sábado, 28 de março de 2020

Pandemia leva a guerra estúpida entre 'arautos da vida' e 'campeões da economia', FSP


A vida ou a economia? Sob o bafo do negacionismo oscilante de Trump e do plágio rústico tentado por Bolsonaro, uma disjuntiva sem sentido contaminou o debate público.
Economia é vida: inexiste a alternativa de proteger a saúde pública às custas do desligamento indefinido da produção e do consumo. O humanismo com vista para o mar é tão nocivo quanto o negacionismo que nasce do desprezo pela ciência.
Além de indivíduos com espessos colchões financeiros, há profissionais de empresas que adotaram o home office, empregados de setores que seguem funcionando, funcionários públicos estáveis.
Desses estratos brotam torrentes incontroláveis de humanismo. Vidas não têm preço, valem qualquer sacrifício do vil metal, explicam-nos os que não sacrificarão seus empregos ou meios de sobrevivência. Mas, apesar deles, economia é vida.
O desligamento extensivo ameaça provocar uma depressão econômica mais funda que qualquer outra na história. Isso mata, em massa.
No mundo, centenas de milhões seriam transferidos da pobreza à miséria, caindo como moscas sob as moléstias causadas pela subnutrição.
Um patamar acima, entre a baixa classe média, a desesperança lançaria milhões ao túnel escuro da bebida e dos opioides, a epidemia social que reduziu a expectativa de vida no Meio-Oeste americano. “A cura não pode ser pior que a doença” —a frase de Trump é tão óbvia quanto incontestável, ainda que se origine de motivações abjetas.
Bolsonaro perdeu: não é “uma gripezinha”. A estratégia do confinamento destina-se a criar um parênteses para o reforço do sistema de saúde, a identificação de clusters de transmissão do vírus e o isolamento dos infectados.
Mas ela tem nítidos limites temporais —e precisará ser flexibilizada bem antes do declínio da pandemia. A transição à etapa seguinte exige a mudança do clima sociopolítico, conflagrado pela guerra estúpida travada entre os “arautos da vida” e os “campeões da economia”.
O luxo do humanismo gratuito não é para os que ganham hoje a comida e o aluguel de amanhã. O intervalo do confinamento desaba como avalanche sobre os mais pobres.
Drauzio Varella implora pela distribuição imediata de cestas básicas. Isso é vital —mas insuficiente. Todos os que dependem do setor de comércio e serviços enfrentam uma catástrofe. Na inevitável recessão causada pela pandemia, os negócios e empregos destruídos agora não serão restaurados tão cedo. Armínio Fraga clama por um vasto programa de empréstimos subsidiados. Isso é indispensável —mas, ainda, muito pouco.
As medidas econômicas anunciadas pelo governo implicam perdas colossais de emprego e renda, que se distribuem de modo perversamente desigual, descarregando a conta nas costas dos mais fracos.
A equação cínica que as orienta tem duas partes incongruentes. A primeira, expressa pela ordem sanitária de fechamento do comércio e serviços, suspende as regras da economia de mercado. A segunda, expressa pelas novas linhas de crédito, baseia-se precisamente nessas regras. É hora de exigir coerência: a conta precisa chegar às varandas abertas para o mar.
Economia de emergência nacional, no lugar de economia de mercado, significa: 1) garantir o salário mínimo aos trabalhadores informais; 2) proibir legalmente demissões durante a emergência, que perdurará além do isolamento; 3) assegurar a sobrevivência dos pequenos e médios negócios fechados compulsoriamente por meio de empréstimos garantidos pelo Tesouro, de longo prazo e a juros negativos.
O governo não inventa dinheiro. O estouro da dívida pública seria pago com inflação ou austeridade extrema —isto é, pelos pobres. A alternativa encontra-se num imposto emergencial sobre grandes fortunas, bancos e elevados patrimônios financeiros, além da redução temporária de altos salários do funcionalismo público. Humanismo, ok, mas sem vista para o mar.
Demétrio Magnoli
Sociólogo, autor de “Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial”. É doutor em geografia humana pela USP.

Filhos de Bolsonaro, Flávio e Carlos se filiam ao Republicanos, partido de Crivella, FSP

Prefeito do Rio busca apoio do presidente para reeleição; ex-mulher de Bolsonaro também aderiu a sigla que é ligada à Igreja Universal

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RIO DE JANEIRO
O senador Flávio Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro e Rogéria Nantes, filhos e ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), se filiaram ao Republicanos, partido ligado à Igreja Universal cujo principal nome é o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella.
O prefeito, que busca o apoio do presidente na reeleição deste ano, comemorou a adesão da família presidencial ao seu partido.
"É uma honra receber o senador @FlavioBolsonaro e o vereador @CarlosBolsonaro no Republicanos. Tenho certeza de que eles chegam no nosso partido para somar. Parabéns e sejam bem-vindos. @jairbolsonaro", escreveu Crivella em sua rede social.
Carlos deixou o PSC, partido do governador Wilson Witzel, pelo qual foi eleito em 2016 ao quinto mandato na Câmara Municipal carioca. O vereador ainda avalia se tentará a reeleição. A mãe, Rogéria, é uma opção do clã caso o filho do presidente desista da candidatura. Não está descartada também a possibilidade dos dois buscarem duas vagas no Legislativo municipal.
Flávio também decidiu nesta sexta-feira (27) se filiar à sigla de Crivella. Ainda não há informações sobre a possibilidade do presidente também embarcar no Republicanos, bem como seu terceiro filho político, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, ainda no PSL.
O senador Flavio Bolsonaro e o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro - Adriano Machado - 11.set.2019/Reuters
A família Bolsonaro concorreu em 2018 pelo PSL, mas logo se afastou da direção nacional da sigla, comandada por Luciano Bivar, na esteira do escândalo das candidaturas laranjas.
O presidente tentou articular a criação de seu novo partido, Aliança pelo Brasil, mas não foi capaz de recolher as assinaturas necessárias no curto prazo de tempo para as eleições deste ano. Desde então, a direção do Republicanos disponibilizou sua estrutura para aqueles ligados ao presidente que quisessem se candidatar esse ano fora do PSL.
Crivella, por sua vez, aumenta ainda mais a proximidade com o presidente, o que vem buscando nos últimos meses.
O prefeito nomeou Gutemberg Fonseca, ligado a Flávio, secretário de Ordem de Ordem Pública. Ele era secretário de Governo de Witzel, mas deixou o cargo após o governador se afastar politicamente do presidente.
Crivella tem conseguido afagos públicos de Bolsonaro, como quando recebeu um abraço do presidente durante um culto na praia de Botafogo. Até o momento, contudo, o presidente não confirmou se embarcará com empenho em sua campanha à reeleição.
Durante a pandemia do coronavírus, o prefeito do Rio de Janeiro ainda não atendeu ao chamado de Bolsonaro para que revogasse as determinações de isolamento social. Nesta quinta (26), ele renovou por mais 15 dias o fechamento de escolas e autorizou apenas a abertura de lojas de conveniência em postos de gasolina e de material de construção.
O prefeito segue recomendando que os moradores da cidade fiquem em casa, a fim de reduzir a velocidade de transmissão do vírus.