Edward White
Empresas chinesas, de fabricantes de alimentos a startups de tecnologia, estão correndo para o setor de armazenamento de energia do país, estimuladas pelos gastos maciços do Estado com o plano do presidente Xi Jinping de alcançar a independência energética.
O número de empresas chinesas registradas como companhias de armazenamento de energia mais que duplicou nos últimos três anos, para quase 109 mil, segundo dados do provedor de informações de empresas Aiqicha.
Yijing Wang, fundadora da 2060 Advisory, uma consultoria de investimentos sediada em Hangzhou com foco em tecnologia limpa, disse que houve uma "corrida do ouro", com um aumento "drástico" no número de empreendedores, investidores apoiados pelo estado e do setor privado interessados em tecnologias e projetos de baterias.
"Presenciamos essa mudança em apenas dois ou três anos. É uma indústria que já existia... mas não era atraente", disse ela.
O armazenamento de energia, que inclui grandes baterias para armazenamento em nível de rede, é considerado um pilar fundamental na reforma do sistema energético da China, depois que Xi prometeu reduzir as emissões líquidas de dióxido de carbono para quase zero até 2060 e atingir o pico de carbono antes de 2030.
O Goldman Sachs prevê que o armazenamento de energia, setor agora aberto pelas políticas energéticas da China, fará parte de uma oportunidade de investimento em infraestrutura de mais de US$ 7 trilhões até 2040.
No entanto, há temores de um ciclo de altos e baixos nas baterias, já que pessoas inexperientes buscam financiamento do estado. Nos últimos anos, dezenas de milhares de empresas começaram a desenvolver veículos elétricos e chips de computador, depois que os setores foram priorizados para financiamento por Pequim. A corrida pelo armazenamento de energia tem as mesmas características.
Em um exemplo, o maior fabricante de alimentos em pasta da China, Nanfang Black Sesame Group, disse em março que a Jiangxi Xiaohei Xiaomi Food, subsidiária integral da empresa listada em Shenzhen, mudaria seus negócios de alimentos para armazenamento de energia e investiria 3,5 bilhões de iuanes (R$ 2,56 bilhões) na construção de uma base de produção de baterias de lítio.
A tecnologia de baterias apoia o plano do maior poluidor do mundo de reduzir o uso de carvão e utilizar grandes quantidades de energia solar e eólica. Elas fornecem backup quando as fontes de energia renováveis não produzem eletricidade suficiente.
O Goldman prevê que a China precisará de aproximadamente 520 gigawatts de armazenamento de energia até 2030, com até 410 GW provenientes de baterias. Isso reflete um aumento de 70 vezes nos níveis de armazenamento em baterias em 2021.
Nikhil Bhandari, codiretor do Goldman de pesquisa de tecnologias limpas e recursos naturais para Ásia-Pacífico, descreveu o armazenamento de energia como o "facilitador chave para energias renováveis ininterruptas" na China.
Wang, da 2060 Advisory, observou que muitos empresários na China estão encorajados pela certeza fornecida pelos compromissos de Xi em relação às mudanças climáticas. Ela contrasta com a incerteza regulatória que assolou indústrias de crescimento que já foram populares entre investidores, como serviços e tecnologia focados no consumidor, além de educação.
Há também o cenário mais amplo de desaceleração do crescimento econômico global e um enfraquecimento das previsões do ritmo de recuperação da China após a pandemia, reforçando a sensação de que para os investidores ficou mais difícil encontrar pontos positivos na economia chinesa, disse ela.
Neil Beveridge, analista da Bernstein em Hong Kong, disse que "a capacidade excedente continua sendo o maior risco" enfrentado pelos investidores que compram na cadeia de valor de baterias da China, embora tenha notado que a escala e a tecnologia provavelmente também "limitarão os vencedores em longo prazo a um grupo restrito de empresas".
Beveridge apontou ainda as políticas dos Estados Unidos para reduzir a dependência de fabricantes chineses de tecnologia limpa, incluindo produtores de baterias. Ele disse que o isolamento da China no cenário internacional parece estar entre "as maiores preocupações dos investidores".
"Embora a China tenha perdido o mercado dos EUA, ainda domina outros mercados e será um dos principais players na Europa", acrescentou ele.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
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