No dia 24 de julho de 2005, o jovem deputado estadual Flávio Bolsonaro pendurou no pescoço do tenente PM Adriano da Nóbrega a Medalha Tiradentes, a maior honraria do Legislativo do Rio. A cerimônia não se deu numa sessão solene no Salão Nobre do Palácio Tiradentes, mas numa sala do Batalhão Prisional, em Benfica, zona norte da cidade, onde o agraciado estava preso pela tortura e execução, em 2003, de um guardador de carros.
A cerimônia era o de menos, o importante era a medalha. Ela seria usada pelos advogados de Adriano para inocentá-lo do crime e evitar sua expulsão da PM. E não ficou nisto. Em Brasília, o deputado federal Jair Bolsonaro, numa rara intervenção ao microfone da Câmara, usou o plenário para defender Adriano: "Um rapaz de 20 e poucos anos, coitado, sem dinheiro para sustentar a família, acusado para atender aos interesses da Anistia Internacional!". Não adiantou: Adriano foi condenado a 19 anos.
Libertado em previsíveis dois anos, o rapaz, coitado, tornou-se um dos mentores do Escritório do Crime, organização de matadores saídos da PM carioca. Isso não impediu que sua mulher e sua mãe fossem contratadas por Flávio como "assessoras". Entre os 20 crimes do Escritório, estão as execuções de Marielle Franco e Anderson Gomes. Em 2020, Adriano foi morto na Bahia pela PM local, numa típica tarefa encomendada.
A história de Adriano está no livro "Decaído", de Sérgio Ramalho (Matrix, 232 págs.), que tem os Bolsonaros como astros convidados. Os Bolsonaros brilham também em "Milicianos", de Rafael Soares (Objetiva, 317 págs.), devastador apanhado sobre a milícia, e em "Ilícito Absoluto", de Pádua Fernandes (Patuá, 397 págs.), sobre um amigo deles, o torturador Brilhante Ustra. Todos recém-lançados.
O Palácio do Planalto sempre teve seus porões. Mas nunca tinha recebido ratos tão robustos saídos dos porões policiais.
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