quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Sobre o bullying e a biologia do órgão excretor

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Hoje boa parte dos brasileiros escolhe seus representantes para os próximos quatro anos. Do ponto de vista do comportamento jovem e da saúde pública, algumas questões ganharam destaque no debate eleitoral, mas outras ficaram em segundo plano.
Se você ainda não foi às urnas, vale a pena pensar em como seus candidatos se posicionaram em relação a alguns desses temas durante a campanha ou, caso já tenha votado, é bom ficar atento para quais rumos esses pontos vão migrar nos próximos quatro anos.
A lista é grande: métodos contraceptivos mais efetivos na prevenção da gestação na adolescência (que ainda é da ordem de quase uma em cada cinco meninas engravidando antes dos 18 anos), discussão da legislação do aborto (hoje uma das principais causas de morte de mulheres jovens e pobres no País), atenção à saúde emocional (a depressão atinge quase 30% das garotas e o suicídio cresce entre os mais jovens no Brasil), o trabalho mais efetivo na prevenção do consumo precoce de álcool e outras drogas (e na associação do uso das diversas substâncias com comportamento de risco), além de uma postura mais ativa no controle do bullying nas escolas, talvez um dos motores mais fortes de violências, preconceitos e intolerância, principalmente na esfera sexual. Além disso, medidas de como garantir emprego e perspectiva para a população jovem e oferecer alternativas que diminuam a criminalidade, a campeã das mortes entre os garotos jovens.
Homofobia. Não há dúvida de que homofobia foi o tema que explodiu na semana passada. Em parte, em função da ausência de uma posição mais clara dos principais candidatos, que ficam em cima do muro para não se comprometer, os nanicos deitaram e rolaram. Em pleno século 21, soam como atrocidades as declarações contra os direitos igualitários para a população homossexual. Pior, isso impacta diretamente sua saúde e comportamento.
Quer alguns dados? Hoje temos um dos maiores índices de violência do mundo contra gays, lésbicas e transgêneros. Não bastasse isso, pela dificuldade em lidar com os setores mais conservadores do Legislativo, os governos têm tido dificuldade de pautar uma discussão e campanhas de saúde focadas nesse público. Assim, só para citar um exemplo, a prevalência do vírus HIV tem crescido de forma preocupante na população de homens jovens que fazem sexo com outros homens. Em algumas cidades, o índice de contaminação é de 10 a 20 vezes maior do que na população em geral. Não falta foco nessa abordagem? Não seria importante falar de prevenção de uma forma despida de preconceitos?
O bullying motivado pela orientação sexual diversa começa forte ainda na escola, que raramente tem se ocupado de forma séria e proativa para prevenir esse fenômeno.
Um estudo da Universidade do Missouri, publicado na semana passada no Journal of Child and Family Studies, mostra que uma intervenção mais estruturada no combate ao bullying surtiu efeito entre as garotas que gostam de falar mal dos outros. O método girlss (sigla em inglês para aprimorando relações interpessoais por meio de aprendizado e suporte sistêmico) merece uma avaliação cuidadosa pelas áreas de saúde e educação. Outro método estruturado que tem tido bons resultados no mundo desde 2007 é o finlandês KIVa, já comentado nesta coluna. Vale a pena checar! Desconstruir preconceitos é um trabalho fundamental na escola.
Excreção e excrescências. E só para corrigir, do ponto de vista biológico, o candidato mais equivocado sobre essa discussão: o aparelho excretor, de fato, na espécie humana, não reproduz. Quer dizer, se formos ser precisos, parte do sistema excretor reproduz, sim, uma vez que os órgãos do gênito-urinário são integrantes do nosso sistema excretor.
Além disso, já há milhares de gerações, provavelmente desde que nossos antepassados começaram a caminhar em pé, sobre dois membros, eles perceberam que o sexo não servia apenas para reprodução. Ele é feito entre os humanos, na maior parte das vezes, porque dá prazer e é bom. E prazer, cada um descobre o seu! O Estado não pode e não deve decidir sobre isso.
Mais: se a gente for pensar na proporção de pessoas que fazem sexo anal no mundo, pode apostar que a população homossexual, também nesse caso, é uma minoria.
O candidato ficaria de bigode em pé se soubesse a quantidade de heterossexuais que apreciam e apostam nessa modalidade, da mesma forma que praticam o sexo oral (outra possibilidade que, em nossa espécie, não resulta em reprodução).
É PSIQUIATRA

Defensoria Pública de SP ingressa com ação contra Levy Fidelix e seu partido por homofobia

A Defensoria Pública de SP, por meio de seu Núcleo Especializado de Combate a Discriminação, Racismo e Preconceito, ingressou ontem (7/10) com uma ação civil pública por danos morais contra Levy Fidelix e o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) em razão de manifestações homofóbicas proferidas durante debate entre os candidatos à Presidência da República.

Segundo a ação, houve clara manifestação de ódio e desprezo a um determinado grupo social, neste caso as pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT). “Este discurso de ódio é incompatível com o respeito à dignidade da pessoa humana, não só da pessoa, individualmente considerada, mas da dignidade de uma coletividade”, diz o texto.

A ação solicita que Levy Fidelix e seu partido arquem com os custos da produção de um programa que promova os direitos da população LGBT, com a mesma duração de sua fala e na mesma faixa de horário da programação. Além disso, requer a reparação do dano moral coletivo através do pagamento de 1 milhão de reais a serem revertidos em ações de promoção da igualdade da população LGBT, conforme definição do Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT. Exige, por fim, a fixação de pena de multa diária no valor de 500 mil reais por cada descumprimento da ordem judicial.

No dia seguinte às declarações do candidato, o Núcleo de Combate a Discriminação, Racismo e Preconceito recebeu uma série de denúncias, através do serviço disque-100, de pessoas que se sentiram discriminadas e agredidas psicologicamente por Levy Fidelix. Mais de 6,8 mil notificações e pedidos de providência ainda chegaram ao Núcleo encaminhadas pela Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, órgão vinculado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

“A fala do candidato nitidamente ultrapassou os limites da liberdade de expressão para incidir em absurdo discurso de ódio, especialmente nos últimos trechos que incitam a maioria da população a ‘enfrentar’ a minoria LGBT e sugerem que essa população precisa ser tratada e segregada. Mais grave ainda é o dano moral ao verificarmos que ele compara pejorativamente a população LGBT a pedófilos”, afirmou a Defensoria Pública Coordenadora do Núcleo, Vanessa Alves Vieira. Para ela, “a externalização do preconceito, em especial por um meio de comunicação com ampla repercussão como a televisão, perpetua o tratamento discriminatório e pode produzir efeitos nocivos, como violações a direitos fundamentais e atos de violência”.

Levy Fidelix concorreu à Presidência da República no primeiro turno das eleições, realizado no último dia 5/10, pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), agremiação que preside nacionalmente. Suas declarações de cunho homofóbico e discriminatório mencionadas na ação ocorreram no dia 28/9 em debate televiso entre candidatos à Presidência e foram reiteradas em outro debate televisionado no dia 2/10, além de veiculadas em sua página em rede social.



Outdoor homofóbico

No dia 2/9, sentença obtida pela Defensoria Pública confirmou decisão liminar que havia proibido a Casa de Oração de Ribeirão Preto de publicar mensagens similares à que publicara em outdoor em 2011, considerada homofóbica. A decisão foi proferida pela 6ª Vara Cível de Ribeirão Preto, em ação civil pública ajuizada pelos Defensores Públicos Victor Hugo Albernaz Junior e Aluísio Iunes Monti Ruggeri Ré.

O outdoor continha três citações bíblicas, destacando-se trecho do livro de Levítico: “se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável...”. A mensagem foi colocada poucos dias antes da 7ª Parada do Orgulho LGBTT na cidade, que ocorreu em 21/8/2011.

“Ante a tais fatos, é ainda mais difícil vislumbrar o mero regular exercício da liberdade de expressão e de crença. A requerida visava comunicar-se diretamente com indivíduos homossexuais, e passar, como já visto, uma mensagem de verdadeira repulsa. E mais: visa, através dessas mensagens homofóbicas, doutrinar, como se donos da verdade fossem, impondo uma orientação sexual ‘natural’ e ‘não pecaminosa’. Sob esse prisma, não há outra maneira de taxar a atitude perpetrada pela requerida se não como intolerante, preconceituosa, e odiosa”, afirmou a Juíza Ana Paula Franchito Cypriano em sua decisão.

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Mais informações

Fabrício Bueno Viana - Defensor Público Coordenador de Comunicação
Paula Paulenas
Maurício Martins
Fábio Freitas
Pedro Lucas Santos

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terça-feira, 7 de outubro de 2014

Por que Alckmin não conseguiu conquistar Hortolândia


Postado em 7 de outubro de 2014 às 8:55 am

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Dos 645 municípios do estado de São Paulo, apenas um não deu o trunfo para Geraldo Alckmin (PSDB) entrar para a história como o governador que conseguiu ser reeleito em todo o território paulista.
Em Hortolândia, cidade na região de Campinas, o candidato tucano ficou em segundo lugar na corrida eleitoral com 34,88% dos votos válidos contra os 38,6% conquistados pelo petista Alexandre Padilha – que, na apuração estadual, ficou em terceiro lugar.
Ele, contudo, não foi o único candidato do PT a liderar a disputa na cidade. Eduardo Suplicy, derrotado por José Serra (PSDB) na luta por uma vaga no Senado, abocanhou 58,4% dos votos válidos de Hortolândia.
A advogada Ana Perugini, que acaba de ser eleita deputada federal pelo PT, pode ser uma das responsáveis pelo fenômeno, segundo análise de Wagner Romão, professor de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Sozinha, Ana arrebanhou 50,2% dos votos válidos na cidade – o que rende 48.555 votos. O marido dela teve resultado semelhante na disputa por uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado. Apesar de ter sua candidatura barrada, Angelo Perugini ficou com 47.918 dos votos na cidade. Ele ainda recorre da decisão.
Por dois mandatos seguidos (de 2004 a 2012), Perugini foi prefeito da cidade. No último pleito municipal, conseguiu manter a tradição petista no município com a eleição de Antônio Meira, seu herdeiro político.
Já Ana foi vereadora em 2004 e eleita deputada estadual em 2006 e 2010. “Quando você tem um candidato muito forte em uma disputa local, ele atua como espécie de ímã que atrai votos para quem está junto dele no santinho”, afirma Romão.
Os resultados das urnas na cidade comprovam esta hipótese.
Com 212 mil habitantes, segundo dados do IBGE, Hortolândia abriga empresas como a IBM e tem um índice de desenvolvimento humano de 0,756 – faixa considerada alta pela ONU.
Saiba Mais: exame

‘Estou desolada com São Paulo e preocupada com o Brasil’, diz historiadora

O resultado da eleição no estado de São Paulo deve provocar uma reflexão de âmbito geral, sobre a vitória de Geraldo Alckmin. E em particular, no âmbito do PT, principal partido de oposição no estado, sobre o desempeno do candidato Alexandre Padilha. A avaliação é da cientista política e historiadora Maria Victória Benevides, professora aposentada da USP, que se disse “desolada e perplexa”.
“Estou desolada com São Paulo e preocupada com o Brasil”, resumiu.
A professora se diz intrigada com alguns resultados vistos pelo país, como a vitória do PSDB em São Paulo. “Se aqui foi um dos lugares do país onde mais se protestou no ano passado contra a corrupção e a falta de qualidade nos serviços públicos, como entender? Crise de água, crise de segurança, de saúde e educação de péssima qualidade, serviços péssimos”, enumera.
Durante algum tempo, como ela observa, se dizia que a classe política parecia não ter entendido os recados das ruas. “Agora me parece que tampouco as ruas entenderam o recados das ruas”, ironiza.
“Se fosse a indignação com a corrupção o problema, não teria sido o PT a principal vítima dos protestos, como acabou sendo. Em parte graças aos meios de comunicação, em parte à despolitização dos movimentos, que foram importantes, sobrou para Dilma, e sobrou para o Haddad, e só”, constata.
“O que diferencia Alckmin de Paulo Maluf quando ele se refere ao assunto segurança pública? Nada. É o mesmo discurso e a mesma prática da ditadura, que sufoca o conceito de direitos humanos, desloca o seu sentido de acesso a educação, moradia digna, acesso a empregos, para uma rotulação torta de que defender direitos humanos é defender bandido”, avalia.
Mas o mais grave, em sua opinião, foi a postura do PT em relação à candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha. “Padilha teve um comportamento excepcional, mostrou que não é liderança política de se ressentir e tocou com seriedade e fidelidade sua campanha. O resultado surpreendente no final de votação, comparado com desempenho supostamente fraco nas pesquisas, revela o abandono a que foi submetida sua campanha. Foi uma irresponsabilidade do partido”, afirma a historiadora.
No plano nacional, a professora pretende avaliar nos próximos dias como irá de comportar o eleitorado de Marina Silva. “Vamos ver de que tamanho era o contingente de antipetistas que apostaram em sua candidatura, e se a maioria deles já bandeou para o lado do Aécio Neves já no primeiro turno, já que ele recebeu uma votação acima da esperada. Agora, tem o pessoal mais ligado a suas origens de esquerda, o ambientalismo, vamos ver para que lado irá”, diz
“O fato é que está dada mais uma vez a mesma polarização PT-PSDB dos últimos 20 anos. A diferença é que agora há uma candidato mais jovem, de fora de São Paulo, bem-sucedido em seu estado”, lembra Maria Victória.
Saiba Mais: rba