quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A falsa dicotomia entre política e gestão




O amadurecimento político do país é um desafio enorme. Desde o século 19 o país vivia uma dicotomia: aprovava leis de países avançados, que não pegavam ou porque a realidade econômica era outra ou porque a cabeça das pessoas não assimilavam o novo.
Foi por isso que adotou uma lei do Imposto de Renda em uma época em que nem renda havia, a não ser a dos aluguéis.
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Digo isso a propósito da polarização entre política e gestão, como se ambas fossem incompatíveis entre si. O tecnocrata tende a considerar toda forma de participação popular como prejudicial à racionalidade dos projetos; o político tende a achar que toda forma de gestão é inibidora da participação popular.
Ferramentas de gestão não tem ideologia. Serviram para alavancar os planos Quinquenais da Rússia, o programa espacial dos Estados Unidos, os Planos de Meta de Juscelino. Foram relevantes para organizar as ações do Bolsa Família, do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), das ações públicas em Pernambuco e Minas Gerais.
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A questão central é quando o gestor, julgando-se dono de conhecimento superior, tenta impor de cima para baixo suas ideias, capturando a política. É esse o problema: o gestor (que é meio) tentar substituir a vontade política.
Tome-se as formas de avaliação das empresas que concorrem ao Prêmio Nacional de Qualidade. Dentre os quesitos, há desde os indicadores financeiros, de desempenho, até os públicos interno (funcionários) e externo (consumidores e opinião pública), visão estratégica, sustentabilidade etc.
No atual estágio da democracia brasileira, há dois anacronismos a serem superados: 1. A ideia de que é possível montar programas de gestão sem ouvir a sociedade; 2. A ideia de que será possível ouvir a sociedade sem organizar suas demandas em programas de gestão.
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Nos últimos anos, houve um excepcional avanço da sociedade civil, com a materialização de um conjunto de organizações previstas na Constituição de 1988. Essa construção federativa tomou por base a estrutura do SUS (Sistema Único de Saúde). Nela, há conselhos municipais de saúde, que se reúnem em conselhos estaduais que, por sua vez, participam do conselho nacional, dentro de uma estrutura tripartite.
Ainda está longe da perfeição, mas é o modelo ideal para um país desigual e continental como o Brasil. As conferências municipais deveriam trazer a realidade local. Nas conferências estaduais, encontrar-se-iam os pontos, problemas e soluções em comum. Depois, na conferência nacional, se definiriam regras aplicáveis a todas as instâncias estaduais e municipais.
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Todos esses pontos fortalecem ainda mais a ideia da gestão como ferramenta da política – não como substituta.
Com o avanço das redes sociais esse processo participativo se tornará mais e mais relevante. E o grande desafio consistirá em compatibilizar demandas específicas com planejamentos gerais.
Mais que isso, quando – a exemplo do Nossa São Paulo – organizações sociais passarem a acompanhar e a cobrar as promessas de campanha. O que só será possível com a definição de indicadores e metas. E planos de gestão que as tornem factíveis.

Cientistas programam genes de bactéria para produzir biocombustível


Uma humilde bactéria de solo chamada Ralstonia eutropha tem uma tendência natural, quando estressada, de parar de crescer e colocar toda sua energia na produção de complexos compostos de carbono. Agora, cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) ensinaram a este micróbio um novo truque – mexeram com seus genes para persuadí-lo a fazer combustível: especificamente um tipo de álcool chamado isobutanol, que pode diretamente substituir a gasolina, ou ser adicionado a ela.

Christopher Brigham, pesquisador do departamento de biologia do MIT, que vem trabalhando para desenvolver esta bactéria com bioengenharia, está atualmente tentando fazer com que o organismo use dióxido de carbono como sua fonte de carbono – assim, ele poderia ser utilizado na produção de combustível a partir de emissões. Brigham é co-autor da pesquisa publicada este mês no Applied Microbiology and Biotechnology.

O cientista explica que, em seu estado natural, quando a fonte de nutrientes essencial do micróbio (como nitrato e fosfato) é restrita, “ele entra em um modo de armazenagem de carbono”, essencialmente armazenando alimento para uso posterior, quando percebe que os recursos estão limitados.

“O que ele faz é apanhar qualquer carbono disponível e o armazena na forma de um polímero, semelhante em suas propriedades ao plástico produzido de petróleo,” afirma. Ao tirar alguns genes, colocar um gene de outro organismo e alterar a expressão de outros genes, Brigham e seus colegas conseguiram redirecionar o micróbio a produzir combustível em vez de plástico.

A equipe está focada em fazer com que o micróbio use CO2 como fonte de carbono, mas com modificações ligeiramente diferentes o mesmo micróbio pode potencialmente transformar quase qualquer fonte em carbono, incluindo lixo. No laboratório, os organismos estão usando frutose como fonte.

“Nós mostramos que, em cultura contínua, conseguimos quantidades substanciais de isobutanol,” diz Brigham. Agora, os pesquisadores estão focando em maneiras de otimizar o sistema para aumentar a taxa de produção e desenhar bio-reatores que levem o processo a uma escala industrial.

Diferentemente de alguns sistemas de bioengenharia nos quais micróbios produzem uma substância química desejada dentro de seus corpos, mas têm de ser destruídos para a retirada do produto, a R. eutropha expele natutalmente o isobutanol no fluido circundante, onde ele pode ser continuamente filtrado sem que seja preciso parar o processo de produção. “Não temos de adicionar um sistema de transporte para tirá-lo da célula,” diz Brigham.

Diversos grupos de pesquisa estão estudando a produção de isobutanol através de diversos caminhos, incluindo outros organismos geneticamente modificados. Pelo menos duas companhias estão já orientado-os à produção de combustível, aditivos ou matérias-primas para produtos químicos. O isobutanol pode ser usado em motores atuais com pouca ou nenhuma modificação – tem sido usado, na verdade, em carros de corrida, informa o Renewable Energy World.
Fonte: Veja
Publicada em: 5/9/2012 08:20:02

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

É a política, Serra!, por Demétrio Magnoli


Uma lenda urbana atribui ao jornalista Gilberto Dimenstein a queda livre de José Serra nas pesquisas de intenção de voto para a Prefeitura de São Paulo. O pretenso culpado deve gostar da fama produzida por tal interpretação. Contudo, ela é falsa. O desencanto com o candidato não deriva da ruptura de um compromisso fajuto assinado num papelucho, durante a campanha eleitoral municipal de 2004, mas da ruptura de um compromisso verdadeiro firmado com os eleitores paulistanos nas campanhas estadual de 2006 e presidencial de 2010.
O dever profissional dos jornalistas é noticiar e interpretar os fatos. Alguns, porém, operam em frente dupla, atuando como jornalistas militantes e criando os próprios fatos políticos. Dessa distorção do jornalismo nasceu a iniciativa de Dimenstein de solicitar publicamente, em 2004, que Serra assinasse o papelucho no qual prometia cumprir integralmente o mandato de prefeito. O candidato, sem alternativa face às circunstâncias de uma campanha eleitoral, assinou a declaração de intenção. Dois anos mais tarde, entregou o cargo de prefeito ao vice, Gilberto Kassab, e candidatou-se ao governo do Estado. Hoje, os "serristas" plantam o diagnóstico de que a "maldição de Dimenstein" assombra o candidato. A explicação, tão simples quanto errada, cumpre a função de ocultar o fundo político do problema.
O PT ergueu o papelucho como uma lança contra Serra nas eleições de 2006 e 2010, fracassando duas vezes. Serra foi eleito governador com os votos da maioria dos eleitores da capital paulista e, depois, bateu Dilma Rousseff na cidade de São Paulo. Os eleitores revelaram compreender a natureza da política na democracia. Aceitaram o "contrato" proposto pelo prefeito, que não é um funcionário burocrático, um gerente ou um síndico, mas um líder político. No "contrato", acordava-se que o vice-prefeito Gilberto Kassab representaria a continuidade da gestão municipal e que Serra representaria a oposição ao governo federal nos voos mais altos rumo ao Bandeirantes e ao Planalto. A mensagem - correta! - dos eleitores é que esse contrato foi fraudado, nas suas duas cláusulas.
Cláusula um: Kassab, a continuidade. O prefeito realiza uma administração medíocre, mas a rejeição do eleitorado explodiu na hora em que resolveu inventar o PSD - um partido que, nas suas curiosas definições negativas, não seria "de direita, de esquerda, nem de centro", e também não marcharia com a oposição ou a situação pois, "em relação ao governo federal, nossa posição será de independência". O partido de Kassab, todos entenderam, é um segundo PMDB: uma reunião ecumênica de oportunistas ou, mais claramente, um balcão de negócios no varejo e no atacado. Serra e, depois, Kassab, venceram as eleições municipais em disputas contra Marta Suplicy, do PT. A declaração de "independência" de Kassab foi interpretada pelos eleitores como a traição do "contrato" assumido em 2004 e renovado em 2008. Mas o prefeito, ungido originalmente por Serra, continua a figurar como seu aliado político. A aventura kassabista do PSD pesa contra Serra. Alguém aí acha que os eleitores estão errados?
Cláusula dois: Serra, o oposicionista. A aversão registrada pelas pesquisas atuais ao candidato tucano tem suas raízes na campanha presidencial de 2010, quando Serra renunciou ao dever de falar de política. Quando sufragaram majoritariamente seu nome, os paulistanos já agiam movidos pela inércia derivada da carência de alternativa. Ninguém esquecera que o tucano inaugurou o horário eleitoral obrigatório associando fraudulentamente sua imagem à de Lula. Nem que sua campanha, no lugar da crítica política ao governo e da oferta de um rumo diferente, preferiu estabelecer um "concurso de beleza" entre os candidatos, operando nos registros da "experiência" e da "capacidade administrativa" do tucano.
Serra não apenas perdeu eleitoralmente, uma contingência normal na democracia, mas faliu politicamente, recusando-se a representar o eleitorado de oposição. No dia da derrota, evidenciando aguda arritmia política, substituiu os devidos cumprimentos à candidata vitoriosa por um discurso patético de conclamação à "resistência" na "trincheira democrática". Depois, jamais apresentou à opinião pública um balanço da derrocada, escolhendo o caminho da autoilusão. Seu marqueteiro de 2010 conduz a atual campanha à Prefeitura, uma escolha que deveria integrar as novas edições das enciclopédias de filosofia como ilustração do verbete hubris, palavra de origem grega que reúne as ideias de orgulho e arrogância, em grau próximo à desconexão com a realidade.
Há algo de triste, quase trágico, em tudo isso. Serra possui qualidades admiráveis, que se destacam sobre uma paisagem política dominada por espertalhões, salafrários e bandidos. Ele mesmo, contudo, cuidou de ocultá-las minuciosamente, acendendo apenas os holofotes que iluminam a sua hubris. Azar dele, talvez. Mas todos nós, inclusive seus adversários políticos honestos, perdemos alguma coisa.