Cristina Tardáguila
Desde abril, o Brasil costura uma lei para fazer frente à desinformação e evitar os danos que ela provoca. Mas o texto que o Senado enviou à Câmara dos Deputados aborda a educação midiática —ponto crucial dessa batalha— em apenas poucas linhas e de forma genérica.
No dia 5 de agosto, especialistas no assunto levaram aos parlamentares que lideram o debate sobre o "projeto de lei das fake news" cinco propostas para que a educação midiática entre no texto e ganhe o devido tamanho nessa discussão.
O primeiro ponto é o reconhecimento tácito de que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já prevê o desenvolvimento do pensamento crítico para interpretação de mensagens midiáticas.
Entre as competências gerais estabelecidas pela BNCC, está ajudar alunos a "argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável". Por isso, para quem faz educação midiática no Brasil, é imprescindível que o projeto de lei 2.630 fale sobre esse tema, sugerindo uma grande ampliação.
Mas, para que isso aconteça, é inevitável que se formem professores, indivíduos capazes de ensinar educação midiática. Assim, o segundo ponto apresentado aos deputados foi a ideia de que cursos universitários passem a oferecer cadeiras de "media literacy".
O terceiro ponto proposto foi a inclusão de um estímulo para que escolas e universidades também criem projetos de educação midiática. Se eles forem interdisciplinares, melhor. É hora de o Brasil —e os governantes— entenderem que, na luta contra a desinformação, não há outra saída a não ser erguer cidadãos plenos. Pessoas capazes de, por si só, separarem o que é opinião de notícia factual. Que consigam refletir sobre autoria, contexto e pertinência de um texto. Que saibam usar ferramentas básicas para analisar fotos e/ou vídeos. E mais: que saibam —basicamente— como funcionam as redes sociais, seus algoritmos e as possibilidades de segmentação de conteúdo.
O quarto ponto debatido no encontro foi o envolvimento das próprias redes sociais no financiamento de projetos de educação midiática. Sugeriu-se a criação de uma contribuição obrigatória a ser feita pelas plataformas e empresas de tecnologia a projetos de alfabetização midiática. Também falou-se sobre o estabelecimento de uma regra que preveja que todos os valores investidos no impulsionamento de conteúdos falsos ou odiosos venham a ser revertidos a projetos de "media literacy".
Por último, os especialistas em educação midiática solicitaram que, se constituído o conselho de transparência previsto no PL 2630, ele contenha membros aptos a discutir e traçar planos claros para "media literacy". O punitivismo deve ficar em segundo plano. Um eventual conselho voltado para educação seria mais proveitoso.
Foi consenso, portanto, que a inserção da educação midiática no debate sobre a desinformação é urgente e inevitável. E o assunto deve ser visto como política pública, independente de partidos ou mandatos específicos. Deve ser encarado como um aprendizado contínuo, com grande poder transformador, mas precisa ser iniciado imediatamente.














Nenhum comentário:
Postar um comentário