A imprensa decretou que Rodrigues Alves morreu da Espanhola. A história diz que não
Graças ao coronavírus, Rodrigues Alves, presidente da República eleito em 1918 e impedido de tomar posse por doença que o levou à morte, não sai do noticiário. Todos os dias, em jornal, rádio, TV, onlines e podcasts, alguém o faz morrer da Gripe Espanhola, a pandemia que tomou o mundo em fins daquele ano. A própria Wikipédia, fonte a que recorrem os que escrevem antes de pensar, é categórica: “Rodrigues Alves contraiu a Gripe Espanhola e não tomou posse, sendo substituído pelo vice-presidente eleito Delfim Moreira”. E estamos conversados.
Mas, para alguns historiadores, não estamos conversados. Um deles, Heloisa Starling, da UFMG: “Em 24 de outubro de 1917, Rodrigues Alves foi diagnosticado com anemia. Em 3 de novembro, seu filho Paulo, que era médico, opinou que, por questão de saúde, seu pai não deveria concorrer à Presidência. Três semanas depois, um deputado de São Paulo arriscou que, eleito, Rodrigues Alves talvez não fosse empossado. Foi o que aconteceu. Eleito em 15 de março de 1918, não pôde tomar posse em 15 de novembro e morreu em 16 de janeiro de 1919”.
Donde Rodrigues Alves esteve doente por 15 meses, com fadiga, falta de ar, palidez e confusão, sintomas de leucemia. A Espanhola, que durou dois meses, outubro e novembro de 1918, matava em quatro dias. Em janeiro, quando ele morreu, ela já passara. Se fosse caso de Espanhola, sua família teria sido infectada, já que morava com a mulher e os filhos, e eles não a pegaram. O próprio Delfim Moreira, que o visitava diariamente, também não a contraiu.
Para completar, Rodrigues Alves foi tratado por três médicos de peso: Miguel Couto, Matias Valadão e Raul Leitão da Cunha, que assinou o atestado de óbito: “Assistolia aguda no decurso de uma anemia”. Ninguém falou de Espanhola.
A peste matou 15 mil pessoas no Rio em um mês. Mas Rodrigues Alves não foi uma delas.
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