partir do mês passado no estado pode desencadear repercussões negativas no abastecimento e nos preços internos, "colocando em risco a segurança alimentar e nutricional da população".

O leilão chegou a ser inicialmente suspenso pela Justiça Federal, mas foi liberado a tempo de sua realização —nesta quinta-feira (6).

Procurada pela Folha, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), responsável pelo leilão, afirmou que as empresas precisam garantir a entrega do produto em um de seus armazéns, como indicado no edital, e atender requisitos de documentação e qualidade.

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"As empresas vencedoras têm até cinco dias úteis para pagar a garantia de 5% sobre o valor da operação. Se a empresa não apresentar a garantia no prazo estipulado, é aplicada multa de 10% sobre o valor da operação e cancelada a negociação. Se a empresa pagar a garantia, mas não cumprir o previsto no edital, é aplicada multa de 10% sobre o valor da operação e a empresa perde a garantia paga", afirmou a companhia.

Qualquer desrespeito à legislação pode causar punições e implicações criminais e cíveis.

A maior arrematante do leilão foi uma empresa de nome Wisley A de Souza, que adquiriu 147,3 mil toneladas de arroz, tem como único sócio uma pessoa com esse nome e capital social de R$ 5 milhões.

Seu nome fantasia é Queijo Minas, e o endereço registrado na Receita Federal fica no centro de Macapá, capital do Amapá. Segundo imagens do Google, no local funciona o estabelecimento com este mesmo nome.

Já o email que consta no sistema federal é de uma distribuidora. Sua principal atividade (declarada pela própria empresa em seus registros públicos) é o comércio atacadista de leite e laticínios. A lista de capacidades secundárias inclui frutas e verduras, carnes, material de escritório, produtos de higiene e limpeza, e mercadorias alimentícias de armazém em geral.

Procurada por email, telefone e WhatsApp, a empresa não respondeu.

A segunda menor arrematante do leilão foi a ASR Locação de Veículos e Máquinas, com sede em Brasília.

Sua principal atividade é o aluguel de máquinas e equipamentos, mas nas secundárias consta uma série de outras, por exemplo, construção de edifícios e rodovias, obras, publicidade, desenvolvimento de programas de computador, serviços de escritório e de limpeza, além de comércio atacadista de diversas categorias, inclusive cereais.

Seu único sócio é Crispiniano Espindola Wanderley. Ele também participa de outras empresas de transporte e de um instituto de perícia forense.

Procurado pela Folha, ele disse que a ASR tem mais de dez anos de experiência e trabalha com seriedade. Afirmou que venceu um outro leilão da Conab em dezembro de 2023, para distribuição de 211 mil sacas de milho, que foram entregues com sucesso no estado da Bahia.

Entre 2002 e 2009, Wanderley presidiu a Coopertran (Cooperativa de Transportes Públicos do DF).

Ele é citado em uma investigação que mirou o atual deputado federal e então secretário de Transportes do Distrito Federal Alberto Fraga (PL-DF).

Em seu depoimento, Wanderley afirmou que Fraga lhe cobrou propina por intermediários para a assinatura de um contrato de ônibus com a cooperativa e que pagou R$ 350 mil para fechar o acordo.

Nas declarações, ele diz que sua cooperativa foi desclassificada do leilão no Distrito Federal na época (em 2007), mas recorreu e conseguiu ser vencedora do pregão. O então secretário teria, então, assinado o contrato apenas mediante o pagamento da vantagem indevida.

Diz ainda que, anos depois, ele foi retirado da cooperativa em razão de uma negociação malsucedida com o secretário, que teria prometido um contrato de R$ 1,3 bilhão mas não cumpriu.

Fraga chegou a ser condenado, mas recorreu e acabou inocentado da acusação de cobrança de propina. Wanderley não chegou a ser alvo de investigação. Há depoimentos de outros membros da cooperativa, alguns também citando o pagamento de propina e a destituição do ex-presidente por possível mal uso do dinheiro.

No entanto, a Justiça entendeu que as declarações não foram suficientes para corroborar o caso de cobrança de propina, por falta de provas.

Questionado, Wanderley confirmou o caso e disse que fez o pagamento já com intenção de denunciar o ex-secretário e que não entende como o político acabou inocentado.

"Fraga não quis nos entregar as permissões [para operar micro-ônibus]. Entramos na Justiça e ganhamos uma liminar. Como ele entrou com vários recursos, mas não conseguiu êxito, enviou um mensageiro com o objetivo de extorquir a cooperativa. A proposta era que de R$ 350 mil para receber as permissões", disse.

"Submeti aos cooperados a proposta indecente. Como já estávamos há mais de 60 dias sem operar, acabaram aceitando, e assim foi feito, mas com a convicção de que, assim que ele entregasse as referidas permissões, seria denunciado. Em seguida, quando recebemos as permissões, eu fiz a denúncia na delegacia de polícia", completou.

À reportagem, ele disse que foi retirado da presidência porque a cooperativa estava com dívidas e que seus membros queriam deixar de pagar os fornecedores —mas que ele se opôs, e por isso o destituíram.

Fraga também foi procurado pela Folha, mas não respondeu.

O leilão foi criticado pela oposição ao governo Lula e pelo agronegócio, que questiona seus efeitos no mercado e sua necessidade.

A ex-ministra da Agricultura de Jair Bolsonaro (PL), Tereza Cristina (PP-MS), entrou com uma ação no Tribunal de Contas da União para que o pregão seja investigado.

Hoje senadora, ela solicita uma "auditoria de conformidade para analisar a necessidade e os impactos dessa importação para os agricultores brasileiros e para o mercado, bem como a capacidade financeira das empresas vencedoras do leilão".

Presidente do SindArroz-SC (Sindicato da Indústria do Arroz em Santa Catarina), Walmir Rampinelli diz que as vencedoras não costumam atuar no mercado de arroz.

"Além disso, com a entrada no mercado nacional desses mais de 8,7 milhões de fardos de arroz importados, temos a certeza de que muitas indústrias brasileiras provavelmente precisarão paralisar suas atividades e demitir colaboradores, sem contar que os próprios produtores de arroz estão desestimulados a continuar plantando", afirma.