O sindicato dos atores de Hollywood está preocupado com a ameaça de que seus associados sejam reproduzidos por dublês digitais fabricados pela IA. Não se trata de fazer com que sejam pagos pelo trabalho dos dublês (isso nem se discute), mas se refere ao desgaste e à perda de controle da imagem. Se George Clooney ou Keanu Reeves só pode aparecer fisicamente em dois ou três filmes por ano, a IA poderá fazê-los "aparecer" em cinco ou seis. E, o sindicato pergunta, quem vai querer ver um ator cinco ou seis filmes por ano?
Bem, em outros tempos do cinema, os grandes astros faziam esses cinco ou seis, e o público ainda achava pouco. O jovem Clark Gable fez 12 filmes em 1931, contracenando com deusas como Greta Garbo, Norma Shearer e Joan Crawford. Mesmo em 1935, quando ganhou o Oscar de melhor ator por "Aconteceu Naquela Noite" e podia relaxar, Gable fez cinco. O próprio John Wayne, em 1939, quando explodiu em "No Tempo das Diligências", fez seis.
Humphrey Bogart fez sete filmes em 1937, seis em 1938, sete em 1939 e quatro em 1943 (um deles, "Casablanca"). Em 1954, já cinquentão, Bogart só fez quatro, mas eles estão entre os seus maiores: "O Diabo Riu por Último", "A Nave da Revolta", "Sabrina" e "A Condessa Descalça". E, para que não se diga que isso era coisa só dos homens, a diva máxima Greta Garbo fez quatro blockbusters em 1932: "Mata-Hari", "Grande Hotel", "Como Me Queres" e o insuperável "Rainha Cristina".
E olhe que eles são fichinhas diante do brasileiro Wilson Grey (1923-1993), que, em 40 anos de carreira, fez, não se sabe ao certo, entre 150 e 250 filmes. Você dirá que Wilson era sempre coadjuvante. É verdade, mas alguns desses filmes foram "Amei um Bicheiro" (1953), "Memórias do Cárcere" (1984) e "O Beijo da Mulher-Aranha" (1985). E Grey fez um papel principal, em "O Segredo da Múmia", de 1992.
Imagine essa turma nas garras da IA.
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