Estava 2 a 0 para o Palmeiras, poderia estar 4 a 0 considerados dois gols feitos que Flaco López e Endrick desperdiçaram, se havia alguma frustração pelo lado alviverde era o da não goleada sobre o maior rival diante de 30 mil palmeirenses em Barueri.
Aí, Yuri Alberto diminui aos 42 minutos, só para tornar o placar ainda menos verdadeiro.
O goleiro Cássio é expulso, Yuri Alberto é cogitado para substituí-lo porque o Corinthians já havia feito às cinco trocas, mas é preservado para tentar o empate improvável.
Em seguida, leva uma joelhada nas costas e sai de maca, imobilizado, até lembra Neymar na Copa de 2014.
O zagueiro Gustavo Henrique vai para o gol.
Então, aos 55, falta na intermediária alviverde.
O argentino Garro bate forte, o experiente Weverton tira a mão, a bola bate no travessão e decreta o 2 a 2 histórico.
É claro que não acaba aí, embora devesse.
Lembrem, rara leitora e raro leitor: o Corinthians não tinha goleiro de ofício.
Derradeiros segundos, bola na área corintiana, chute fraco, Gustavo Henrique cerca o frango, mas, na linha fatal, Raniele evita o gol da vitória que seria justa, mas cruel demais, do Palmeiras sobre o Corinthians.
Sim, o Corinthians ganhou do Palmeiras por 2 a 2 como ninguém esperava e o desenvolvimento do clássico não indicava.
Ganhou porque tornou fácil o trocadilho infame e a manchete que esta Folha deveria estampar: "A garra de Garro mostra suas garras".
Não há corintiano mais velho que não tenha se lembrado do famoso "jogo do Adãozinho", quando o alvinegro saiu atrás por 2 a 0, empatou 2 a 2, levou o 3 a 2 na saída, fez o 3 a 3 igualmente na saída e ainda o 4 a 3 no fim do Dérbi.
É isso. A sorte do Palmeiras foi o apito que encerrou o clássico, porque com um pouco mais de tempo, nove contra 11, certamente o Corinthians faria 3 a 2.
Alguém duvida?
DOUTOR SÓCRATES, 70
Como estaria hoje, dia de seu 70° aniversário, o Doutor Sócrates?
Eis aí um tipo de exercício que nunca terá resposta.
Por mais que imaginemos como estariam ou o que diriam pessoas queridas que não estão mais por aqui, por óbvio, jamais saberemos, mesmo que tenhamos convivido intensamente com elas.
Acrescente, no caso, alguém que também se definia como uma metamorfose ambulante.
Provavelmente o Magrão estaria feliz com Lula presidente e preocupado com os rumos do Corinthians, paixão que adotou depois da infância como torcedor santista.
Sem dúvida teria se indignado com o comportamento daqueles machões que agrediram a família de corintianos no estádio Santa Cruz, onde nasceu para virar símbolo mundial.
Entre o norueguês Haaland e De Bruyne escolheria o belga, a menos que tivesse mudado muito sua visão do futebol.
Teria Pep Guardiola como paradigma, mas preferiria a companhia de Jürgen Klopp depois dos jogos.
Há tempos teria deixado de ver os jogos da seleção, irritado não apenas com o desgoverno da CBF, mas com a falta de qualidade das atuações. Aí adotaria aquele ar de desdém dos que disfarçam a tristeza com indiferença.
Especulações à parte, Doutor Sócrates faz muita falta, para o Brasil e para todos que conviveram com ele.
Personagem dos séculos 20 e 21, o Magro quixotesco, um elogio!, sempre esteve mais para o romantismo do século 19.
A saudade dói e a lembrança dos ótimos momentos conforta.
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