O resultado da eleição no estado de São Paulo deve provocar uma reflexão de âmbito geral, sobre a vitória de Geraldo Alckmin. E em particular, no âmbito do PT, principal partido de oposição no estado, sobre o desempeno do candidato Alexandre Padilha. A avaliação é da cientista política e historiadora Maria Victória Benevides, professora aposentada da USP, que se disse “desolada e perplexa”.
“Estou desolada com São Paulo e preocupada com o Brasil”, resumiu.
A professora se diz intrigada com alguns resultados vistos pelo país, como a vitória do PSDB em São Paulo. “Se aqui foi um dos lugares do país onde mais se protestou no ano passado contra a corrupção e a falta de qualidade nos serviços públicos, como entender? Crise de água, crise de segurança, de saúde e educação de péssima qualidade, serviços péssimos”, enumera.
Durante algum tempo, como ela observa, se dizia que a classe política parecia não ter entendido os recados das ruas. “Agora me parece que tampouco as ruas entenderam o recados das ruas”, ironiza.
“Se fosse a indignação com a corrupção o problema, não teria sido o PT a principal vítima dos protestos, como acabou sendo. Em parte graças aos meios de comunicação, em parte à despolitização dos movimentos, que foram importantes, sobrou para Dilma, e sobrou para o Haddad, e só”, constata.
“O que diferencia Alckmin de Paulo Maluf quando ele se refere ao assunto segurança pública? Nada. É o mesmo discurso e a mesma prática da ditadura, que sufoca o conceito de direitos humanos, desloca o seu sentido de acesso a educação, moradia digna, acesso a empregos, para uma rotulação torta de que defender direitos humanos é defender bandido”, avalia.
Mas o mais grave, em sua opinião, foi a postura do PT em relação à candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha. “Padilha teve um comportamento excepcional, mostrou que não é liderança política de se ressentir e tocou com seriedade e fidelidade sua campanha. O resultado surpreendente no final de votação, comparado com desempenho supostamente fraco nas pesquisas, revela o abandono a que foi submetida sua campanha. Foi uma irresponsabilidade do partido”, afirma a historiadora.
No plano nacional, a professora pretende avaliar nos próximos dias como irá de comportar o eleitorado de Marina Silva. “Vamos ver de que tamanho era o contingente de antipetistas que apostaram em sua candidatura, e se a maioria deles já bandeou para o lado do Aécio Neves já no primeiro turno, já que ele recebeu uma votação acima da esperada. Agora, tem o pessoal mais ligado a suas origens de esquerda, o ambientalismo, vamos ver para que lado irá”, diz
“O fato é que está dada mais uma vez a mesma polarização PT-PSDB dos últimos 20 anos. A diferença é que agora há uma candidato mais jovem, de fora de São Paulo, bem-sucedido em seu estado”, lembra Maria Victória.
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