Com cautela, uso por pessoas assintomáticas permite abrandar a saudade
A conjuntura desta pandemia é muitas vezes associada a um estado de guerra. Entretanto, conflitos bélicos estão, em geral, concentrados numa determinada área geográfica, mesmo quando denominado como guerra mundial. Por outro lado, o coronavírus, graças à imensa capacidade de disseminação, em meses partiu de uma cidade da China para aterrorizar todos os continentes. Como na guerra, a malha de atividades sociais que impulsionam a economia, da forma como nos acostumamos, ficou estagnada. Ao contrário da guerra, cuja interrupção depende de entendimentos entre partes, a pandemia não acaba de repente, numa festa, como ocorre numa pacificação. Ela enfraquece lenta e gradativamente, sendo associada ao crescente esgotamento físico e psíquico, além do luto.
Essa batalha requer um símbolo de proteção análogo ao capacete. O uso universal da máscara facial ganha esse significado como símbolo de comprometimento na proteção do acesso às vias respiratórias.
Todos entendem melhor os riscos da transmissão do vírus quando submetidos ao desconforto da máscara, independentemente da sua condição socioeconômica ou cultural. Mesmo máscaras caseiras são uma barreira mecânica de efetividade variada, mas nunca nula na transmissão de vírus presentes nos aerossóis respiratórios.
A máscara facial também impõe um distanciamento e inibe a mecânica manipulação da mucosa nasal e oral, que fazemos inconscientemente e muitas vezes por hora. Devem ser usadas quando estivermos na trincheira, correspondente ao agrupamento social, no transporte público ou na presença de alguém sintomático. Nesse sentido, seu uso em locais públicos está se tornando obrigatório, como ocorre no estado de Nova York, na França e no estado de Mato Grosso.
Entre mais de 500 mil pessoas com infecção resolvida, 80% estão curadas e desenvolveram anticorpos, conferindo proteção como quando vacinadas. Assim, nossa mais poderosa expectativa é a vacina, cuja disponibilidade depende do seu tempo de desenvolvimento, sempre superior a um ano. A opção de desenvolvimento de algum novo medicamento especifico é pouco provável. Nesse contexto, o distanciamento social, em variadas intensidades, foi globalmente institucionalizado para preservar vidas, minimizando a insuficiente disponibilidade universal de estrutura assistencial em um cenário de demanda extrema.
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No cotidiano familiar, o uso da máscara não deve ser um motivo para relaxar as demais medidas de proteção. Ademais, mesmo no estado atual de pandemia, seu uso por pessoas assintomáticas possibilita que se possa abrandar a saudade e permitir que pais e avós voltem a sociabilizar recebendo filhos, netos ou amigos por tempo de exposição não longo e mantendo o distanciamento.
Num cenário de retomada gradual das atividades, ainda com o vírus circulando de forma endêmica, a checagem habitual de identidade na entrada das empresas será acompanhada de questionamentos relacionados à presença de sintomas de gripe e febre, bem como a exigência do uso de máscara facial. O cumprimento de mãos, abraços e beijos sociais já não são mais apropriados.
Esta pandemia será contada de várias formas, como ocorre com a gripe espanhola de 1918. Poderá ser o marco de quando a máscara de proteção passou a ser um adorno facial do cotidiano. Com certeza será destacada a atuação corajosa de profissionais de diversos setores, que estão trabalhando mais do que sempre para garantir o mínimo, sustentando condições e produtos básicos para manter o cotidiano de quem está em casa ou hospitalizado.
Também ainda há tempo para permitir que a pandemia por Covid-19 seja lembrada pelo estabelecimento de um pacto racional e pragmático entre os mais diferentes níveis de dirigentes, industriais, políticos, tribunais nacionais e internacionais, que teria propiciado um período de carência para divergências pessoais e ambições setoriais, em defesa da saúde.
Em estado de calamidade pública, o ótimo foi embora. E, para evitar o péssimo, é razoável ficar com o bom: sempre de máscara quando em trânsito ou agrupado.
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