Se o Código de Defesa do Consumidor coubesse também no universo político, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), poderia ter problemas com o artigo que trata da propaganda enganosa, definida como aquela que, sendo inteira ou parcialmente falsa, induz o cidadão a erro a respeito de dados sobre produtos e serviços.
O questionamento seria pertinente no caso de Nunes, submetido neste mês a uma superexposição na TV. Como de hábito, a fantasia do mundo publicitário passa longe da realidade vivenciada pelo paulistano em seu dia a dia.
Para que os exemplos não se acumulem como as pilhas de entulho pelas ruas da cidade, basta mencionar as críticas frequentes à zeladoria. Não é nada difícil andar pela capital e encontrar lixo abandonado ou buracos que sobrevivem intocados por semanas a fio.
Na publicidade, nada disso aparece. Seja na propaganda partidária do MDB, estrelada por Nunes, seja nas peças institucionais da prefeitura, tudo funciona na metrópole, graças à providência de uma administração simbolizada pela conhecida imagem do canteiro de obras.
Não há dúvidas de que o prefeito tem feito investimento pesado nisso —em propaganda, ao menos. Como mostrou reportagem desta Folha, Nunes alcançou o maior gasto municipal com publicidade em 12 anos e o segundo maior em duas décadas. O único alcaide paulistano que o superou nesse quesito foi Gilberto Kassab (PSD).
Pelos dados oficiais, Nunes aportou R$ 223,7 milhões nessa rubrica ao longo de 2022, enquanto Kassab, em valores corrigidos, destinou R$ 243,2 milhões em 2010.
Tudo porque o atual prefeito pretende disputar a reeleição no ano que vem, mas, até agora, não conquistou nenhuma marca que o torne conhecido da população.
Ex-vereador, Nunes tem sido bem-sucedido na aprovação de projetos na Câmara Municipal. Mesmo aí, porém, falta uma vitrine e sobram problemas, como o recuo no nebuloso programa de reconhecimento facial e o imbróglio da revisão atabalhoada do Plano Diretor da cidade —que ainda desgasta o prefeito por sua proximidade com o setor imobiliário.
Nunes tem todo o direito de buscar a reeleição, embora seja tarefa notoriamente complicada em São Paulo. Entre seus trunfos está um caixa cheio como poucas vezes na história recente do município. Convém que aproveite melhor os recursos à sua disposição.
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