segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Vai Pegar?

domingo, 1 de agosto de 2010 20:40


Cleide Silva, de O Estado de S. Paulo 
 Criada em 2001 por um advogado, a Obvio!, agora nas mãos de um fundo europeu, renasce como o primeiro projeto de carro elétrico no País 
SÃO PAULO - Inviável após perder seu fornecedor exclusivo de motores, que encerrou as atividades há três anos, a Obvio!, criada em 2001 no Rio de Janeiro para produzir minicarros, quase engrossou a lista de 112 montadoras de veículos que já fecharam as portas no Brasil, algumas antes mesmo de partir para a produção em série.
A empresa renasceu há duas semanas ao ser adquirida pelo grupo europeu de investimentos Cappadocia, que quer fazer da Obvio! sua base de produção de peças e de veículos elétricos para o Brasil e a América do Sul.
Ricardo Machado, fundador da Obvio! (foto: Paulo Vitor/AE)
O Cappadocia Investments, com sede na Inglaterra, foi fundado há sete anos e atua em mercados emergentes, com ênfase em projetos de fundo ambiental. O grupo tem R$ 300 milhões para a primeira etapa de um projeto que inclui, além da Obvio! - pela qual desembolsou R$ 14 milhões -, a compra total ou parcial de ações de outras empresas de transporte elétrico ou híbrido, como a gaúcha Tutto Trasporti.
A decisão do grupo inglês de criar a Cappadocia Funds Brazil é fruto da obstinação do advogado Ricardo Machado, hoje com 50 anos. Ele é o idealizador da Obvio!, que tem dois modelos de carros compactos desenvolvidos no Brasil, o 828 e o 012, que serão reeditados em versões elétrica e híbrida, tendo o etanol como gerador de energia.
O projeto surge num momento em que montadoras do mundo todo buscam uma tecnologia viável para iniciar as vendas em grande escala de veículos movidos a eletricidade, com emissão zero de poluentes. Uma das parceiras da Obvio! é a Tesla, empresa americana que desenvolve veículos elétricos e que teve grande sucesso ao lançar ações no mercado.
Parte interna do protótipo do carro elétrico (foto: Paulo Vitor/AE)
Périplo. Antes de vender a Obvio!, Machado enfrentou um périplo para tornar o negócio viável, além de acumular prejuízos de cerca de R$ 10 milhões. A empresa foi fundada depois que o empresário adquiriu, em 2001, um carrinho feito pelo premiado designer Anísio Campos, criador do DKW Puma. O modelo era o 828 Dacon, desenhado por Campos nos anos 80 por encomenda do grupo Dacon, dono de concessionárias Volkswagen e Porsche. Foram produzidas apenas 47 unidades, de forma artesanal, antes de o negócio fracassar.
"Quando saio com o carro, todo mundo olha e quer saber de onde veio, pois muitos acham que é japonês", conta Machado. Capitalizado por ter fechado um grande negócio na área imobiliária, procurou Campos para reproduzir o minicarro. Paralelamente, saiu em busca de fornecedores e de investidores no País.
Machado falou com 40 investidores. Nenhum confiou no projeto. "Percebi que havia no País uma síndrome de Gurgel, uma ideia fixa de que brasileiro não sabe fazer automóveis", diz. "Entendi que, para fazer um projeto de automóvel no Brasil tem de ter entusiasmo, otimismo, perseverança, persistência, paciência e obstinação implacáveis".
Com um protótipo montado no ABC paulista, Machado participou nos EUA de sete salões de automóveis voltados às tecnologias limpas. Em um deles, conheceu executivos da ZAP (Zero Air Pollution), que adquiriu 20% das ações da Obvio!, um investimento de US$ 2 milhões (o equivalente a R$ 3,6 milhões). A ZAP encomendou 50 mil unidades, algumas delas com sistema elétrico, que nunca foram entregues.
A fornecedora exclusiva dos motores, a Tritec, joint venture da Chrysler e da BMW no Paraná, fechou as portas em 2007, deixando Machado na mão. Ainda corre na Justiça uma ação de indenização contra a empresa por quebra de contrato. A Tritec forneceria motores 1.6 para o 828 e o 012, similar ao que vendia para o Mini Cooper, da BMW.
Com dívidas para sanar junto à ZAP e a fornecedores, Machado vendeu a Obvio! no ano passado para a Vrooom, formada por executivos do setor elétrico. No dia 21, a empresa mudou de dono novamente ao ser incorporada pelo Cappadocia, que contratou Machado para presidir a subsidiária do fundo no País.

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