As mensagens golpistas apreendidas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ordenança de Jair Bolsonaro, mostram que militares do entorno do ex-presidente não apenas discutiam com naturalidade a possibilidade de ruptura da democracia como ainda elaboravam raciocínios para revesti-la com um verniz de institucionalidade.
O otimista pode regozijar-se com o fato de que essa turma se preocupava em manter as aparências, o que não deixa de ser um tributo torto à democracia. Lembra um pouco a atitude dos ditadores que periodicamente organizam eleições fajutas as quais vencem com mais de 95% dos votos.
Esse, contudo, é um tema em que não me coloco entre os otimistas. A mentalidade golpista presente nas casernas é um problema e não acho que Lula vá se esforçar para resolvê-lo, muito pelo contrário.
A prioridade do atual presidente é fazer uma administração sem sobressaltos castrenses, de modo que sua tendência é contemporizar. Ele até poderá cobrar a punição, judicial ou administrativa, dos casos mais gritantes, mas dificilmente se digladiará por uma reforma dos currículos das academias ou qualquer outra medida de maior alcance.
Entendo a posição de Lula e não vejo muito como criticá-lo. É importante, porém, frisar que foi a repetição do "não vamos mexer com isso agora" que nos colocou na situação em que nos encontramos, em que o golpismo militar, embora já não se materialize em quarteladas e rupturas constitucionais, continua a ser um fenômeno endêmico nos quarteis. Ao contrário do que muitos afirmam, não é algo restrito às patentes inferiores. Basta lembrar o infame tuíte de 2018 do general Eduardo Villas Bôas, em que, ao que parece com apoio de toda a cúpula militar de então, tentou pressionar o STF.
Mudar essa cultura exigiria abandonar a política de apaziguamento e rever a formação dos militares, forçando-os a encarar os crimes do passado. Ou seja, não vai acontecer.
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