terça-feira, 22 de março de 2022

Japonês vira símbolo da indústria do ‘aluguel de estranhos’ e inspira séries de TV e livros. OESP

 

THE WASHINGTON POST - Antes de se mudar para Tóquio para assumir seu novo emprego, Akari Shirai quis almoçar em seu restaurante preferido, que costumava frequentar com o ex-marido. Mas havia um problema: ela não queria ir sozinha e acabar inundada de pensamentos sobre o divórcio; mas também não queria convidar algum amigo e ter de explicar a situação. Então, ela alugou um “cara que não faz nada”.

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O almoço quase em silêncio durou cerca de 45 minutos. Shirai pediu seu prato favorito e fez perguntas ocasionais. Compartilhou memórias do tempo de casada e mostrou-lhe uma foto da celebração do casamento. Ele acenava positivamente com a cabeça e lhe dava respostas curtas, às vezes respondia com um riso seco. Ele não puxou conversa. Era isso que Shirai queria.

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“Senti como se estivesse com alguém e, ao mesmo tempo, sozinha, já que ele existia de uma maneira que eu não precisava ser atenciosa com as necessidades dele nem pensar sobre ele”, afirmou Shirai, de 27 anos. “Não senti nenhum constrangimento, não me senti pressionada a dizer algo. Deve ter sido a primeira vez que comi em silêncio.”

Há anos, existe no Japão e na Coreia do Sul uma indústria informal de aluguel de estranhos que se passam por amigos, parentes ou outros tipos de conhecidos dos clientes, como um modo de manter aparências em eventos sociais em que os frequentadores devem levar convidados.

Mas, ao longo dos últimos quatro anos, Shoji Morimoto, de 38 anos, construiu um culto de seguidores oferecendo-se como um ombro amigo, capaz de estar lá pelos clientes, livrando-os de expectativas sociais de normas explícitas ou intrínsecas da sociedade japonesa. Morimoto – apelidado de “Rental-san”, inspirou uma série de TV e três livros; e atrai atenção internacional por meio de suas postagens virais nas redes sociais.

Depois do almoço, Akari Shirai visita livraria e compra cópia de livro de Shoji Morimoto.
Depois do almoço, Akari Shirai visita livraria e compra cópia de livro de Shoji Morimoto. Foto: Michelle Ye Hee Lee/ The Washington Post

Os serviços de Morimoto são variados. Ele já esperou um cliente na linha de chegada de uma maratona, cujo desejo era ver um rosto familiar no fim da corrida. Já foi contratado para se juntar a pessoas que finalizavam teses acadêmicas, para aliviar o peso de trabalhar sozinhas. Ouve trabalhadores da área da saúde desabafar sobre o desgaste mental que sofrem com a pandemia. E uma mulher o contratou para acompanhá-la enquanto ela registrava os documentos de seu divórcio.

Ele cobra 10 mil ienes (R$ 413) por sessão e é contratado para fazer companhia a pessoas que estão passando por momentos de transformação, que querem superar memórias traumáticas ou poder admitir vulnerabilidades que consideram incômodas para compartilhar com amigos ou parentes. Ele simplesmente estará ao seu lado, sem julgamentos.

Morimoto, com frequência, descobre que seus clientes não querem chatear com suas necessidades as pessoas com que se importam. “Acho que, quando as pessoas se sentem vulneráveis ou estão passando por momentos íntimos, elas ficam mais sensíveis em relação às pessoas de seu entorno, sobre como serão percebidas ou a respeito do tipo de atitude que terão com elas”, afirmou. “Então, acho que elas preferem simplesmente contar com um estranho, com quem não mantêm nenhum tipo de laço.”

Apoio

“Morimoto fornece apoio emocional que muitas pessoas precisam, mas têm dificuldades em encontrar, especialmente durante uma pandemia que exacerbou sensações de isolamento”, afirmou Yasushi Fujii, professor de psicologia da Universidade Meisei, em Tóquio. “Ao interagir com amigos e outros, sempre há fatores desconhecidos que podem entrar em jogo. Mas se encontrando com o Rental-san, fica fácil saber o que esperar e se manter em controle da situação.”/ TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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