quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Hélio Schwartsman - A multiplicação das cotas, FSP

 

SÃO PAULO

Cotas raciais vão se multiplicando em concursos públicos.

Responda com sinceridade, leitor. Você entraria confortavelmente num avião conduzido por alguém que, pelo fato de pertencer a minoria desfavorecida, recebeu um empurrãozinho na prova para obter a licença de piloto? E no caso de um neurocirurgião?

Não acho que nossos testes sejam precisos o bastante para discriminar quem será um bom profissional e quem não será. Conhecimentos técnicos são um quesito importante, mas não tudo. Evoquei esses exemplos como prova de princípio. Regras iguais, isto é, a ideia de universalidade das normas, não é algo que possamos dispensar impunemente.

Concurso nacional unificado
Concurso Nacional Unificado tem contas raciais de 20%, 5% para pessoas com deficiência e 30% de vagas destinadas a indígenas exclusivamente para a Funai - Reprodução

Meu ponto é que é mais fácil justificar cotas no ensino que na administração pública. A educação, afinal, é ou deveria ser o que os americanos chamam de "level playing field", o terreno que prepara as pessoas para competir em igualdade de condições, ou, pelo menos, que permita aos indivíduos desenvolver ao máximo suas aptidões. Aliás, nossa obsessão deveria ser em buscar a excelência na educação básica. O grande gargalo são os anos finais do ensino fundamental e o médio. Ações afirmativas concentradas nas universidades vêm tarde demais para a maioria que já ficou para trás.

Outra questão interessante diz respeito ao desempenho dos estudantes que entram pelas cotas. A maioria dos estudos diz que esses alunos vão tão bem e às vezes até melhor do que os que chegam pela ampla concorrência. Essa é uma ótima notícia. E um bom argumento em favor da universalidade das regras. Se o desempenho durante a graduação é igual, não há motivo para seguir aplicando cotas nas seleções que vêm depois da diplomação. Aí, em teoria, os formados competem em condições de igualdade. Dá para discutir a criação de bolsas que permitam aos recém-graduados se dedicar em tempo integral a estudar para um concurso, mas não vejo motivos para mexer no nível de exigência.

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