domingo, 17 de julho de 2016

Operação realismo fantástico: Descobrindo o Brasil com a Lava Jato, Aliás


Antes, suspeitávamos que o Brasil era inclinado ao delírio coletivo; 32 fases depois, temos certeza
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Alexa Salomão,
O Estado de S.Paulo
16 Julho 2016 | 16h00
Há controvérsias sobre o exato momento em que tudo começou. Em retrospecto, historiadores argumentam que sempre fomos uma nação surreal. A mudança da rainha Maria I, a Louca, para o Brasil colônia já atestava a nossa predisposição ao delírio. Popularmente, há outras versões. O momento derradeiro seria o apito final do 7 x 1 da Alemanha sobre o Brasil na Copa. Ali, o eixo da Terra teria se deslocado, e nada mais seria ou voltaria a ser como antes. Imerso no turbilhão dos acontecimentos, o presidente de uma das empreiteiras investigadas pela Polícia Federal confidenciou ao Aliás que se deu conta do insólito só mais tarde, quando a ainda presidente Dilma Rousseff saudou a mandioca. “Recebi o vídeo pela manhã e compartilhei, já com a pergunta que me persegue, e que ninguém responde: esta loucura não vai ter fim?”
O fato é que o País segue embalado por revelações bombásticas. De duas a três vezes por semana, subverte-se a ordem razoável das coisas, das pessoas e dos acontecimentos. Na literatura, o nome disso é realismo fantástico. Na vida como ela é, no Brasil contemporâneo, responde pelo nome de nosso cotidiano.


Uma parte dos absurdos brota por geração espontânea. A mulher do ministro do Turismo que fez um ensaio (quase) sensual no gabinete oficial e postou as fotos nas redes está nessa categoria. Descobrir que ela também tinha sido Miss Bumbum nos Estados Unidos reforça a sensação de que, sim, o País ficou preso em alguma fenda do tempo. Mas as revelações mais estapafúrdias são flagras da intimidade do poder, trazidas a público pelo recente e imprevisível desnudamento jurídico e criminal instaurado pelo juiz Sergio Moro.
Nessa perspectiva, marco zero é o 17 de março de 2014. Naquela segunda-feira, a PF caiu da cama e anunciou a prisão de uma quadrilha que lavava dinheiro em postos de combustíveis. Batizaram de Lava Jato, numa alusão ao fato de que um dos postos de fato lavava carros, além de dinheiro. Como costuma acontecer nos momentos em que nossa existência muda de rumo, naquele dia nos ocupamos de banalidades. A notícia foi a apreensão de um Camaro amarelo. Mas foi a partir dali que se instaurou o imprevisível.
As 32 fases da Operação Lava Jato, com suas derivadas e correlatas, não apenas revelaram o que era sabido: a corrupção infesta o público e o privado no País. Confirmaram que o diabo mora nos detalhes – e os detalhes é que são insólitos.
Já se sabia que dá para parcelar iates e aviões de luxo no Brasil. Aqui até rico gosta de um carnê. Mas a Operação Zelotes, dedicada a desmascarar a compra de perdão para multas fiscais, mostrou que fomos além: há crediário para a propina. Um integrante do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, o Carf, cobrou suborno de R$ 1,5 milhão do Itaú Unibanco e propôs parcelamento em 10 vezes – sem juros. A Operação Boca Livre fez avant première de denúncias na área da Cultura. Segundo os investigadores, a melhor peça da temporada foi o casamento com patrocínio da Lei Rouanet numa praia chic em Santa Catarina. Evento sem paralelo: o primeiro caso em que noivos e convidados foram penetras em festa bancada pela população. Mas não sejamos injustos. Há diversidade na corrupção. Um dos muitos dutos do chamado petrolão canalizou dinheiro das obras do novo Cenpes, centro de pesquisas da Petrobrás, no Rio, diretamente para o financiamento de uma escola de samba do Rio Grande do Sul, onde nem se sabia haver carnaval. Entre os beneficiários, estava a madrinha da bateria, que teria recebido um mensalinho de R$ 61,7 mil.
A equipe do Sensacionalista, site de humor que inventa notícias falsas a partir de fatos reais, atesta que a concorrência da realidade se tornou predatória. Como bem lembrou Martha Mendonça, uma das sócias, enquanto o Brasil pena na crise econômica, a indústria de tornozeleiras eletrônicas para presos cresce quase 300% e há falta do produto. “Mais surreal, impossível”, diz ela. Nelito Fernandes, criador do site, conta que o grupo troca ideias por WhatsApp. “Se a gente entra no meio da conversa, já não dá para saber se o tema é a nossa piada ou a notícia original”, diz. “Um dos elementos do humor é distorcer a realidade, surpreendendo com algo inesperado. Mas, com uma realidade já distorcida como a nossa, fica difícil.”
A política tem sido um ambiente fértil na produção de esquisitices do grupo. Fernandes prossegue: “O que era Eduardo Cunha tentando explicar que o dinheiro do trust no exterior não era dele? Claro que não: era nosso. E o Lula, que foi empossado ministro, depois deixou de ser, aí voltou... Nunca se viu algo assim. Na sequência vem outro governo, com o discurso da moralidade, mas que ao mesmo tempo carregou vários ministros acusados na Lava Jato. Esses fatos dificultam a piada, porque eles mesmos já são piadas.”
Outro sócio do Sensacionalista, o historiador Leonardo Lanna tem entre seus personagens favoritos o presidente em exercício Michel Temer, não pelo resgate da mesóclise nos discursos ou por desposar uma bela, recatada e do lar em pleno século 21, mas por sua suas reviravoltas neste ano mirabolante: “Ele é o vice que, até então decorativo, tira a presidente de cena com ajuda de um mega vilão, que acabou abandonado depois de cumprir seu papel”.
O assustador é que a loucura geral é documentada. Há escutas telefônicas. Computadores, celulares e tablets são apreendidos. Imagens de câmeras de segurança são confiscadas. Documentos em papel e pen drive são arquivados. Um arsenal de Big Brother com relatos de vícios, manias, desejos inconfessáveis.
Grampo vazado revelou que o ex-presidente Lula atende o telefone com a expressão “querido (a)”. Inclusive quando do outro lado da linha está Dilma, usuária contumaz do adjetivo. Afinal, o bordão “querido” foi criado por Lula ou Dilma?
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, numa escuta da PF, apareceu (com toda a finesse) dizendo a Lula o que muitos pensavam e não tinham coragem de falar sobre o tal sítio em Atibaia que o ex-presidente diz não lhe pertencer: “Agora, da próxima vez, o senhor me para com essa vida de pobre, com essa tua alma de pobre, comprando esses barcos de merda, sitiozinho vagabundo”.
Os registros só foram melhorando. Segundo a Força Tarefa da Lava Jato, a Odebrecht montou um departamento para fazer o pagamento das propinas e dispunha de planilhas listando cerca de 300 políticos, boa parte com codinomes. Não se sabe ainda se foram doações ou outra coisa, mas a papelada foi reproduzida na internet. É divertido tentar ligar o nome ao apelido. A deputada estadual gaúcha Manuela d’Ávila é “avião”, e o ex-presidente José Sarney, “escritor”. Faz todo o sentido. Assim como está explicado que Cunha seja “caranguejo”, o bicho que agarra e não solta – segue aí, grudado no mandato. Mas falta explicar por que o ex-ministro Jaques Wagner é “passivo”, e em que circunstância Jarbas Vasconcelos Filho ganhou o apelido de “Viagra”.
Há indícios de que alguns agora estão alucinando. Espalhou-se a convicção de que a PF pode rastrear conversas de celulares desligados. Há quem diga que até sem bateria. O aparelho é vetado em gabinetes da Esplanada dos Ministérios. Nem assim adianta. As revelações mais bombásticas vieram da intimidade. O empresário Marcelo Odebrecht tinha oito celulares e, aparentemente, sofre de hipergrafia – anota de tudo. A polícia estimou ter encontrado algo como 500 anotações de sua autoria, boa parte cifrada. Uma das mais polêmicas tratava de “Vaca”, “Vaccari”, “Vacareza”, e o número 2,2 M – gastou-se tempo e massa encefálica e os investigadores concluíram que se tratava de propina para o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. No fim, era apenas Hamina, uma vaca (animal) de R$ 2,2 milhões.
Vaccari, aliás, foi pródigo em aparições. Em sua delação, o empresário Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, deixou registrado que o ex-tesoureiro não mencionava as palavras dinheiro ou propina. Pedia “pixuleco”, substantivo até então obscurecido. Vaccari contribui, assim, ao imaginário coletivo, pois o termo passou a designar o boneco inflável de Lula com roupa de presidiário.
Já Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, desenvolveu o curioso hábito de gravar conversas. O senador Romero Jucá, registrado falando mal da Lava Jato, nunca desconfiou. Não ficou uma semana na cadeira de ministro do Planejamento no governo interino após suas opiniões virem a público. Conta-se que Lúcio Funaro, preso acusado de lavagem de dinheiro e atuar como operador de Cunha, tem 18 meses de gravação que prometem desnortear ainda mais a cena. Dizem que vai causar inveja a Machado.
O estágio atual é o da paranoia. O herdeiro da maior construtora do País está na cadeia há mais de um ano. Um banqueiro foi parar em Bangu 8. Até o tal do japonês da Federal, que escoltava os criminosos, foi preso. Amanhã pode ser o vizinho que faz barulhos estranhos na madrugada. Pode ser aquela tia solteirona. Você mesmo começa a temer pelo que andou fazendo. E espera a PF bater na sua porta.
A Lava Jato surpreendeu a colega Luciana Amaral, repórter de Política do Estado. Ela e Haroldo, um filhote de Yorkshire, foram acordados por batidas fortes na porta e gritos de “abre, é a Polícia Federal”. De pijama, descabelada e descalça, viu pela fresta três homens fortes e paramentados exibindo um mandado assinado por Moro. Estavam ali para a busca e apreensão de R$ 50 mil. Aos 24 anos, no início da profissão, Luciana bem que desejou que o tal dinheiro existisse. Era tudo um mal entendido. “O Brasil está uma maluquice e escrevemos sobre isso todo dia, mas de repente eu fazia parte daquilo. É como entrar numa realidade paralela, num sonho surreal”, diz ela.
No diagnóstico do economista e cientista social Eduardo Giannetti, sofremos a recaída de uma doença antiga. “A realidade no Brasil sempre foi surreal”, diz ele. Citando um texto de Hélio Beltrão, ex-ministro da Desburocratização (sim, houve esse cargo), ele lembra que tudo no Brasil é feito de cima para baixo e de trás para diante, sem nunca romper com um padrão torto. “O Brasil vive ciclos: vem confiante, as coisas parecem se encaminhar, acreditamos ter encontrado o nosso destino, mas aí as coisas desabam.”
Após a 2ª Guerra, já houve três ciclos seguindo esse padrão, pontua Gianetti. Fomos dos anos dourados de JK, com Bossa Nova, Cinema Novo, capital nova, fusca zero quilômetro, à derrocada fiscal e uma crise institucional que levaram ao golpe de 64. O segundo momento começa no Milagre Econômico dos anos 70 e termina na Década Perdida de 80. Depois vem o ciclo atual, que nasce no Plano Real, atravessa a transição serena de FHC para Lula, e milhões de brasileiros emergem da pobreza e ingressam no mercado de consumo. Até que tudo começou a ruir, no primeiro mandato de Dilma. “Neste momento, estamos atordoados, no pior estágio dessa síndrome: predomina a desesperança, a percepção da realidade está distorcida, e a Lava Jato escancara a corrupção, endêmica, mas que agora subiu de patamar: dá impressão de que ganhou uns três zeros.”
Difícil arriscar palpite para quando e como encontraremos a cura. No livro de citações Antologia da Maldade, os economistas Gustavo Franco e Fabio Giambiagi lembram uma frase de Isaac Newton a propósito dessa limitação: “Eu consigo calcular o movimento dos corpos celestes, mas não a loucura das pessoas”. Neste momento, em viagem pelo Velho Mundo, Franco manda um recado: “Aqui, entre os gringos, só se fala na corrupção do Brasil, não há outro assunto. Como disse Millôr, só muda o corrupto, jamais o tema. Mas também não há um gringo que não confirme que no seu país a coisa já foi preta, embora tempos atrás, há 50 ou 100 anos”, diz Franco. Assim, imerso em outros ares, ele vislumbra que o tempo e o amadurecimento podem nos levar, enfim, à sanidade: “A corrupção é uma doença da juventude dos países. Ou seja, não somos estragados de nascença, somos apenas jovens. Vamos nos corrigir, como aconteceu com franceses, japoneses e americanos”. Até lá, haja Rivotril.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Uso de veículo elétrico pode gerar economia de até 84% em comparação aos similares a combustão


13/07/2016 09:50 - Ipesi Digital
O uso dos veículos elétricos pode gerar uma economia de até 84% nos custos com combustível na comparação com automóveis similares a combustão. Essa é uma das principais conclusões obtidas pelo Emotive - Programa de Mobilidade Elétrica da CPFL Energia a partir de dados coletados com parceiros e colaboradores do grupo que usaram, para fins comerciais e particulares, os carros elétricos da Renault participantes do projeto de P&D.

Um dos parceiros do projeto foi a 3M, que utilizou, entre maio de 2014 e fevereiro de 2016, um Renault Kangoo em sua frota de transporte de cargas. Neste período, o veículo percorreu 6,130 mil quilômetros (km), uma média de 58 km/dia.

Para rodar os mais de 6 mil km, a 3M gastou R$ 930 para o reabastecimento dos carros com energia elétrica, considerando a tarifa industrial A4 da CPFL Paulista (R$ 0,31/kWh). Para efeito de comparação, o custo equivalente do Kangoo a gasolina seria de R$ 5,95 mil. Ou seja, a empresa teve economia de 84% com combustível, sem levar em conta a redução das despesas não mensuradas com manutenção - os motores, por serem 100% elétricos, não precisam de troca de óleos, filtros e velas.

"A 3M utilizou o veículo elétrico da CPFL Energia para realizar diversas entregas a seus clientes-chave. Sempre percebemos excelente reação aonde chegávamos, uma vez que a iniciativa de se praticar o serviço de logística de forma sustentável agrada a todos. Agradecemos à CPFL pela oportunidade de participar de um projeto pioneiro como este, já que a inovação está em nosso DNA", diz o engenheiro de Processos de Supply Chain da 3M, Gustavo Soares.

O uso do veículo elétrico para passeios, viagens e trabalho também gera economia significativa para os motoristas. Entre julho de 2015 e janeiro de 2016, o gerente de Gestão de Caixa da CPFL Energia, Rinaldo Adriano Ribeiro, utilizou o Renault Zoe para as suas atividades diárias, como deslocamento para o trabalho, transporte dos filhos para a escola e idas ao supermercado. No período, o colaborador rodou 6,214 mil km em Campinas, reabastecendo o veículo usando um eletroposto residencial em sua casa.

Na média, o veículo elétrico representou um acréscimo de 243,7 kWh no consumo mensal de energia da residência de Ribeiro. Ao longo do período, foram realizadas 85 cargas, com periodicidade de cada a dois dias, totalizando um consumo total de 1,515 mil kWh. A cada recarregamento, a carga restante da bateria era, em média, de 39%. A autonomia média do Renault Zoe foi calculada em 119 km.

Esse perfil de uso do veículo elétrico gerou um acréscimo de R$ 1.028,69 na conta de luz do colaborador, considerando a tarifa residencial da CPFL Paulista (R$ 0,6799 por kWh). A título de ilustração, caso o Rinaldo percorresse a mesma distância com um veículo similar movido a gasolina, o custo total com combustível seria de R$ 2,294 mil. Ou seja, isso significa que a economia obtida pelo Rinaldo foi de 55%, também não levando em consideração os gastos evitados com manutenção.

"A experiência de conduzir um veículo elétrico é única. Extremamente silencioso e suave, o carro tem emissão zero de gases poluentes, além de excelente custo-benefício em relação à gasolina. Embora a autonomia e o tempo de recarga ainda são pontos a serem aprimorados, o veículo elétrico atende completamente as necessidades urbanas", avalia Ribeiro.

OUTRAS VANTAGENS - Além da economia financeira para os usuários, os veículos elétricos contribuem com as ações de combate às mudanças do clima e para melhorar a qualidade do ar nos grandes centros urbanos. No estudo produzido a partir dos dados coletados com Ribeiro, a área de inovação da CPFL Energia estimou que deixaram de ser emitidos 876 quilos de CO2, equivalente ao plantio de cinco árvores.

Todos esses dados mostram os benefícios da mobilidade elétrica para a sociedade, e já há sinais de que este mercado pode se tornar uma realidade no curto e médio prazo. Atualmente, há uma consulta pública aberta na Agência Nacional de Energia Elétrica sobre o tema, primeiro passo para que o regulador avance na elaboração de um arcabouço regulatório para o desenvolvimento das atividades deste setor.

Além disso, o governo federal reduziu a alíquota do imposto de importação para veículos elétricos em outubro de 2015, passando de 35% para uma faixa de zero a 7%, diminuindo o preço de venda do carro no Brasil. "Com o projeto Emotive, a intenção da CPFL Energia é estudar amplamente o tema de mobilidade elétrica no Brasil e descontruir todos seus mitos, além de preparar técnica e comercialmente o Grupo para o desenvolvimento de um mercado extremamente promissor", afirma o diretor de Estratégia e Inovação da CPFL Energia, Rafael Lazzaretti.

P&D - A nova parceria com o Instituto CCR faz parte do Programa de Mobilidade Elétrica da CPFL Energia, um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) que estuda os impactos da utilização dos veículos elétricos financiado com recursos do programa de P&D da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A pesquisa, iniciada em 2013, receberá até R$ 21,2 milhões em investimentos até 2018, ano de sua conclusão.

Atualmente, o projeto encontra-se na sua segunda fase. A expectativa nesta etapa é de ampliar a frota de veículos elétricos para até 14 carros e aumentar o número de eletropostos em operação para até 30 (entre públicos e privados). Os pontos de recarregamento serão colocados em locais públicos, como shoppings centers, postos de serviços, na prefeitura e em outros pontos estratégicos.

Campinas e Jundiaí, cidades das áreas de concessão da CPFL Paulista e CPFL Piratininga, contam com seis eletropostos públicos em operação.

Entre os temas estudados estão o impacto na rede elétrica e no planejamento da expansão do sistema, uso dos veículos elétricos como fonte de geração distribuída, os aprimoramentos regulatórios e legais, o ciclo de vida e reaproveitamento das baterias, estudo de tarifas e cobrança, a proposição de um modelo de negócios para a mobilidade elétrica no Brasil, além de outras questões relacionadas.

Na primeira fase da pesquisa, foi possível concluir que os veículos elétricos são uma excelente opção para as pessoas que buscam economia. Os dados levantados pelo projeto mostram que o valor do quilômetro rodado de um automóvel a combustão é de aproximadamente R$ 0,30, ao passo que esse custo no veículo elétrico é de R$ 0,10, ou seja, um terço do gasto com um carro convencional.

Outra conclusão da primeira fase é de que a expansão dos veículos elétricos teria impacto pequeno na demanda por energia. As projeções iniciais da CPFL Energia apontam que o uso desta tecnologia ampliaria o consumo de energia entre 0,6% e 1,6% no Sistema Interligado Nacional (SIN) em 2030, quando as previsões indicam que a frota de carros elétricos pode alcançar entre 4 milhões e 10,1 milhões de unidades.

Em junho de 2015, a CPFL Energia anunciou uma parceria com a Rede Graal para a criação do primeiro corredor elétrico do País, entre Campinas e São Paulo. O acordo prevê a instalação de dois pontos de carregamento em postos da rede nas Rodovias Anhanguera e Bandeirantes, na altura do município de Jundiaí.

Busca de esqueletos - MÍRIAM LEITÃO


O GLOBO - 14/07

Caixa nega esqueletos, mas indícios são fortes. O presidente da Caixa, Gilberto Occhi, garantiu em entrevista a este jornal que “não existe aqui nenhum esqueleto para desmontar e tirar do armário”. Talvez seja o caso de Occhi pedir um mapa mais preciso do esqueletário. Bem procurando, pode encontrar, por exemplo, as decisões do ex-vice-presidente Fábio Cleto e a compra de um banco quebrado.

A Caixa nos últimos 13 anos foi usada intensamente para os objetivos políticos do grupo que estava no poder. Basta ver as pedaladas que, de tão abusivas, levaram a antiga diretoria a cobrar do governo. Ainda hoje existem tarifas não pagas ao banco.

Suspeitas de esqueletos rondam, por exemplo, as decisões tomadas pelo ex-vice-presidente Fábio Cleto, um dos delatores da Lava-Jato, cuja área abrangia loterias, fundos governamentais e FGTS. No dia primeiro de julho, a Procuradoria-Geral da República deflagrou a Operação Sépsis, em que investiga as denúncias de desvio e pagamento de propina nas operações financeiras do FI-FGTS. Antes que digam que isso não é Caixa, lembro que a CEF é a administradora única dos recursos do trabalhador depositados no Fundo de Garantia e é por isso que o vice-presidente Fábio Cleto tinha tanto poder de liberar as mais variadas e duvidosas operações de crédito. Uma delas, que está sob investigação, é a compra de debêntures, no valor de quase R$ 1 bilhão, da Eldorado, uma empresa da J&F, a holding da JBS. Houve várias outras operações estranhas, com o pagamento de propina, segundo Cleto.

Se o presidente da Caixa acha que, ainda assim, pode garantir que não há esqueleto nos armários da instituição que preside, deveria avaliar vários outros créditos concedidos a muitos empreendimentos, públicos e privados, nos últimos anos, em modalidades que não tinham o perfil da instituição.

Quem quiser achar esqueletos pode se debruçar sobre a operação de salvamento do banco Panamericano. Na época, o banco foi comprado pela Caixa sem que a due diligence percebesse que ele estava quebrado. Com empréstimos do Fundo Garantidor de Crédito e, depois, a prestimosa ajuda do BTG Pactual, o prejuízo da CEF foi sendo escondido. Mas o fato é que ela pagou para ser sócia de um banco falido.

No mercado, o que se comenta é que a qualidade da carteira de crédito da Caixa piorou muito nos últimos anos. O banco passou a atuar mais fortemente no crédito ao consumidor, uma área que não tem grande expertise. Em relatório divulgado no mês passado, a agência de classificação de risco Moody’s, por exemplo, rebaixou a nota da Caixa alegando queda da rentabilidade e aumento do crédito de risco.

“Os volumes de negócios estão diminuindo, os custos de captação estão se elevando, e a inadimplência está em alta, mesmo nas carteiras de baixo risco. Isso tem aumentado os gastos com provisões do banco”, disse a agência.

Na visão da Moody’s, se os gastos continuarem crescendo, o banco precisará de capital adicional, que poderia vir através de um aporte do governo, venda de ativos, algum tipo de afrouxamento regulatório ou redução no fluxo de pagamento de dividendos ao governo.

“Estimamos que o total necessário para cobrir as necessidades de capital da Caixa represente entre 0,2% e 1% das receitas anuais do governo ou entre 0,07% e 0,3% do PIB”, disse a agência.

Outro problema são os empréstimos e aportes que a Caixa e outros bancos públicos concederam a grandes empresas. A Caixa Econômica, o BNDES e o Banco do Brasil são credores em cerca de R$ 13 bilhões junto à Oi, empresa que entrou com pedido de recuperação judicial no mês passado.

A renegociação de dívidas no primeiro trimestre é outro sinal da deterioração da carteira do banco: “O aumento da renegociação de dívidas também reflete o crescimento desses riscos, com o total de renegociações no primeiro trimestre correspondendo a quase tudo que foi renegociado durante todo o ano de 2015”, disse a Moody’s.

Um bom caça-esqueletos deve também avaliar as contas da Funcef, que foi usada para os mais diversos fins nos últimos anos. É cedo para afirmar com tanta segurança que não há esqueletos nos armários da Caixa.