Cristina Caldas
Quando minha mãe, Linda Styer Caldas, recebeu o título de professora emérita, ela estava feliz por ver as bandeiras da Universidade de Brasília erguidas com "todos os valores e paixões que a gente vive". Morreu dez meses depois, em 2006.
Era americana, naturalizada, e tinha paixão por biologia, cerrado e Brasil. Arrisco dizer que pelas métricas atuais de avaliação, baseadas no número de artigos científicos publicados em certas revistas, minha mãe não seria reconhecida. Sua contribuição não lhe daria o título, embora ela tenha formado muita gente e trazido a tecnologia de cultura de tecidos vegetais para o Brasil nos anos 1970. Não seria um caso isolado.
Ao analisar 864 documentos de 129 universidades dos Estados Unidos e do Canadá, Erin McKiernan, professora da Universidade Autônoma do México, mostrou uma desconexão entre os valores defendidos pelas universidades e a promoção de um professor. Embora o mote seja desenvolver a extensão, o ensino e a pesquisa, o que acontece na prática é uma supervalorização de profissionais dedicados a produzir artigos.
Ao promover um professor, o que pesa é o número e o impacto de suas publicações. Publicar é essencial no exercício da ciência, porém a universidade pode comprometer seus valores ao não reconhecer, com igual importância, outros quadros e outras competências.
A simples métrica de contagem de artigos não capta a atuação do cientista. O professor ótimo em sala de aula deve ser tão valorizado quanto o autor publicado na Science.
As universidades precisam alinhar políticas com missões, sob o risco de restringir a valorização aos cientistas ávidos em adicionar mais uma linha a seus currículos sem necessariamente acrescentar conhecimento novo à ciência. Em minha memória, conecto minha mãe cientista a um papel maior da ciência, formando gente e produzindo saber.
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