quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Um governo de aldrabões, Ruy Castro, FSP


É raro, mas quando acontece é para celebrar —ganhar um irmão numa palavra. É o que se dá quando descobrimos alguém que usou um termo que um dia aprendemos, adotamos e, como em nosso meio ninguém mais o fazia, passamos a achar de nossa propriedade. Até que a lemos em outrem. Pois é como me sinto agora em relação a Gregorio Duvivier: irmão em aldrabão.

Em sua coluna desta quarta (1°/12), ele se referiu às 100 mil palavras que os portugueses nos trouxeram da Corte, mas reservaram algumas para uso próprio no seu lado do Atlântico. Uma dessas, aldrabão —que, em oito letras, três das quais o a, e um humilde til, define em Portugal o farsante, mentiroso, trapaceiro, impostor, descarado, aquele que comete fraudes, patranhas, aldrabices.

Com deleite e estupor, descobri aldrabão em Lisboa, onde morei de 1973 a 1975. Foi ao assistir a um festival de clássicos da comédia americana, estrelados por comediantes famosos entre nós por outros nomes. Lá, os Irmãos Marx eram Os Grandes Aldrabões; os Três Patetas, os Três Estarolas; o Gordo e o Magro, o Bucha e o Estica; e Jerry Lewis, o Estoira-Vergas. Bem, para isso servem os dicionários. Um estarola é um deslumbrado, leviano, apatetado. Um estoira-vergas (verga é uma barra, uma vara, algo difícil de... vergar) é um estúpido, encrenqueiro, estouvado.

Aqui esses nomes teriam de denominar outras figuras. Aldrabões, por exemplo, são o que não falta no governo Bolsonaro. Se nos limitarmos a três, e só entre os ministros no cargo, eles seriam, a discutir, Onix Lorenzoni, Ciro Nogueira e Joaquim Álvaro Pereira Leite. Os Três Estarolas seriam, de barbada, os generais Braga Netto, Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos. O Estoira-Vergas, disparado, Paulo Guedes. E, em todas as categorias, cabe o próprio Bolsonaro.

Bucha e estica significam, literalmente, gordo e magro. Há gordos e magros no governo, e isso não é crime. Mas o Gordo e o Magro não eram canalhas. 

Nenhum comentário: