segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Brasil está perto de ser maior o player mundial de alimentos, diz ministro da Agricultura

Wagner Rossi disse que, dado o crescimento demográfico global, os alimentos ganharão cada vez mais destaque nas comercializações
Venilson Ferreira, da Agência Estado  

CUIABÁ - O Brasil tem condições de se tornar, em um futuro breve, o maior player mundial no setor de alimentos, na avaliação do ministro da Agricultura, Wagner Rossi. "Já estamos perto disso", disse a jornalistas após participar das comemorações dos 150 anos do Ministério da Agricultura. Rossi acredita que, dado o crescimento demográfico global, os alimentos ganharão cada vez mais destaque nas comercializações. "Nada será mais importante que os alimentos. E o Brasil é o maior produtor de alimentos no mundo", disse.
Durante seu discurso, o ministro salientou que 42% das exportações brasileiras são do setor agrícola ou pecuário. Além disso, comentou que agricultores e pecuaristas conseguiram se desvencilhar dos impactos da crise financeira internacional com rapidez e de "cabeça erguida". Ele também comentou a respeito da expectativa de produção recorde de grãos este ano, sobre a importância do meio ambiente e da necessidade de plantio de florestas no País, prática que foi vista inicialmente com preconceito por alguns produtores.
Rossi, que foi um dos poucos ministros indicados politicamente para assumir uma pasta quando os titulares se desvincularam para concorrer às eleições de outubro, foi só elogios ao presidente Lula. Segundo ele, o presidente tem origem urbana, mas sensibilidade para questões de agricultura e pecuária. "Lula foi o presidente que mais apoiou a Agricultura", disse, arrancando aplausos de funcionários e demais presentes à celebração.
O ministro brincou ainda com a comemoração dos 150 anos do Ministério dizendo que a agricultura já estava mencionada na certidão de nascimento do Brasil. Ele citou que, na carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, após o descobrimento, havia a famosa frase: "Nesta terra, em se plantando tudo dá".
Wagner Rossi disse também que apenas um seguro rural que garantisse inclusive os lucros cessantes poderia resolver o problema de queda de renda na agricultura brasileira, provocada pela globalização dos mercados.
Ele reconheceu que o atual sistema de crédito rural e de apoio à comercialização não é perfeito, pois cobre apenas os custos variáveis, os desembolsos feitos pelos agricultores no plantio de cada safra, sem remunerar a terra, o capital e o garantir lucro.
Rossi observa que a política agrícola é importante porque evita "desastres homéricos" que poderiam ocorrer no caso de uma adversidade climática catastrófica ou de preços baixos, pois estes fatores não podem ser controlados. A limitação para a expansão do seguro é o custo bastante elevado da operação. "O governo tem conseguido subsidiar parte do pagamento do seguro, mas uma parcela muito pequena tem acesso ao benefício", diz ele.
Em relação ao endividamento agrícola, que ultrapassa R$ 100 bilhões, o ministro Wagner Rossi lembrou que esta é uma questão estrutural, decorrente dos planos econômicos e da manipulação de preços pelos países desenvolvidos. Ele afirmou que tem sensibilidade para reconhecer as dificuldades enfrentadas pelos agricultores, mas disse não ser possível resolver o problema até o fim do atual governo. Na opinião do ministro, o problema do endividamento deve ser encaminhado pelo próximo governo, com um programa de quatro a oito anos, para depois a agricultura entrar no regime de mercado.
Hoje o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento comemora 150 anos. Entre outras homenagens, haverá a entrega da medalha do sesquicentenário por Rossi a ex-ministros da Pasta, representantes do agronegócio, instituições de pesquisa e ensino rural. A cerimônia está marcada para as 15h30, no Clube do Exército, em Brasília, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião será lançado, também, o Selo Comemorativo dos 150 Anos Ministério da Agricultura.

Lula prevê que Brasil exportará fertilizantes em 5 anos



CÉLIA FROUFE  Agencia Estado

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje que o Brasil deve passar de importador para exportador de fertilizantes em cinco anos. "Sempre disse que a Petrobras tinha que entrar na área de fertilizante. Se o Brasil importa hoje 80% de fertilizantes, em cinco anos vamos importar muito pouco ou já estar exportando um pouco", previu. Ele fez a afirmação durante cerimônia de comemoração dos 150 anos dos ministérios da Agricultura e dos Transportes.
Lula afirmou que isso será possível porque nesse período já haverá retorno das empresas brasileiras que estão produzindo em países vizinhos, como Argentina e Peru. "Essa era uma coisa que todo mundo sabia que era preciso. Não fui eu que inventei", disse.
Para o presidente, as coisas "estão acontecendo" no setor da agricultura e pecuária. Em grande parte, de acordo com ele, o resultado das vendas brasileiras ao exterior deve-se ao resultado comercial de suas viagens internacionais. "Sou o único presidente do mundo que não tem vergonha de vender biodiesel, cana, avião da Embraer, aquilo que o Brasil tem", citou.
Lula disse ainda que o Brasil é um país de destaque hoje no cenário internacional. "É só olhar o mapa do mundo que percebemos que o Brasil não tem nenhuma preocupação em competir com quer que seja", disse. "Estamos encontrando ponto de equilíbrio neste país. Vamos seguir em frente, pois não tem mais como a gente retornar", acrescentou.

Vai Pegar?

domingo, 1 de agosto de 2010 20:40


Cleide Silva, de O Estado de S. Paulo 
 Criada em 2001 por um advogado, a Obvio!, agora nas mãos de um fundo europeu, renasce como o primeiro projeto de carro elétrico no País 
SÃO PAULO - Inviável após perder seu fornecedor exclusivo de motores, que encerrou as atividades há três anos, a Obvio!, criada em 2001 no Rio de Janeiro para produzir minicarros, quase engrossou a lista de 112 montadoras de veículos que já fecharam as portas no Brasil, algumas antes mesmo de partir para a produção em série.
A empresa renasceu há duas semanas ao ser adquirida pelo grupo europeu de investimentos Cappadocia, que quer fazer da Obvio! sua base de produção de peças e de veículos elétricos para o Brasil e a América do Sul.
Ricardo Machado, fundador da Obvio! (foto: Paulo Vitor/AE)
O Cappadocia Investments, com sede na Inglaterra, foi fundado há sete anos e atua em mercados emergentes, com ênfase em projetos de fundo ambiental. O grupo tem R$ 300 milhões para a primeira etapa de um projeto que inclui, além da Obvio! - pela qual desembolsou R$ 14 milhões -, a compra total ou parcial de ações de outras empresas de transporte elétrico ou híbrido, como a gaúcha Tutto Trasporti.
A decisão do grupo inglês de criar a Cappadocia Funds Brazil é fruto da obstinação do advogado Ricardo Machado, hoje com 50 anos. Ele é o idealizador da Obvio!, que tem dois modelos de carros compactos desenvolvidos no Brasil, o 828 e o 012, que serão reeditados em versões elétrica e híbrida, tendo o etanol como gerador de energia.
O projeto surge num momento em que montadoras do mundo todo buscam uma tecnologia viável para iniciar as vendas em grande escala de veículos movidos a eletricidade, com emissão zero de poluentes. Uma das parceiras da Obvio! é a Tesla, empresa americana que desenvolve veículos elétricos e que teve grande sucesso ao lançar ações no mercado.
Parte interna do protótipo do carro elétrico (foto: Paulo Vitor/AE)
Périplo. Antes de vender a Obvio!, Machado enfrentou um périplo para tornar o negócio viável, além de acumular prejuízos de cerca de R$ 10 milhões. A empresa foi fundada depois que o empresário adquiriu, em 2001, um carrinho feito pelo premiado designer Anísio Campos, criador do DKW Puma. O modelo era o 828 Dacon, desenhado por Campos nos anos 80 por encomenda do grupo Dacon, dono de concessionárias Volkswagen e Porsche. Foram produzidas apenas 47 unidades, de forma artesanal, antes de o negócio fracassar.
"Quando saio com o carro, todo mundo olha e quer saber de onde veio, pois muitos acham que é japonês", conta Machado. Capitalizado por ter fechado um grande negócio na área imobiliária, procurou Campos para reproduzir o minicarro. Paralelamente, saiu em busca de fornecedores e de investidores no País.
Machado falou com 40 investidores. Nenhum confiou no projeto. "Percebi que havia no País uma síndrome de Gurgel, uma ideia fixa de que brasileiro não sabe fazer automóveis", diz. "Entendi que, para fazer um projeto de automóvel no Brasil tem de ter entusiasmo, otimismo, perseverança, persistência, paciência e obstinação implacáveis".
Com um protótipo montado no ABC paulista, Machado participou nos EUA de sete salões de automóveis voltados às tecnologias limpas. Em um deles, conheceu executivos da ZAP (Zero Air Pollution), que adquiriu 20% das ações da Obvio!, um investimento de US$ 2 milhões (o equivalente a R$ 3,6 milhões). A ZAP encomendou 50 mil unidades, algumas delas com sistema elétrico, que nunca foram entregues.
A fornecedora exclusiva dos motores, a Tritec, joint venture da Chrysler e da BMW no Paraná, fechou as portas em 2007, deixando Machado na mão. Ainda corre na Justiça uma ação de indenização contra a empresa por quebra de contrato. A Tritec forneceria motores 1.6 para o 828 e o 012, similar ao que vendia para o Mini Cooper, da BMW.
Com dívidas para sanar junto à ZAP e a fornecedores, Machado vendeu a Obvio! no ano passado para a Vrooom, formada por executivos do setor elétrico. No dia 21, a empresa mudou de dono novamente ao ser incorporada pelo Cappadocia, que contratou Machado para presidir a subsidiária do fundo no País.