(...) Pensar o futuro, viver o presente, rever o passado: tantas metas complexas e essenciais. Pensar o futuro não pode equivaler a sacrificar o presente em nome de um paraíso terreno prometido e redentor. Viver o presente exige a percepção de que o tempo não para. Rever o passado não quer dizer pautar a vida pelo que se foi. Para Morin, estamos perdidos. Essa pode e deve ser a nossa salvação:
Mas, mesmo assim, a perdição permanecerá inscrita em nosso destino. Eis a má nova: estamos perdidos, irremediavelmente perdidos. Se há um evangelho, isto é, uma boa nova, esta deve partir da má: estamos perdidos, mas temos um teto, uma casa, pátria: o pequeno planeta onde a vida criou seu jardim, onde os humanos formaram seu lar, onde doravante a humanidade deve reconhecer sua casa comum.
Não é Terra prometida, não é o paraíso terrestre. É nossa pátria, o lugar de nossa comunidade de destino de vida e morte terrestre. Devemos cultivar nosso jardim terrestre, o que quer dizer civilizar a Terra (MORIN, 1995, p. 174).
O velho sábio não esquece que, em 1951, sofrera as agruras da exclusão ao perceber e rejeitar o aspecto “místico, religioso do Partido”, levando pessoas gentis e bondosas a comportamentos “fanáticos, obtusos” (2021, p. 98). Uma esquerda libertária, aprendeu ele, deve trabalhar pelo desabrochar das pessoas, por uma sociedade melhor, por um mundo fraterno e para melhor integrar o humano na natureza e a natureza no humano (2021, p. 101). Tendo enfrentado desdém, ironia, caricatura, exclusões e incompreensão, o pensador incansável da generosidade e da compreensão ensina: “A autonomia de espírito leva, sem que se queira, ao desvio. É preciso aceitar a incompreensão e o descrédito” (2021, p. 142). Ser livre requer resistência, resiliência, alguma coragem e muita esperança.
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