A imprensa e a sociedade brasileiras têm reconhecido o esforço histórico de empresas e marcas cidadãs que se perfilaram ao lado do Brasil nesta hora gravíssima. Por isso, como saiu aqui nesta Folha, o Itaú deu o exemplo (disclaimer: o Itaú é meu cliente).
Este momento pede grandeza do tamanho do problema. E, se o R$ 1 bilhão doado pelo banco à luta contra a pandemia no Brasil é histórico sob qualquer parâmetro, a forma como foi feita a doação teve a compostura que o momento exige: a gestão e a destinação dos recursos serão decididas de forma técnica e profissional por um conjunto de especialistas da saúde.
É nesta hora que o líder tem que liderar. A doação gigante é um chamado para que outros grandes sejam grandes também, e tantos estão sendo. Ela estimula qualquer um, de qualquer tamanho, a ser grande dando aquilo que pode, mesmo que pareça pouco.
A elite deve sair de sua zona de conforto, e vejo muitos saindo. Nesta crise e para além dela, o país precisa dessa cultura de doação e solidariedade.
Guilherme Benchimol, em entrevista nesta Folha, afirmou que o Brasil é um país muito carinhoso, mas não solidário. Só que a solidariedade gera solidariedade, e vamos dar e trabalhar para que desta crise a gente evolua consistentemente do país carinhoso para o país solidário.
Vemos todos os dias empresas gigantes de todos os tamanhos se juntarem nessa onda a ONGs, sindicatos, organizações religiosas, pessoas comuns e incomuns... Milhares de gestos que se contrapõem e desafiam as milhares de vítimas desta pandemia. Uma pandemia que é especialmente cruel porque impõe, além da doença, a separação entre doentes e seus parentes e amigos —uma distância tão dolorosa que é como se fosse uma outra doença.
As nações e os bancos centrais têm gastado quantidades trilionárias de dinheiro, mas médicos e profissionais de saúde no mundo inteiro têm dado mais do que dinheiro: têm dado a vida. Enquanto bilhões de nós estamos em casa, milhões deles estão trabalhando para que possamos estar protegidos. Esta é Terceira Guerra Mundial sem a guerra, contra um inimigo invisível, mutante e implacável.
A história corre dramática diante de nossos olhos perplexos e ela vai separar os grandes dos omissos, os grandes dos pequenos. Todos nós temos que ser estadistas nesta hora. Estadista na nossa casa, na nossa empresa, na nossa comunidade, na nossa nação. Vejo emocionado a mulher que dirige o metrô com postura de Angela Merkel. E tantos outros guerreiros, todos os dias, com essa mesma postura.
A crise é a oportunidade de sublimar o humano em nosso ser. Mas é importante frisar como é tocante ver também as empresas darem exemplos de cidadania. Estamos muito longe da outra margem do rio. Milhares de brasileiros morreram e morrerão. Milhões perderão seus empregos. Muitas empresas morrerão também. A solidariedade salva.
A pronta ação de governos tem sido fundamental, mas é tão grande a catástrofe, tamanho o sofrimento, que só a solidariedade do jovem médico que dá a sua vida, da freira que vara a noite, do trabalhador que madruga exausto, do empreendedor que luta com a porta fechada que poderemos vencer este vírus. Recebam o nosso aplauso. Recebam a nossa admiração. Recebam a nossa gratidão.
Este é o desenho da Era de Aquário. Só ela pode evitar, com compostura e consequência, a destruição do planeta. Coisas belas nascem deste festival de horrores. Solidariedade, o futuro foi feito para você.
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