segunda-feira, 25 de julho de 2022

Aeroporto de Congonhas: Vizinhos reclamam de mais barulho de aviões após mudança de rotas, OESP

 Ítalo Lo Re, O Estado de S.Paulo

25 de julho de 2022 | 05h00

SÃO PAULO – Ao acordar na manhã de 1º de janeiro, o publicitário Walter Costa, de 58 anos, notou que havia algo diferente. Dirigiu-se, então, até uma das janelas do apartamento de 5º andar onde mora, em um prédio na Vila Nova Conceição, zona sul paulistana, e observou mais aviões passando por perto do Parque Ibirapuera do que antes. “Imaginei que poderia ser por conta de alguma obra no aeroporto, mas os voos não pararam nos dias seguintes”, disse ele, que passou a ter dificuldade para dormir e fazer home office.

Após pesquisar mais a fundo, Walter descobriu que um novo projeto do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) alterou as rotas de voo do Aeroporto de Congonhas, que está em vias de ser concedido à iniciativa privada. As mudanças começaram em maio do ano passado e, com a retomada gradativa de viagens após o pior período da pandemia de covid-19, passaram a ser sentidas em maior intensidade a partir de janeiro deste ano. As reclamações por ruído nos arredores do aeroporto feitas à Infraero, órgão que administra os aeroportos, foram de 13, nos cinco últimos meses de 2021, para 816, de janeiro a maio – alta de 6.176%. Por outro lado, o Decea defende que o ruído geral diminuiu 15,18%, mas não especifica se houve aumento em algumas regiões.

Aeroporto de Congonhas
Representantes de oito bairros se uniram para pressionar órgãos públicos a rever a mudança de rotas ou mesmo a tomar ações para diminuir os impactos nos locais afetados Foto: DANIEL TEIXEIRA/ ESTADÃO - 19/07/2022

A mudança das rotas de avião foi implementada por meio do projeto TMA-SP Neo. Conforme o Decea, órgão subordinado à Força Aérea Brasileira, o objetivo foi “aprimorar a eficiência na gerência do espaço aéreo para acomodação da demanda atual e a projetada para os próximos dez anos”. Na prática, o projeto, que também inclui os aeroportos de Guarulhos, Campinas e São José dos Campos, ramificou as rotas dos aviões – principalmente durante o procedimento de decolagem – para possibilitar mais viagens.

Com a implementação, o Decea informou que as aeronaves passaram a atingir de forma antecipada o chamado nível de cruzeiro, quando o avião consome menos combustível, e disse ainda que, com isso, houve “redução na emissão de CO2 (gás carbônico) e nos gastos com combustíveis, além da dispersão das curvas de ruído”. “Este fato é comprovado pela administradora do Aeroporto de Congonhas ao emitir relatório atestando a redução em 15,18% nas curvas de ruído com as novas rotas”, afirmou o órgão.

Aeroporto de Congonhas
A mudança das rotas de avião teve objetivo de “aprimorar a eficiência na gerência do espaço aéreo para acomodação da demanda atual e a projetada para os próximos dez anos”, segundo Decea Foto: DANIEL TEIXEIRA/ ESTADÃO - 19/07/2022

A alteração, porém, tem desagradado moradores de bairros que antes não eram tão afetados pelos voos. “Estão quebrando um equilíbrio social, econômico e imobiliário de 80 anos da cidade de São Paulo com o aeroporto”, disse Walter. O publicitário defendeu que não se pode adotar esse tipo de mudança sem amplo diálogo da Prefeitura e a população afetada com os órgãos de aviação, como Decea, Infraero e Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) – esta última, a responsável por regular e fiscalizar o ruído aeronáutico.

Morador do mesmo endereço há 30 anos, Walter teve de investir R$ 8 mil em isolamento acústico das janelas do apartamento onde vive para minimizar os efeitos da mudança. “Só assim consegui voltar a trabalhar”, disse. Segundo representantes de associações de bairros afetados, como Moema e Jardim Lusitânia, houve alta na procura de moradores para fazer reclamações sobre ruído de avião e piora considerável na qualidade de vida em locais que antes não estavam sob a rota dos voos e que sequer previam que isso poderia ocorrer. 

Aeroporto de Congonhas
O publicitário Walter Costa teve de gastar R$ 8 mil em isolamento acústico das janelas do imóvel Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO - 21/07/2022

Eles associam a situação às mudanças feitas pelo Decea. Já o órgão federal, embora não especifique se houve alta de ruído em determinadas regiões, defende que o saldo geral da nova operação tem sido positivo. “As curvas após a decolagem são realizadas por performance da aeronave, ou seja, quanto maior a razão de subida da aeronave, antes ela iniciará a curva. Esse procedimento provoca a dispersão de ruído e é o recomendado internacionalmente para aplicação em um aeroporto com o objetivo de reduzir o impacto do mesmo nas populações vizinhas.”

Moradores se unem contra mudança de rotas de voos em Congonhas

Representantes de entidades de oito bairros se uniram nos últimos meses para pressionar os órgãos públicos a rever a mudança de rotas no Aeroporto de Congonhas ou mesmo a tomar ações para diminuir os impactos nos locais afetados, como instalar barreiras contra ruído no sítio aeroportuário e criar um fundo para auxiliar no isolamento acústico das casas e prédios afetados.

O grupo se diz ainda preocupado com os impactos ambientais e relata que os aviões têm passado mais próximos de áreas verdes, como o Parque Ibirapuera. “Nós somos a favor da concessão, que o desenvolvimento da cidade aconteça, mas de uma forma mais amigável com a população”, explicou o presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Jardim Lusitânia (Sojal), Nelson Cury, de 65 anos. 

A avaliação é compartilhada por membros de associações de bairros como Campo Belo, Vila Mariana, Jardins e até Paraíso, que não fica tão próximo assim do aeroporto. Presidente da Associação Viva Paraíso, o psicólogo Marcelo Torres, de 69 anos, explica que desde o fim do ano passado começou a haver um número significativo de moradores insatisfeitos com relação ao barulho de aeronaves no espaço aéreo do Paraíso. “Aqui não era rota e nunca foi, mas passou a ser.”

“Alguns voos saem de Congonhas, passam próximo do Parque Ibirapuera e vem pegando altura no Paraíso. E é bem grande o ruído”, complementou. Diante disso, Marcelo explicou que se aproximou de representantes de outras entidades para unificar as queixas – o grupo já participou de reuniões com órgãos de aviação civil e de audiências públicas na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa de São Paulo. Marcelo reclama, porém, que a mobilização ainda tem gerado pouco efeito prático.

Aeroporto de Congonhas
O grupo de moradores se diz  preocupado com os impactos ambientais e relata que os aviões têm passado mais próximos de áreas verdes Foto: DANIEL TEIXEIRA/ ESTADÃO - 19/07/2022

À frente da Associação Viva Moema, a empresária Simone Boacnin, de 55 anos, reforça que o documento que possibilitou a alteração das rotas de voo em Congonhas foi um PEZR (Plano Específico de Zoneamento de Ruído) elaborado em 2019 pela Infraero e aprovado posteriormente pela Anac. Entre outros pontos, o documento alterou as prerrogativas para emissão de ruídos em algumas localidades da capital paulista.

Conforme o novo plano, “além das alterações dos limites territoriais das Curvas de Ruído em relação ao PEZR anterior, observa-se que mudanças significativas ocorreram nas restrições ao uso do solo”. Anteriormente, edificações residenciais, educacionais e de serviços de saúde e igrejas, além de outros espaços, eram proibidas em áreas de 65 decibéis (dB) ou mais, embora sujeitas a eventual liberação federal.

“De acordo com o novo PEZR, esses usos estão autorizados, desde que assegurado o necessário tratamento acústico nas edificações, em conformidade com a exigência específica em cada Área de Ruído Aeroportuário", afirma o documento. A irritação dos ouvidos humanos aumenta de forma considerável a partir dos 60 dB, com os latidos de um cachorro, por exemplo. Na época da mudança, a Prefeitura de São Paulo não respondeu aos questionamentos dos órgãos federais a tempo, o que não impediu a publicação do novo plano.

“Ficamos sabendo só depois do que aconteceu, a gente acordou com o barulho na nossa cabeça”, disse Simone, ressaltando que não houve medições específicas em regiões mais populosas, mas apenas por modelo computacional. Para a empresária, como a mudança das rotas foi feita em um momento em que os bairros já estão estabelecidos, o prejuízo ficou todo para prédios, casas, escolas e hospitais antes não afetados. “O que a gente quer é que haja um equilíbrio entre o interesse econômico e a população.”

Decea diz não ser possível desenhar rotas sobre áreas desabitadas

O Decea argumentou que, “considerando que o Aeroporto de Congonhas se situa em área densamente povoada, não é possível desenhar rotas sobre áreas desabitadas”. Nesses casos, o órgão afirmou aplicar técnicas de redução de ruído previstas em regulamentos da Organização Internacional da Aviação Civil para dispersar o ruído em áreas densamente povoadas e mitigar o impacto nas populações atingidas. 

“O que pode ter diminuído foi a concentração do ruído em rotas antes já estabelecidas, já que foi espalhado para outros locais”, disse Simone. Ela defende que o cálculo final tem pouco peso quando a rotina de bairros antes fora de rota passam a ser afetados de forma repentina. “A gente até brinca que democratizaram o ruído, espalharam por cima de toda a cidade de São Paulo, por isso que está tendo tanta reclamação.”

Dados da Infraero apontam que somente em junho deste ano foram feitas 321 reclamações de ruído nos arredores do aeroporto. Para se ter um parâmetro, entre maio de 2020 e abril de 2021 – ou seja, durante o período de um ano – foram 37 queixas. Os números podem ter tido influência da queda de voos durante o pior período da pandemia de covid-19, mas representantes de bairros relatam que os ruídos aumentaram mesmo na comparação com 2019. Questionada pelo Estadão, a Infraero não disponibilizou registros de antes de 2020.

A Anac informou, em nota, que o Aeroporto de Congonhas possui um PEZR “devidamente registrado” na agência e que o documento “independe de eventuais respostas da Prefeitura de São Paulo para algum órgão federal”. “O que se busca são ações de compatibilização do uso do solo com o município abrangido pelas curvas de ruído, bem como com a comunidade do entorno”, afirmou. “Como ocorreram alterações em rotas e procedimentos de pouso e decolagem em Congonhas, devido ao Projeto TMA-SP Neo, a Infraero está elaborando um novo PEZR do aeroporto”, acrescentou. Não foi especificado prazo.

‘Não é espalhar o ruído que vai resolver’, diz presidente de entidade

Em locais antes já muito afetados pelos ruídos, como o Jabaquara, a percepção é que a situação mudou pouco após a alteração de rotas dos aviões, mas há preocupação com a perspectiva que a medida traz. Como mostrou o Estadão, a Infraero quer expandir os voos no Aeroporto de Congonhas até mesmo antes da concessão, cujo leilão está previsto para 18 de agosto. A medida adicionaria de 3 a 4 movimentos por hora no terminal, que hoje opera com 32 a 33 pousos e decolagens por hora na aviação comercial. Os investimentos previstos no projeto de concessão abrem caminho para esse número chegar a 44.

Presidente da Associação de Moradores do Entorno do Aeroporto (AMEA) desde 2008, o aposentado Edwaldo Sarmento, de 70 anos, disse se preocupar com a situação, fator decisivo para que tenha se juntado a outras entidades. “Entendemos que deve haver alguma solução intermediária. Não é espalhar o ruído que vai resolver. Se querem aumentar o fluxo de voos no futuro, eles têm de preparar a cidade para essa questão”, disse ele, que é morador do Jabaquara. 

Caso isso não seja feito, Edwaldo acredita que o cenário tende a piorar em diferentes bairros, já que todas as rotas de decolagem, sejam novas ou antigas, podem passar a ter mais viagens após a concessão do aeroporto. Por consequência, vão emitir mais ruídos. “Não acredito que vão voltar atrás na mudança, mas bato firme na questão da mitigação.”

A Prefeitura de São Paulo informou, em nota, que um grupo de trabalho foi constituído para analisar os aspectos técnicos sobre a regulamentação do zoneamento de ruído aeroportuário e sua interface com a legislação municipal. Desde que as rotas dos voos foram alteradas, a Controladoria Geral do Município registrou duas reclamações na Ouvidoria Geral do Município. “A CODUSP (Coordenadoria de Defesa do Usuário do Serviço Público) aguarda um levantamento de informações técnicas das pastas envolvidas no processo para dar continuidade numa possível mediação de conflitos.”

Procurada, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) informou estar “analisando os impactos dos níveis de ruído no entorno do aeroporto”. “A análise é feita pela equipe técnica considerando curvas de ruído calculadas por meio de modelagem computacional e aprovadas pela Anac. O Aeroporto de Congonhas encontra-se na fase de renovação da LO – Licença de Operação, cuja solicitação está em análise na Cetesb.”

O Decea reforçou, em nota, que é de competência da Anac regular sobre ruído aeronáutico e disse que instituiu a Comissão de Gerenciamento de Ruído Aeronáutico (CGRA), responsável por centralizar e gerenciar todas as demandas relativas a este assunto. Ainda assim, moradores ouvidos pela reportagem se dizem insatisfeitos com os resultados gerados após as reuniões da comissão. No Ministério Público Federal (MPF), há um procedimento em andamento sobre as queixas de ruído, mas sob sigilo.

Concessão do Aeroporto de Congonhas mobiliza debate

Na avaliação de representantes de moradores ouvidos pelo Estadão, o projeto de ampliação de rotas do aeroporto – cujo planejamento, informou o Decea, durou cerca de três anos – teria sido feito “às pressas” por conta da concessão do aeroporto. Eles não se dizem contra aos investimentos da iniciativa privada, mas cobram maior aprofundamento, antes do leilão, dos impactos gerados nos bairros afetados pelas mudanças nos voos. 

Considerado um dos ativos mais valiosos da União no Estado, o Aeroporto de Congonhas foi incluído na sétima rodada de concessões aeroportuárias da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), que prevê alcançar ao menos R$ 7,3 bilhões em investimentos nos 15 aeroportos incluídos no pacote – o Campo de Marte também está na lista. Como mostrou o Estadão no último mês, a concessão do Aeroporto de Congonhas entrou na esteira das eleições de São Paulo e tem mobilizado inclusive o debate político.

Procurada para comentar a alta de queixas de barulho em meio ao processo de concessão, o Ministério da Infraestrutura informou que tem como princípio a ampla discussão com todos os atores envolvidos nos processos de concessão e desestatização no setor de infraestrutura de transportes. “Isso se reflete na ampla participação social na fase de consulta pública de diversos ativos da União, como foi o caso do processo da 7ª rodada.”

“Ressaltamos que não há que se falar em pressa na realização dessa etapa de concessões nem dos procedimentos inerentes a ela. O Ministério da Infraestrutura tem cumprido rigorosamente o cronograma de concessões estabelecido ainda no início da atual gestão, em 2019, quando foi anunciado que a 7ª rodada seria realizada no ano de 2022, com os 15 aeroportos que integram essa etapa (incluindo o de Congonhas).”


GUSTAVO IOSCHPE Por que decidi votar no PT pela primeira vez, FSP

 Gustavo Ioschpe

Empresário e economista, é mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade Yale (EUA)

Nunca votei no PT. Participei das passeatas a favor do impeachment de Dilma Rousseff, revoltei-me com o mensalão e o petrolão e não tenho afinidade ideológica com o partido. Apesar desse histórico, em outubro votarei com tranquilidade em Lula, no primeiro turno. A escolha é fácil. Explico-me.

A primeira função de governos é zelar pela vida das pessoas. Na formulação clássica de Thomas Hobbes, a vida em um estado natural, sem organização política, é "pobre, sórdida, brutal e curta". Nossos líderes devem se esforçar para que não padeçamos de mortes evitáveis ou sofrimentos desnecessários. Além de garantir a nossa integridade física, eles precisam se empenhar pela sobrevivência do corpo político que nos preserva.

Bolsonaro vai contra tudo isso. Ele é um entusiasta da morte, da violência. É um destruidor de todas as instituições que importam para o nosso futuro: das nossas florestas às nossas escolas, passando pela nossa cultura e desaguando nos próprios pilares da democracia, que ele continuamente achincalha, como o Judiciário, a imprensa livre e o processo eleitoral (que o elegeu!).

O ex-presidente Lula em ato no Recife (PE) com representantes de movimentos culturais - Ricardo Stuckert/Divulgação

Esse desdém pelo outro, claro durante a sua carreira, foi escancarado durante a pandemia. Nosso presidente fez troça da "gripezinha", insistiu para que as pessoas tocassem as suas vidas sem máscaras. Quando o tratamento veio, Bolsonaro, que não é Messias, nos deixou para trás no recebimento de vacinas.

Teve chance de se redimir na vacinação das crianças; de novo, boicotou o esforço. Nem com os nossos pequenos ele se enternece. Os resultados estão aí: quase 700 mil mortos, o 14º país com mais mortes per capita no mundo, quase quatro vezes maior do que a média mundial.

Poderia me estender na longa lista de crimes e patacoadas perpetrados por Bolsonaro para justificar a decisão de não votar nele, mas é desnecessário. Deveria bastar o descaso com a vida alheia para que qualquer político fosse banido. O que requer explicação são aquelas pessoas que ainda pensam em apoiar esse celerado depois de quatro anos de catástrofes em série. Tenho ouvido três explicações/argumentos.

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O primeiro grupo de bolsonaristas se identifica com os seus "valores". As aspas são merecidas: Bolsonaro não é um bom cristão (você consegue imaginar Jesus ou o papa fazendo arminha com a mão e pedindo para enlutados pararem com o ‘mimimi’?) nem um liberal (é preciso ler livros para defender uma ideologia, e ninguém há de acusar o mito de já ter dado essa fraquejada).

Se você acredita que Bolsonaro compartilha os seus valores, ou você está se enganando sobre quem você é, ou está sendo enganado sobre quem ele é.

O segundo grupo é o daqueles com ojeriza à corrupção e que acredita que o governo Bolsonaro é honesto. A aparência de seriedade, porém, é mais fruto da supressão das instituições investigativas do que de uma possível conversão do centrão.

De resto, a ausência de prisões até agora se deve ao fato de que a corrupção foi legalizada. Em um verdadeiro golpe de mestre do patrimonialismo, o que era mensalão virou orçamento secreto.

Por último, há o grupo que quer barrar o PT por receio de sua sanha gastadora, que faria o país degringolar até virar a próxima Venezuela. Vai que os petistas decidem declarar estado de emergência só para poder furar o teto de gastos e aprovar despesas eleitoreiras a poucas semanas do pleito, não é mesmo?

Lula na Presidência está longe de ser meu cenário ideal. Em uma eleição normal, a gente escolhe o capitão que vai levar o barco para o porto de destino que desejamos. Mas esta não é uma eleição normal. A escolha é entre aquele que nos fará chegar a um lugar indesejado versus um piromaníaco que está tacando fogo no navio.

Os eventuais erros do governo petista podem ser sanados na gestão seguinte. Todavia, mais quatro anos de Bolsonaro devem gerar uma destruição em tantas áreas que perderemos uma geração.

Nas últimas eleições, eu anulei meu voto. Ambas as candidaturas me pareciam inapoiáveis. Em retrospecto, vejo que errei. E não repetirei o erro. Entre a esquerda e a direita, escolherei a vida e a democracia.

Unigel constrói primeira fábrica de hidrogênio verde no Brasil, Cleide Silva, OESP

 Uma das maiores indústrias químicas da América Latina e líder em segmentos como fertilizantes e amônia, a Unigel vai investir US$ 120 milhões (cerca de R$ 650 milhões) na construção da primeira fábrica brasileira de hidrogênio verde, produto que substitui combustíveis fósseis. O plano é que a planta seja, em princípio, a maior do mundo.

O projeto, o primeiro em escala industrial, será anunciado amanhã em Camaçari (BA), onde a fábrica será instalada ao lado de outras duas unidades que produzem amônia e estirênico.

A fábrica entrará em operação no fim de 2023 com produção de 10 mil toneladas do produto ao ano. Parte do hidrogênio verde será convertida em 60 mil toneladas de amônia verde ao ano. “É um movimento que vai nos colocar na liderança da descarbonização do Brasil”, diz Roberto Noronha, presidente da brasileira Unigel.

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Noronha afirma que hidrogênio verde é fonte 'absolutamente limpa'
Noronha afirma que hidrogênio verde é fonte 'absolutamente limpa' Foto: Taba Benedicto/Estadão

Com base no interesse já demonstrado por clientes, e acreditando no rápido crescimento da demanda, o grupo pretende quadruplicar a capacidade produtiva em 2025, inclusive para exportação.

O hidrogênio verde é produzido com água e eletricidade de fonte de energia renovável, como eólica e solar. A ideia é substituir o produto usado atualmente, o hidrogênio cinza, feito com fontes fósseis (gás natural). “O hidrogênio verde vai ser a fonte energética do futuro da humanidade, pois, na sua essência, é absolutamente limpo”, diz Noronha.

O hidrogênio pode ser utilizado em sua forma ou convertido em amônia, matéria-prima essencial para os setores siderúrgico, de refino de petróleo, fertilizantes, entre outros e usado em milhares de produtos. Pode também ser utilizado no transporte de navios, na aviação e, futuramente, em veículos, começando com caminhões e ônibus.

A disponibilidade do hidrogênio verde vai ajudar, portanto, vários outros segmentos industriais no processo de descarbonização. Outros países, como Espanha e Estados Unidos, também iniciaram a produção, mas em pequena escala, informa Noronha.

Coração

A Thyssenkrupp vai fornecer os eletrolisadores, equipamentos considerados o “coração” da fábrica. Eles aplicam grande corrente elétrica e separam as moléculas das soluções. No caso da água, vai separar hidrogênio e oxigênio.

O hidrogênio verde vai ser a fonte energética do futuro da humanidade, pois, na sua essência, é absolutamente limpo.”

Roberto Noronha, presidente da brasileira Unigel

Os equipamentos serão fabricados pela Thyssen na Itália e enviados em módulos em 48 contêineres, por navios, para serem comercializados e montados pela subsidiária brasileira.

“A empresa domina a tecnologia da eletrólise há muito tempo, mas antes tinha outras aplicações industriais”, explica Paulo Alvarenga, presidente da Thyssenkrupp para a América do Sul. “Em razão da emergência climática, ampliamos a tecnologia para a eletrólise da água”.

A energia eólica a ser usada no processo será fornecida pela Casa dos Ventos, uma das maiores empresas do País na geração de energia renovável.

O preço do hidrogênio verde, em uma situação de normalidade, deve ter um “prêmio” (valor extra) em relação ao tradicional. Hoje, com a situação global atípica em razão do conflito entre Rússia e Ucrânia, os preços da amônia e do gás natural estão altos. Por isso o processo do hidrogênio é competitivo.

Alvarenga afirma que a produção do hidrogênio verde não começou antes por causa dos custos. Com a questão ambiental, as empresas começaram a explorar mais a possibilidade e a guerra acelerou o processo.

Criada em 1966, a Unigel tem 27 fábricas em 11 complexos no Brasil e no México, com 2 mil funcionários. A nova unidade vai gerar 500 vagas diretas e indiretas. O grupo teve receita de R$ 8,5 bilhões em 2021 e lucro líquido de R$ 882 milhões. A previsão para este ano é de resultados ainda melhores.