02 de agosto de 2020 | 05h00
Num movimento semelhante ao que ocorreu nos anos 90 e 2000 envolvendo hidrelétricas, grandes consumidores de energia estão investindo em complexos eólico e solar para se tornarem autoprodutores. O objetivo é ter usinas próprias para suprir sua demanda. Desta vez, no entanto, não é só o fator econômico que pesa na decisão do investimento. O apelo sustentável das fontes de energia a cada dia ganha mais relevância na estratégia das empresas de serem mais “verdes”.
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Nesse grupo, estão grandes corporações como Anglo American, Vale, Tivit, Vulcabrás e Honda, entre outras. Algumas dessas empresas já eram autoprodutoras, sobretudo com hidrelétricas, mas não com eólica e solar – vista durante anos apenas como energia alternativa. Ao longo do tempo, com a evolução tecnológica e barateamento do preço dos equipamentos, as duas fontes cresceram no País e estão mudando a matriz elétrica brasileira.
Esse amadurecimento permitiu novos projetos de autoprodução de energia, que estavam adormecidos desde meados dos anos 2000. Uma das explicações está na dificuldade para construir hidrelétricas no País, ainda principal fonte de autoprodução, diz o presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape), Mário Menel. “Por causa da pressão internacional contra as usinas, os investidores recuaram. Agora estão indo, especialmente, rumo às eólicas”, afirmou ele.
Ao contrário do passado, quando as empresas construíam suas próprias usinas e arcavam com o risco da construção, agora há opções que eliminam esses problemas. A Casa dos Ventos, empresa responsável pelo desenvolvimento de um terço dos projetos eólicos em operação e em construção no País, tem desenhado soluções diferenciadas para as empresas.
Num primeiro momento, elas firmam um contrato com a companhia para explorar um determinado potencial eólico. Quando o projeto estiver concluído, ela terá a opção de se tornar acionista do empreendimento e virar autoprodutora. “Há uma tendência crescente pela energia eólica tanto pelo viés econômico como pela agenda verde”, diz Lucas Araripe, diretor de Novos Negócios da Casa dos Ventos.
Corporativos
Os contratos que estão sendo firmados agora são do complexo Rio do Vento (504 MW), no Rio Grande do Norte, cujos investimentos somam R$ 2,4 bilhões. O projeto foi dividido em oito Sociedades de Propósito Específico (SPE) – sendo um parque eólico para cada –, de forma a permitir um número maior de empresas dentro de um mesmo empreendimento. A companhia desenvolve outro projeto de 350 MW na Bahia e projeta expansão de Rio do Vento (500 MW), também mirando contratos corporativos de longo prazo.
Dos oito parques de Rio do Vento, três – ou 195 MWs – estão contratados pela mineradora Anglo American. “Trata-se da primeira experiência em autoprodução do grupo no mundo”, diz o gerente global de energia e utilidades da multinacional, Alfredo Duarte. Ele explica que a energia é um fator importante de custo para a empresa. Na produção de níquel, representa 30% do custo; e na de minério de ferro, 20%.
Por isso, o grupo decidiu desenvolver uma gestão energética inovadora. Segundo o executivo, até 2022, 70% da energia consumida pela mineradora será proveniente de energia solar e eólica. Isso deve ajudar a Anglo American a alcançar a meta mundial de reduzir em 30% as emissões de carbono até 2030, diz Duarte.
A combinação entre redução de custo e sustentabilidade também levou a Vulcabrás Azaleia a fechar parceria com a Casa dos Ventos para se tornar autoprodutora. O contrato, de 7 MW médios, vai abastecer 99% do consumo da empresa, reduzir em 25% o valor da conta de luz e diminuir as emissões em 27 mil toneladas de CO2 (dióxido de carbono) por ano, diz Luiz Otávio, gerente de QSMS (Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Saúde) da Vulcabrás Azaleia. Segundo ele, projetos sustentáveis também trazem resultados positivos financeiramente.
No caso da montadora japonesa Honda, o principal objetivo ao decidir construir um parque eólico no Rio Grande do Sul foi atender a uma determinação do presidente mundial da empresa, que definiu inicialmente uma redução de 30% das emissões da empresa de CO2 até 2030 (esse número foi elevado para 50% até 2050). Na ocasião, a unidade brasileira começou a estudar maneiras para cumprir a meta, diz o presidente da Honda Energy, Otavio Mizikami, vice-presidente industrial da Honda Automóveis.
Segundo ele, após muita análise, verificou-se que a energia eólica seria a mais viável para alcançar o objetivo. A empresa construiu o parque Xangri-lá, de 27 MW, que abastece as fábricas de automóveis e os escritórios da empresa. Com a nova unidade de Itirapina (SP), a montadora decidiu ampliar o parque e colocar mais uma torre, de 3,8 MW.
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