terça-feira, 22 de março de 2022

PDT vai lançar ex-prefeito de Santana de Parnaíba como candidato ao governo de SP, FSP

 O PDT lançará o ex-prefeito de Santana de Parnaíba Elvis Cezar como candidato ao governo de São Paulo. Com isso, o presidenciável Ciro Gomes terá um palanque no estado.

Cezar está de saída do PSDB e deve se filiar ao PDT na quinta-feira (31).

Fernando Haddad (PT) e Márcio França (PSB), no entanto, ainda alimentam esperança de contar com o partido em suas respectivas coligações.

Elvis Cezar, ex-prefeito de Santana de Parnaíba, que será candidato ao governo de SP pelo PDT
Elvis Cezar, ex-prefeito de Santana de Parnaíba, que será candidato ao governo de SP pelo PDT - Reinaldo Canato-11.jun.2018/Folhapress

O PDT espera que Cezar turbine o desempenho de Ciro na região oeste do estado e, no processo, também se viabilize eleitoralmente. As campanhas de Francisco Rossi em 1994 (quando foi ao segundo turno) e 1998 (quarto lugar) têm sido tratadas como referência.

O partido deve destacar índices de segurança e de educação de sua gestão à frente de Santana de Parnaíba, entre 2014 e 2021.


A cegueira da modernidade POR DANIEL MARTINS DE BARROS, OESP

 Saber das coisas era mais fácil quando tudo o que existia era aquilo captado por nossos órgãos dos sentidos. Até intuíamos a existência do invisível, intocável, mas colocávamos essas coisas num plano transcendental, espiritual. O título de realidade palpável era reservado para o que fosse realmente palpável.

Então o mundo real cresceu. Quando as lentes mostraram que havia seres microscópicos à nossa volta e luas gigantescas em volta de outros planetas não pudemos mais confiar em nossos sentidos. A realidade ganhou outra dimensão, confundindo a ordem até então estabelecida.

Nascidos depois da revolução científica que somos, não conseguimos nos dar conta do tamanho desse impacto – a existência do invisível para nós não causa espanto. Mas quem estava lá durante esses abalos experimentou um estranhamento que agora podemos vivenciar em parte na leitura do romance Os órgãos dos sentidos, do escritor Adam Ehrlich Sachs publicado esse ano pela editora Todavia.

Trata-se de uma narrativa convoluta na qual o narrador apresenta para o leitor um relatório que famoso matemático e filósofo Gottfried Leibniz apresentou à revista científica Philosophical Transactions depois de se encontrar com um astrônomo cego que supostamente previu um eclipse total do sol. Sachs nos conta o que Leibniz contou que lhe contou o astrônomo, cuja sanidade está ela mesma posta em questão. O leitor fica perplexo, como devem ter ficado as pessoas de então. Se o eclipse de fato ocorrer fica comprovado que o cientista, mesmo cego, seguia lúcido. Embora se não ocorresse, o que será que isso prova? – pergunta-se o filósofo.

O livro é conduzido pela história do astrônomo, desde sua infância até chegar à explicação de como perdera os olhos, ao longo da qual vários aspectos do estranhamento da modernidade e da tecnologia cruzam seu caminho – causando essa sensação de estranhamento no leitor. Só para ficar num exemplo, quando seu pai constrói uma cabeça mecânica imitando uma cabeça humana, por exemplo, ela fica tão perfeita que em vez de parecer autêntica ela reduz a autenticidade das cabeças reais – a partir dela fica claro que o próprio ser humano é uma espécie de autômato; outro golpe certeiro na visão de mundo da época.

Nesse mundo moderno, no qual o conhecimento vai ficando cada vez mais especializado e de difícil compreensão para o leigo, torna-se impossível viver sem acreditar nos intermediários do conhecimento, como cientistas e especialistas de toda sorte. (Colocá-los em dúvida, aliás, é a estratégia preferida de líderes que almejam corroer a confiança em todas as fontes a não ser eles mesmos, como já conversamos aqui e aqui).

Ao criar no leitor a angustiante expectativa de um eclipse que pode ou não ter sido previsto por um especialista cuja capacidade de prevê-lo sequer é possível entender, o livro cria uma parábola interessante da vida moderna, despertando em nós o sentimento de estranhamento diante de uma realidade que, acostumados a ela que estamos, não nos inquieta mais.

Japonês vira símbolo da indústria do ‘aluguel de estranhos’ e inspira séries de TV e livros. OESP

 

THE WASHINGTON POST - Antes de se mudar para Tóquio para assumir seu novo emprego, Akari Shirai quis almoçar em seu restaurante preferido, que costumava frequentar com o ex-marido. Mas havia um problema: ela não queria ir sozinha e acabar inundada de pensamentos sobre o divórcio; mas também não queria convidar algum amigo e ter de explicar a situação. Então, ela alugou um “cara que não faz nada”.

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O almoço quase em silêncio durou cerca de 45 minutos. Shirai pediu seu prato favorito e fez perguntas ocasionais. Compartilhou memórias do tempo de casada e mostrou-lhe uma foto da celebração do casamento. Ele acenava positivamente com a cabeça e lhe dava respostas curtas, às vezes respondia com um riso seco. Ele não puxou conversa. Era isso que Shirai queria.

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“Senti como se estivesse com alguém e, ao mesmo tempo, sozinha, já que ele existia de uma maneira que eu não precisava ser atenciosa com as necessidades dele nem pensar sobre ele”, afirmou Shirai, de 27 anos. “Não senti nenhum constrangimento, não me senti pressionada a dizer algo. Deve ter sido a primeira vez que comi em silêncio.”

Há anos, existe no Japão e na Coreia do Sul uma indústria informal de aluguel de estranhos que se passam por amigos, parentes ou outros tipos de conhecidos dos clientes, como um modo de manter aparências em eventos sociais em que os frequentadores devem levar convidados.

Mas, ao longo dos últimos quatro anos, Shoji Morimoto, de 38 anos, construiu um culto de seguidores oferecendo-se como um ombro amigo, capaz de estar lá pelos clientes, livrando-os de expectativas sociais de normas explícitas ou intrínsecas da sociedade japonesa. Morimoto – apelidado de “Rental-san”, inspirou uma série de TV e três livros; e atrai atenção internacional por meio de suas postagens virais nas redes sociais.

Depois do almoço, Akari Shirai visita livraria e compra cópia de livro de Shoji Morimoto.
Depois do almoço, Akari Shirai visita livraria e compra cópia de livro de Shoji Morimoto. Foto: Michelle Ye Hee Lee/ The Washington Post

Os serviços de Morimoto são variados. Ele já esperou um cliente na linha de chegada de uma maratona, cujo desejo era ver um rosto familiar no fim da corrida. Já foi contratado para se juntar a pessoas que finalizavam teses acadêmicas, para aliviar o peso de trabalhar sozinhas. Ouve trabalhadores da área da saúde desabafar sobre o desgaste mental que sofrem com a pandemia. E uma mulher o contratou para acompanhá-la enquanto ela registrava os documentos de seu divórcio.

Ele cobra 10 mil ienes (R$ 413) por sessão e é contratado para fazer companhia a pessoas que estão passando por momentos de transformação, que querem superar memórias traumáticas ou poder admitir vulnerabilidades que consideram incômodas para compartilhar com amigos ou parentes. Ele simplesmente estará ao seu lado, sem julgamentos.

Morimoto, com frequência, descobre que seus clientes não querem chatear com suas necessidades as pessoas com que se importam. “Acho que, quando as pessoas se sentem vulneráveis ou estão passando por momentos íntimos, elas ficam mais sensíveis em relação às pessoas de seu entorno, sobre como serão percebidas ou a respeito do tipo de atitude que terão com elas”, afirmou. “Então, acho que elas preferem simplesmente contar com um estranho, com quem não mantêm nenhum tipo de laço.”

Apoio

“Morimoto fornece apoio emocional que muitas pessoas precisam, mas têm dificuldades em encontrar, especialmente durante uma pandemia que exacerbou sensações de isolamento”, afirmou Yasushi Fujii, professor de psicologia da Universidade Meisei, em Tóquio. “Ao interagir com amigos e outros, sempre há fatores desconhecidos que podem entrar em jogo. Mas se encontrando com o Rental-san, fica fácil saber o que esperar e se manter em controle da situação.”/ TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO