terça-feira, 7 de maio de 2024

Debatedores defendem reciclagem e aproveitamento energético de resíduos Fonte: Agência Senado

 

A adoção de ações que favoreçam a reciclagem e a destinação correta do lixo contribuem para o desenvolvimento, para uma economia menos dependente de combustíveis fósseis e para a preservação ambiental diante das ameaças geradas pelo aquecimento global. A avaliação é dos convidados que participaram nesta terça-feira (7) de audiência pública interativa na Comissão de Meio Ambiente (CMA) sobre o cumprimento das metas de recuperação energética de resíduos sólidos no país. A audiência foi realizada por iniciativa do senador Jorge Seif (PL-SC), que presidiu o debate. Uma segunda audiência pública sobre o tema está prevista para 21 de maio.

O Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares) foi instituído pelo Decreto 11.043, de 2022 e é um dos instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305, de 2010). 

— Estamos discutindo soluções de produção de energia elétrica e destinação de resíduos sólidos, lixo. O mundo ideal seria que nós separássemos todo o lixo das nossas casas, metal, papel, orgânico, mas é um trabalho de longo prazo, e nós precisamos pensar alternativas para esse lixo. Hoje muitas vezes esse lixo vai parar em lixões que, além de poluir o meio ambiente, poluem também solos e águas. Estamos pensando alternativas já utilizadas em outras partes do mundo para nos inspirarmos e buscarmos soluções. Hoje todas as cidades já cobram taxas de lixo. São três mil lixões no Brasil. Ou seja, além de não ser a destinação correta, poluem, e poderíamos usar todo esse lixo para fazer algo positivo, como energia — defendeu Jorge Seif.

Valorização dos resíduos

Presidente-executivo da Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (Abren), Yuri Schmitke Almeida Belchior Tisi defendeu soluções tecnológicas sustentáveis para valorização de resíduos e a mitigação de metano no Brasil. Ele destacou que a legislação brasileira determina o tratamento do lixo urbano, que se dá por meio da compostagem, da reciclagem, do tratamento térmico e biológico, destinando aos aterros somente materiais inertes, ou seja, aqueles que não vão produzir metano ou contaminar os recursos hídricos.

— As usinas de recuperação energética por combustão reduzem em 8,4 vezes as emissões de gases de efeito estufa quando comparadas aos aterros com os melhores captadores de metano. Isso é alarmante. Hoje, o metano é um gás de efeito estufa persistente, há um aquecimento global em andamento causando catástrofes, e a recuperação energética trabalha para mitigar essas ações. Quarenta por cento do nosso resíduo vão para aterros não sanitários, lixões e aterros controlados. É disposição inadequada. Isso acontece desde 2010. A quantidade, inclusive, aumentou, saiu de 25 milhões de toneladas/ano para 30 milhões. Em percentual, a gente olha e parece que diminuiu, de 43% para 39%, mas, em quantidade, aumentou 25%  — afirmou.

Recuperação energética

A geração de resíduos sólidos urbanos no Brasil atinge 156,5 milhões de toneladas por dia, das quais 18,35 milhões recebem tratamento. O país conta com 137 unidades de recuperação energética, que estão concentradas em São Paulo (45) e no Paraná (23). Os diferentes tipos de unidade dividem-se em incineração de resíduos sólidos, aterro sanitário com recuperação de biogás, incineração e coprocessamento e aterro sanitário com reciclagem. Os dados, contidos no Atlas de Recuperação Energética do Sistema Nacional de Gestão de Resíduos Sólido (Sinir), foram citados pela diretora de Transição Energética da Secretaria Nacional de Transição Energética e Planejamento do Ministério de Minas e Energia, Karina Araújo Sousa. Entre os desafios do Plano Nacional de Energia (PNE) 2050, ela citou a grande disponibilidade de fontes elétricas baratas e baixa demanda incremental por calor para cogeração e o mercado de eletricidade, regido por sistema de leilões, além da capacidade de substituição das fontes tradicionais de energia térmica para a demanda existente e, face à sua valoração, a competitividade da eletricidade coproduzida.

Extremos climáticos

O secretário Nacional de Meio Ambiente Urbano e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Adalberto Felício Maluf Filho, disse que não adianta se adaptar aos efeitos climáticos extremos ou trabalhar para mitigar os gases do efeito estufa, e defendeu a transformação ecológica da economia.

— A gente tem que sair dessa economia linear baseada no combustível fóssil, que usa, rejeita e joga todas as coisas fora e, obviamente, isso gera um problema ambiental enorme. A gente tem que caminhar cada vez mais com a circularidade dos materiais, seja no ciclo biológico, seja no ciclo industrial. Não é à toa que o Senado se debruçou sobre essa matéria e aprovou recentemente a Política Nacional de Economia Circular. A matéria foi para a Câmara. Espero que a Câmara consiga andar com a velocidade necessária. Espero que a gente tenha essa sensibilidade da Câmara Federal para debater esse tema tão importante — afirmou.

Reciclagem

Presidente da Alcaplas Indústria de Plásticos, Alceu Lorenzon defendeu a reciclagem e a consolidação da logística reversa, que se caracteriza por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial para reaproveitamento em seu ciclo, em outras etapas produtivas ou para destinação final ambientalmente adequada.

— Quarenta por cento dos municípios ainda não fazem a coleta adequada dos resíduos. No mínimo dois terços dos resíduos podem ser reciclados. Os resíduos têm valor agregado em que se pode facilmente transformar em novos produtos — afirmou.

Aquecimento global

Diretor do Departamento para o Clima e Sustentabilidade da Secretaria de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Osvaldo Luiz Leal de Moraes disse que o aumento excessivo da frequência e intensidade dos desastres climáticos, o contínuo aumento das emissões de gases do aquecimento global e a sustentabilidade do planeta estão interligados à questão dos resíduos sólidos.

— Os compromissos que a humanidade está fazendo com o planeta ainda são inferiores àqueles compromissos que deveriam ser necessários para atenuarmos as emissões de gás de efeito estufa e, consequentemente, pararmos com o aquecimento global. A temperatura do planeta já é 1,7 grau acima da temperatura da época industrial. E nós vamos nos aproximar em 2030 da temperatura de dois graus Celsius. O que está acontecendo agora no Rio Grande do Sul não é um fenômeno isolado, é um reflexo de uma série de eventos que estão sendo determinados pela maneira que nós estamos considerando o planeta. Nós somos os vilões do que está acontecendo — concluiu.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

Fonte: Agência Senado

Lula dá mais uma facada pelas costas em Haddad, FSP

 

SÃO PAULO

O presidente Lula (PT) explicitou da forma mais transparente possível nesta terça (7) o que pensa da situação fiscal do Brasil. E como, se depender dele, o governo não atacará o déficit nas contas públicas que paralisa o país há anos —desde que sua protegida Dilma Rousseff arruinou o Orçamento.

No programa oficial "Bom dia, Presidente", detalhou o que pensa: "Eu às vezes fico um pouco irritado com esse negócio de déficit primário: vai ser zero, não vai ser zero. Veja, isso é uma discussão que nenhum país do mundo faz", começou.

Para acrescentar: "A dívida pública bruta dos Estados Unidos é 112% do PIB. A dívida do Japão é 235% do PIB. A dívida da Itália é quase 200%. Ou seja, esse não é o problema. Não é o problema ficar só olhando que você não pode gastar tanto. Você tem que saber se você está gastando ou se você está investindo."

O presidente Lula no Palácio do Planalto, em Brasília. - AFP

Desde que o governo abandonou há algumas semanas as metas do arcabouço fiscal que ele próprio criou, os juros futuros de dez anos no país não param de subir, o que limitará investimentos privados.

O Banco Central também pode reduzir a marcha de corte na Selic, pressionando ainda mais a dívida pública, que atingiu 75,7% como proporção do PIB em março.

A dívida pública do Brasil de fato é menor do que as citadas por Lula. Mesmo assim, o país pagou R$ 720 bilhões em juros a uma minoria em 2023 para rolá-la —muitas vez mais do que os R$ 170 bilhões destinados a 21 milhões de beneficiários do Bolsa Família.

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Mas a diferença fundamental é que os países citados por Lula têm dólares, ienes e euros como moedas. E o Brasil, o real, que se desvaloriza frente a elas cada vez que o país aumenta o rombo em suas contas.

Na entrevista, Lula disse que aprendeu economia com a mãe. O que dona Lindu não explicou é que esses países só podem ter dívidas altas porque suas moedas são consideradas reserva de valor. E que são ricos, com imensas classes médias. Assim, têm espaço para elevar a carga tributária e diminuir o endividamento em caso de emergência.

O Brasil não apenas já tem a maior carga tributária entre os emergentes como possui renda média per capita muitas vezes menor do que os países citados por Lula.

No conjunto, as declarações do presidente são mais uma facada pelas costas no ministro Fernando Haddad (Fazenda), que vem ensaiando discussões —com medidas impopulares, mas necessárias— sobre ajustes mais duradouros na Previdência e na vinculação de gastos em saúde e educação. Ao que parece, o ministro vai ficar falando sozinho.

domingo, 5 de maio de 2024

Os insetos que conseguem comer e digerir plásticos, BBC News FSP

 

BBC NEWS BRASIL

À primeira vista, não há nada particularmente notável nestes vermes.

A forma em larva da mariposa Galleria mellonella, também conhecida como traça do favo de mel ou traça da cera, se alimenta da cera que as abelhas usam para fazer seu favo de mel. Para os apicultores, são pragas das quais tentam se livrar rapidamente, sem pensar duas vezes.

Mas em 2017, a bióloga molecular Federica Bertocchini, que na época estava pesquisando o desenvolvimento embrionário de vertebrados no Conselho Nacional de Pesquisa Espanhol, se viu diante de uma descoberta potencialmente revolucionária ambientalmente envolvendo estas criaturas.

Cerca de 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos são produzidas todos os anos no mundo todo
Cerca de 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos são produzidas todos os anos no mundo todo - Getty Images

Apicultora amadora, Bertocchini se deparou com estas larvas por acaso, quando estava limpando sua colmeia.

"Coloquei os vermes em um saco plástico e, em pouco tempo, percebi que eles estavam fazendo buracos (no plástico)", diz ela em entrevista à BBC Earth.

Havia algo que fazia o plástico se degradar ao entrar em contato com a boca deles.

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"Foi um verdadeiro momento eureka - foi incrível", lembra Bertocchini, se referindo à descoberta inicial e à noção do que aquilo significava.

"Foi o começo da história. O começo do projeto de pesquisa, de tudo."

As larvas estavam fazendo algo que nós, como seres humanos, achamos extremamente difícil de fazer: decompor o plástico, que leva de várias décadas a séculos para se decompor completamente.

Lixo plástico no mar
Lixo plástico no mar - Getty Images

Bertocchini e seus colegas pesquisadores começaram a coletar o líquido excretado da boca das larvas. Eles descobriram que esta "saliva" continha duas enzimas cruciais, chamadas Ceres e Demeter —em homenagem às deusas romanas e gregas da agricultura, respectivamente—, que eram capazes de oxidar o polietileno no plástico, essencialmente decompondo esse material ao entrar em contato com ele.

"Leva algumas horas, em temperatura ambiente, em solução aquosa", ela explica.

Além disso, as larvas pareciam estar digerindo o plástico como se fosse comida.

"Quando o verme come o plástico e começa a decompô-lo, seu intestino reage praticamente como se estivesse comendo um alimento normal. Isso significa que há algo acontecendo com a fisiologia do animal que extrai algo dessa biodegradação do plástico. E ele simplesmente continua, como se fosse uma dieta normal", afirma Christophe LeMoine, professor de fisiologia comparativa na Brandon University, no Canadá, à BBC Earth.

Inspirado pelas descobertas de Bertocchini, ele também começou a estudar estas larvas.

"Descobrimos que o plástico permitiu a elas reter toda a gordura e, presumivelmente, continuar com o seu ciclo de vida", acrescenta.

A saliva desta larva pode vir a ser um aliado importante na decomposição do plástico
A saliva desta larva pode vir a ser um aliado importante na decomposição do plástico - Getty Images

Basicamente, estas larvas estão se entupindo de tudo que veem pela frente, antes de se transformarem em mariposas, momento em que não comem mais, apenas se reproduzem.

"Eu sempre as chamo de gônadas que voam, porque é tudo o que elas fazem", brinca LeMoine.

Deixar estes vermes soltos em um ambiente poluído por plástico pode ser perigoso para os ecossistemas, dada especialmente sua capacidade de destruir colmeias de abelhas, como observa Bertocchini. Mas ela tem esperança de que as enzimas que estas larvas produzem possam no futuro ajudar a combater a poluição por plástico a nível mundial.

Há, portanto, uma corrida em andamento para descobrir como este mecanismo funciona.

"Essa é a pergunta de um milhão ou um trilhão de dólares, porque uma vez que descobrirmos isso, vamos poder decompor um trilhão de dólares de plástico", pontua LeMoine.

Bertocchini é agora diretora de tecnologia da startup de biopesquisa Plasticentropy France —ela trabalha com uma equipe para estudar a viabilidade de aplicar essas enzimas para uso generalizado na decomposição do plástico.

"O objetivo principal é ser capaz de aplicar essas enzimas aos resíduos plásticos", explica Bertocchini.

"Eu quero muito que esta descoberta e tecnologia sejam desenvolvidas e transformadas em uma solução que possamos usar globalmente."

Mas, afinal, por que o plástico é tão difícil de decompor?

Na natureza, a maioria das coisas se decompõe porque organismos decompositores quebram as ligações químicas que mantêm uma substância unida.

Eles evoluíram ao longo de milênios para decompor tudo o que encontram pela frente. Até que surgiu o plástico - que apesar da má reputação atual, conquistou o mundo.

Os plásticos são constituídos por longas cadeias de polímeros com ligações muito fortes. E um dos segredos para quebrar estas ligações é a oxidação.

É isso que as larvas parecem estar fazendo com a saliva, introduzindo moléculas de oxigênio no plástico.

"E isso, às vezes, é alcançado no meio ambiente por meio da luz, por exemplo, da alta temperatura. E esse é o gargalo. Demora um pouco porque o meio ambiente tem seu próprio tempo", explica Bertocchini.

"Então o que as larvas fazem é simplesmente introduzir uma molécula de oxigênio. E, em algumas horas, em vez de meses ou anos, ou seja lá o (tempo) que for. É uma forma de resolver o gargalo desta reação."

Enzimas promissoras para esta finalidade podem ser encontradas em vários organismos diferentes. Na verdade, já foram identificadas mais de 30 mil enzimas, capazes de digerir 10 tipos diferentes de plásticos.

Alguns fungos e bactérias são conhecidos por digerir plásticos, mas isso é muito mais raro em animais complexos. Em 2022, foi descoberto que outro invertebrado também gosta de plástico - o "superverme" Zophobas morio, que pode engordar com uma dieta de poliestireno.

Já uma bactéria encontrada no estômago das vacas pode ser usada para digerir poliéster.

Mas uma que está gerando bastante interesse por parte dos pesquisadores é uma bactéria chamada Ideonella sakaiensis, e sobretudo sua enzima PETase.

O plástico tipo PET, mais comum em garrafas plásticas, leva centenas de anos para se decompor no meio ambiente. Mas a PETase é capaz de decompô-lo em questão de dias.

Atualmente, são produzidas 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos globalmente todos os anos.

Deste total, de 19 a 23 milhões de toneladas (o equivalente a cerca de 2 mil caminhões de lixo) se infiltram nos ecossistemas aquáticos, onde grande parte é colonizada por micro-organismos ou comida por animais.

Serão necessárias uma série de medidas globais para reduzir a nossa dependência e consumo de plástico. Para isso, muitos países se comprometeram a ajudar a reduzir a produção e utilização de plásticos descartáveis, e um tratado global sobre plásticos é esperado para o fim de 2024.

Mas se enzimas como estas puderem em algum momento ser produzidas em massa para decompor plástico, as pequenas criaturas que mastigaram a sacola de Bertocchini talvez também possam desempenhar um papel importante nisto.

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