segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

‘Só a vacina pode impedir o caos hospitalar’, diz Gonçalo Vecina, OESP

 

Gonzalo Vecina

Com a variante Ômicron já espalhada pelo País, o médico sanitarista Gonzalo Vecina calcula que o número de casos de covid continuará alto por duas ou três semanas. Ele adverte que medidas para diminuir a transmissão do vírus são necessárias – e a volta da meninada à escola está nesse debate. “É preciso discutir postergar o início das aulas para quando todas as crianças tiverem tomado a primeira dose”. Professor da Faculdade de Saúde Pública da USP e ex-presidente da Anvisa, Vecina afirma que não se pode deixar toda a população ser contaminada porque isso lota os hospitais: “Só a vacina pode impedir o caos hospitalar”. Leia a seguir trechos da entrevista concedida à repórter Paula Bonelli, por videoconferência, na semana passada.

Quando todas as crianças serão vacinadas?
Depende de governo. Tem que comprar vacina e aprovar a do Butantan. A Pfizer liberou 6 milhões de doses, são necessárias 40 milhões, tem 12 milhões aí da Coronavac. Precisa-se de mais vacinas e rapidamente. Nas próximas duas semanas, haverá reflexos a serem observados no número de casos em crianças. É preciso discutir sobre postergar o início das aulas para quando todas as crianças já tiverem tomado a primeira dose. A tendência normal seria voltar às aulas assim mesmo. Mas, como essa doença é muito contagiosa, provavelmente vai atrasar um pouco até todas as crianças terem pelo menos essa primeira dose.

Não faria sentido deixar toda a população se contaminar, já que a gravidade do contágio pela Ômicron é menor?
Não, isso iria lotar os hospitais. É preciso diminuir a possibilidade de transmissão do vírus sempre que possível, e por isso vacinar as crianças antes de elas irem para a escola também é importante. Só a vacina pode impedir o caos hospitalar.

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Qual o seu balanço do quadro atual da pandemia?
Haverá esse pico imenso de casos por duas ou três semanas, como aconteceu na África do Sul. E se todo mundo for para uma UPA, para um pronto-socorro, não vai ter solução, não tem assistência hospitalar e teste para tanta gente. A recomendação é, se está gripado, fique em casa, pode ser Ômicron ou H3N2. Se piorar, vá ao hospital. Trate como as gripes que sempre teve a vida toda. Use antitérmicos, analgésicos, e não tome ácido acetilsalicílico, o famoso AAS. A hidratação e a alimentação são fundamentais.

A 3.ª dose da vacina não evita a variante Ômicron?
Não evita, a única coisa que ela e as duas doses conseguem fazer é, na grande maioria, impedir doença grave, hospitalização e morte. A Ômicron não dribla as vacinas do ponto de vista de doença grave e morte.

O sr. prevê novos picos de mortes como os de 2021?
Aconteceu na África do Sul, agora ocorre na Europa, nos Estados Unidos há um aumento exponencial do número de casos, e também no Brasil. Não tem muito caso grave, mas muita gente que precisa se internar por não estar conseguindo engolir por causa de inflamação aguda na garganta ou porque a febre está alta. Se é um hipertenso, diabético, obeso mórbido, cardiopata, transplantado, está fazendo quimioterapia ou tem uma doença que baixa a sua imunidade, um lúpus, significa que está num equilíbrio clínico instável e que a covid pode derrubar esse equilíbrio.

Quais são os maiores gargalos no Brasil para o enfrentamento da pandemia?
Precisa de governo para explicar em quais situações as pessoas devem ir ou não ir para o hospital, fazer ou não testes. Hoje o Ministério da Saúde está pedindo para a Anvisa liberar o autoteste, que é bem mais barato do que o de farmácia e tem lá sua eficácia. Quando for liberado, os produtores vão ter que pedir para fazer o registro para depois vender. Se tudo correr muito bem em um mês vai haver esse autoteste, que custa dois euros na Europa.

A pandemia está no fim?
Falta terminar de vacinar as crianças. Uma pandemia acaba quando acabam os suscetíveis. Dada a capacidade que essa pandemia tem de produzir variantes, não está muito certa a história da imunidade de rebanho. Porque se aparece uma variável nova todo mundo volta a ser suscetível. Com a Ômicron reproduzindo tão rapidamente, e sabendo que uma variante é fruto de um erro probabilístico, existe, sim, uma chance de ocorrer uma variante mais competente. Por outro lado, se a Ômicron varrer o mundo e nós conseguirmos nos vacinar, talvez estejamos chegando ao fim da pandemia.

Valdemar Costa Neto emplaca ex-petista no comando do Banco do Nordeste, OESP

 Lauriberto Pompeu e Vinicius Valfré, O Estado de S.Paulo

17 de janeiro de 2022 | 17h53
Atualizado 17 de janeiro de 2022 | 19h05

BRASÍLIA - O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, emplacou um indicado seu como presidente interino do Banco do Nordeste. O economista José Gomes da Costa foi oficializado nesta segunda-feira, 17, no cargo, que vai acumular com a diretoria financeira do banco. O presidente Jair Bolsonaro chegou a resistir ao nome de Gomes da Costa a após descobrir que ele havia sido filiado ao PT no passado, mas acabou cedendo a forte pressão do aliado político.  

Dados da Justiça Eleitoral indicam que Gomes da Costa se filiou ao PT da Bahia em fevereiro de 2003, na cidade de Lauro de Freitas. A filiação aparece como "excluída" em novembro de 2009 e "cancelada" em junho de 2019. Atualmente, ele não está em nenhum partido.

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O ex-deputado Valdemar Costa Neto
O economista José Gomes da Costa foi oficializado nesta segunda-feira, 17, como presidente interino do Banco Do Nordeste, por indicação de Valdemar Costa Neto. Foto: Leonardo Prado/Câmara dos Deputados

Alvo de escândalos de corrupção em governos passados, o BNB ganhou os holofotes em 2005, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva,  quando um assessor do deputado José Guimarães (PT-CE) foi pego com R$ 209 mil em espécie na mala e US$ 100 mil na cueca. Apurações do Ministério Público Federal mostraram que o dinheiro seria oriundo de propina, a partir de contratos com o banco. À época, o presidente do BNB, Roberto Smith, era indicado por Guimarães. No ano passado, a Justiça Federal arquivou o processo contra o deputado.

Em setembro, Costa Neto gravou um vídeo exigindo a demissão de Romildo Rolim, então presidente do BNB. O motivo apontado foi um contrato de R$ 583 milhões com o Instituto Nordeste Cidadania (Inec), ligado ao PT no Ceará. Desde a saída de Rolim, o banco vinha sendo comandado por Anderson Possa, que acumulava a função com a de diretor de negócios.

Estadão apurou que Costa Neto –  preso e condenado na esteira do escândalo do mensalão – quer contar com a colaboração de seu apadrinhado para afrouxar as regras de nomeação do presidente do BNB e emplacar outro nome no cargo.

O novo presidente interino do BNB é funcionário de carreira e exercia o cargo de superintendente em Salvador desde dezembro de 2017.

Coordenador da bancada do Nordeste no Congresso, o deputado Júlio Cesar (PSD-PI) confirmou que a escolha de Gomes da Costa é de responsabilidade do partido de Bolsonaro. "A indicação do presidente do banco coube ao PL", disse ele ao Estadão. De acordo com Júlio César, o partido já tentou emplacar Gomes da Costa antes, mas sem sucesso. "Já indicaram e não deu certo”, lembrou.

O banco opera o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), que tem previsão orçamentária de R$ 26,6 bilhões para este ano. Com relevância no desenvolvimento da região, o BNB sofre fortes pressões políticas e é controlado pelo PL.

Romildo Rolim, que havia chegado ao cargo em 2017, no governo Michel Temer (MDB), era apadrinhado pelo então presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE). Com a mudança de governo, Rolim buscou padrinhos em outros partidos do Centrão.

Em 2020, Costa Neto já havia tentado tirar Rolim do cargo. À época, o indicado havia sido Alexandre Cabral, ex-presidente da Casa da Moeda. Cabral chegou a ser nomeado para comandar o BNB, mas ficou apenas um dia na função. Pesaram contra ele investigações abertas para apurar contratos fraudulentos na Casa da Moeda.

Em nota, o BNB destacou que o novo presidente foi “escolhido pelo Ministério da Economia por sua experiência profissional e acadêmica” e negou a ingerência política na instituição. “Gomes é economista pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com mestrado em Economia pela mesma universidade, possui MBA em finanças pela Escola de Economia do Rio de Janeiro, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e formação em ‘banking’, pela Escola de Administração de São Paulo, também da FGV”, informou o banco.


Combustíveis já são tema da corrida eleitoral de 2022, EPBR

 O primeiro reajuste nos preços da gasolina e do óleo diesel promovido pela Petrobras em suas refinarias em 2022 está indo além do impacto no bolso do consumidor – já constatado no levantamento semanal de preços nas bombas feito pela ANP na semana passada, aponta o g1. Deputados, senadores, governadores, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e até mesmo pré-candidatos ao pleito deste ano trocaram acusações neste fim de semana, reforçando, assim, que os combustíveis serão destaque na corrida eleitoral.

 
-- Após a decisão do Comitê Nacional dos Secretários Estaduais de Fazenda (Comsefaz) de encerrar o congelamento do ICMS sobre os combustíveis em 31 de janeiro, anunciada na sexta (14/1), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL), usou o Twitter para atacar os governadores nesse domingo (16/1).
 
-- “Os governadores acusam Congresso e Executivo apenas para fazer uma cortina de fumaça. Resolveram acabar com o congelamento do ICMS nos combustíveis quando Petrobras, União e Congresso avançavam em negociações definitivas. E precisam achar um bode na sala”, disse Lira.
 
-- O presidente da Câmara ainda disse que o ICMS responde por quase 1/3 do preço dos combustíveis nas bombas. “É arrecadação fácil e na veia para engordar a arrecadação em ano de eleição”. E finalizou: “Não aceito demagogia eleitoreira. Há um projeto na mesa e se eles discordam, tem força política para sentar na mesa e discutir alternativas. Mas já é 2022 e tem gente que só pensa em outubro”.

 

-- Em outubro do ano passado, a Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que altera o cálculo do ICMS sobre os combustíveis. A proposta, porém, estacionou no Senado, porque dividiu senadores e também recebeu críticas dos governadores.
 
-- O governador do Piauí e coordenador do Fórum Nacional de Governadores, Wellington Dias (PT), respondeu às críticas de Lira. “A regra do congelamento teve dois objetivos: abrimos mão de receitas para ações em favor do nosso povo para provar que não ia parar de ter aumentos nos combustíveis e foram 6 reajustes de lá para cá”.
 
-- Dias lembrou que havia proposta de um entendimento, inclusive com o Executivo, para aprovação da reforma tributária que simplificaria a cobrança de tributos. Entretanto, disse ele, “fecharam as portas para o diálogo, seguiram ampliando o preço dos combustíveis sem qualquer preocupação e sem considerar proposta de voltar o Fundo para equilíbrio nos preços dos combustíveis e gás, antes era a CIDE e demagogicamente acabaram e nossa proposta é a tributação sobre exportação de petróleo – o Brasil sim exporta e seria a principal fonte”.
 
-- A taxação da exportação de petróleo foi incluída no PL 1472/21, que cria um programa de estabilização de preços de combustíveis e altera a política de preços de petróleo. O projeto foi relatado pelo senador Jean Paul Prates (PT/RN) e aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
 
-- Quanto ao PL aprovado pela Câmara, Dias disse que “a Proposta, sem qualquer diálogo ou base técnica, e apresentada não resolve, e ainda causa desequilíbrio a Estados e municípios. Basta examinar o tamanho do lucro da Petrobras para saber quem está ganhando nesta falta de entendimento”, afirmou.
 
- O Twitter também foi o palco para o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltar a atacar os governadores – em especial João Dória, de São Paulo – e o ICMS. Lembrou que zerou os impostos sobre o gás de cozinha, mas que, “lamentavelmente muitos governadores, com p. ex. SP, aumentaram ICMS de muitos produtos entre os combustíveis”.
 
-- A desoneração de PIS e Cofins promovida pelo governo federal sobre o gás de cozinha em fevereiro de 2021 teve pouco impacto sobre o preço final. A redução foi de R$ 2,18 no botijão de 13 quilos vendido para consumidores domésticos – no final de 2020, o preço médio do botijão de 13 quilos era de R$ 74,75, segundo a ANP.
 
-- O senador Randolphe Rodrigues (Rede/AP) também saiu em defesa dos governadores e atacou Bolsonaro. “Os governadores congelaram o ICMS sobre combustíveis por 90 dias, entre 01 de novembro do ano passado e 31 de janeiro deste ano. A gasolina continua aumentando. Não há proposta do governo para reduzir a alta. Então, de quem é a culpa?”, disse ele, no Twitter.
 
-- Outro a criticar o governo federal foi o deputado federal Marcelo Freixo (PSB/RJ), pré-candidato a governador do Rio de Janeiro. “A gasolina e o diesel vão aumentar mais uma vez. Já as taxas de ICMS nos Estados seguem as mesmas. Não caia em golpe. Tá caro e a culpa é do Bolsonaro”.