Cotas raciais vão se multiplicando em concursos públicos.
Responda com sinceridade, leitor. Você entraria confortavelmente num avião conduzido por alguém que, pelo fato de pertencer a minoria desfavorecida, recebeu um empurrãozinho na prova para obter a licença de piloto? E no caso de um neurocirurgião?
Não acho que nossos testes sejam precisos o bastante para discriminar quem será um bom profissional e quem não será. Conhecimentos técnicos são um quesito importante, mas não tudo. Evoquei esses exemplos como prova de princípio. Regras iguais, isto é, a ideia de universalidade das normas, não é algo que possamos dispensar impunemente.
Meu ponto é que é mais fácil justificar cotas no ensino que na administração pública. A educação, afinal, é ou deveria ser o que os americanos chamam de "level playing field", o terreno que prepara as pessoas para competir em igualdade de condições, ou, pelo menos, que permita aos indivíduos desenvolver ao máximo suas aptidões. Aliás, nossa obsessão deveria ser em buscar a excelência na educação básica. O grande gargalo são os anos finais do ensino fundamental e o médio. Ações afirmativas concentradas nas universidades vêm tarde demais para a maioria que já ficou para trás.
Outra questão interessante diz respeito ao desempenho dos estudantes que entram pelas cotas. A maioria dos estudos diz que esses alunos vão tão bem e às vezes até melhor do que os que chegam pela ampla concorrência. Essa é uma ótima notícia. E um bom argumento em favor da universalidade das regras. Se o desempenho durante a graduação é igual, não há motivo para seguir aplicando cotas nas seleções que vêm depois da diplomação. Aí, em teoria, os formados competem em condições de igualdade. Dá para discutir a criação de bolsas que permitam aos recém-graduados se dedicar em tempo integral a estudar para um concurso, mas não vejo motivos para mexer no nível de exigência.
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