quinta-feira, 14 de julho de 2016

Busca de esqueletos - MÍRIAM LEITÃO


O GLOBO - 14/07

Caixa nega esqueletos, mas indícios são fortes. O presidente da Caixa, Gilberto Occhi, garantiu em entrevista a este jornal que “não existe aqui nenhum esqueleto para desmontar e tirar do armário”. Talvez seja o caso de Occhi pedir um mapa mais preciso do esqueletário. Bem procurando, pode encontrar, por exemplo, as decisões do ex-vice-presidente Fábio Cleto e a compra de um banco quebrado.

A Caixa nos últimos 13 anos foi usada intensamente para os objetivos políticos do grupo que estava no poder. Basta ver as pedaladas que, de tão abusivas, levaram a antiga diretoria a cobrar do governo. Ainda hoje existem tarifas não pagas ao banco.

Suspeitas de esqueletos rondam, por exemplo, as decisões tomadas pelo ex-vice-presidente Fábio Cleto, um dos delatores da Lava-Jato, cuja área abrangia loterias, fundos governamentais e FGTS. No dia primeiro de julho, a Procuradoria-Geral da República deflagrou a Operação Sépsis, em que investiga as denúncias de desvio e pagamento de propina nas operações financeiras do FI-FGTS. Antes que digam que isso não é Caixa, lembro que a CEF é a administradora única dos recursos do trabalhador depositados no Fundo de Garantia e é por isso que o vice-presidente Fábio Cleto tinha tanto poder de liberar as mais variadas e duvidosas operações de crédito. Uma delas, que está sob investigação, é a compra de debêntures, no valor de quase R$ 1 bilhão, da Eldorado, uma empresa da J&F, a holding da JBS. Houve várias outras operações estranhas, com o pagamento de propina, segundo Cleto.

Se o presidente da Caixa acha que, ainda assim, pode garantir que não há esqueleto nos armários da instituição que preside, deveria avaliar vários outros créditos concedidos a muitos empreendimentos, públicos e privados, nos últimos anos, em modalidades que não tinham o perfil da instituição.

Quem quiser achar esqueletos pode se debruçar sobre a operação de salvamento do banco Panamericano. Na época, o banco foi comprado pela Caixa sem que a due diligence percebesse que ele estava quebrado. Com empréstimos do Fundo Garantidor de Crédito e, depois, a prestimosa ajuda do BTG Pactual, o prejuízo da CEF foi sendo escondido. Mas o fato é que ela pagou para ser sócia de um banco falido.

No mercado, o que se comenta é que a qualidade da carteira de crédito da Caixa piorou muito nos últimos anos. O banco passou a atuar mais fortemente no crédito ao consumidor, uma área que não tem grande expertise. Em relatório divulgado no mês passado, a agência de classificação de risco Moody’s, por exemplo, rebaixou a nota da Caixa alegando queda da rentabilidade e aumento do crédito de risco.

“Os volumes de negócios estão diminuindo, os custos de captação estão se elevando, e a inadimplência está em alta, mesmo nas carteiras de baixo risco. Isso tem aumentado os gastos com provisões do banco”, disse a agência.

Na visão da Moody’s, se os gastos continuarem crescendo, o banco precisará de capital adicional, que poderia vir através de um aporte do governo, venda de ativos, algum tipo de afrouxamento regulatório ou redução no fluxo de pagamento de dividendos ao governo.

“Estimamos que o total necessário para cobrir as necessidades de capital da Caixa represente entre 0,2% e 1% das receitas anuais do governo ou entre 0,07% e 0,3% do PIB”, disse a agência.

Outro problema são os empréstimos e aportes que a Caixa e outros bancos públicos concederam a grandes empresas. A Caixa Econômica, o BNDES e o Banco do Brasil são credores em cerca de R$ 13 bilhões junto à Oi, empresa que entrou com pedido de recuperação judicial no mês passado.

A renegociação de dívidas no primeiro trimestre é outro sinal da deterioração da carteira do banco: “O aumento da renegociação de dívidas também reflete o crescimento desses riscos, com o total de renegociações no primeiro trimestre correspondendo a quase tudo que foi renegociado durante todo o ano de 2015”, disse a Moody’s.

Um bom caça-esqueletos deve também avaliar as contas da Funcef, que foi usada para os mais diversos fins nos últimos anos. É cedo para afirmar com tanta segurança que não há esqueletos nos armários da Caixa.

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