O lema "publish or perish" (publique ou pereça) nunca veio tanto a calhar. Os anúncios picotados e pouco rigorosos de diferentes taxas de eficácia para vacinas, feitos através de "press releases" em vez de por meio de trabalhos científicos, ainda poderão nos custar caro.
Inaugurou-se uma barafunda generalizada. As taxas anunciadas nessas ocasiões costumam ir de muito boas (mais de 80%) a soberbas (mais de 90%). Às vezes, escapa uma contradiçãozinha. Num dos muitos diferentes regimes apregoados, a vacina da AstraZeneca apresentava uma eficácia maior com uma única dose do que com as duas preconizadas pelo próprio fabricante.
Não creio que estejam mentindo. Os números propagandeados provavelmente correspondem a algum achado. Diferenças, às vezes significativas, entre os vários braços das pesquisas são esperadas. O problema é que, nessa divulgação selvagem, destacam-se os dados mais convenientes e escondem-se os menos.
Num trabalho científico revisado por especialistas, isso seria mais difícil de fazer. Os pesquisadores precisam dar conta da totalidade dos resultados, levantar hipóteses para eventuais discrepâncias, além de publicar tabelas completas e disponibilizar os microdados para interessados. São informações valiosas para a comunidade científica, as autoridades e, principalmente, para evitar ruídos na comunicação.
O problema não é para já. Agora e pelos próximos meses, haverá muito mais gente ávida para tomar a vacina do que doses disponíveis. Mas, à medida que a imunização avançar, será preciso convencer a população recalcitrante a também inocular-se, se quisermos reduzir substancialmente a circulação do vírus.
Aí, os números preocupam. Uma pesquisa francesa mostrou que apenas 40% dos conterrâneos de Louis Pasteur pretendem vacinar-se. Falhas de comunicação que contribuam para a desconfiança nas vacinas são um luxo ao qual não podemos nos dar.
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