segunda-feira, 27 de abril de 2020

Abater Moro é prioridade dos partidos do centrão, além de obter cargos e verbas de Bolsonaro, FSP

BRASÍLIA
Alçado à condição de base informal de sustentação do governo Jair Bolsonaro, o centrão tem há muito tempo uma característica tão forte quanto a busca por ocupar cargos da máquina federal: a oposição aos métodos, ao grupo e à figura de Sergio Moro.
Desde antes do início do atual governo, o grupo, formado por partidos de centro e de centro-direita que reúnem cerca de 200 dos 513 deputados, buscou minar projetos do então ministro da Justiça, cargo que Moro ocupou até a última sexta-feira (24).
O motivo é que o agora ex-ministro foi o juiz responsável pela operação que desde 2014 devastou boa parte do mundo político, levando aos tribunais líderes das siglas que formam o centrão.
Para além disso, o centrão afirma que Moro e a Lava Jato simbolizam o movimento de criminalização da política, corrosivo à democracia, com interesses políticos ocultos de eles próprios assumirem o leme futuramente.
Esse não é um sentimento só do centrão —o PT de Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Lava Jato, entre outros partidos, compartilha da análise— e a revelação das trocas de mensagens da Lava Jato reforça essa visão ao mostrar indicativos de que Moro agiu sem a imparcialidade que se espera de um juiz.
Não só ele, é fato, mas o sentimento anti-Moro ajuda a explicar por que o grupo saiu em defesa de Bolsonaro logo após a demissão do ministro, se colocando contra a instauração de um processo de impeachment.
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Integrantes da Polícia Federal e secretários de Segurança Pública disseram à Folha acreditar que os encontros de Bolsonaro com presidentes e líderes desses partidos, nas últimas semanas, serviram para o presidente ter a segurança de que poderia se livrar de Moro sem risco de ficar com o mandato sob ameaça.
Segundo relatos que eles receberam, Bolsonaro perguntou se os congressistas reforçariam sua retaguarda na eventualidade da saída do ministro. Congressistas ouvidos pela reportagem negaram ter tratado da situação de Moro nas conversas com o presidente.
No discurso de despedida do governo, o agora ex-ministro chegou a fazer referência a algumas derrotas políticas para o centrão, embora sem se referir diretamente ao grupo. Ele citou principalmente aquele que deveria ter sido um dos marco de sua gestão, o pacote anticrime.
No Congresso, esse pacote foi desidratado, além de ter sido atrelado à tramitação do projeto de abuso de autoridade, visto no Congresso justamente como uma resposta a Moro e à Lava Jato.
O texto final ficou sem várias das medidas vistas por Moro como essenciais, como a condenação após prisão em segunda instância.
Estiveram com Bolsonaro nas últimas semanas ou conversaram por telefone com ele, presidentes e líderes do PP, PL, Republicanos, PSD, Solidariedade, MDB e DEM.
Por sua iniciativa, por exemplo, Bolsonaro falou ao telefone, mais de uma vez, com o principal cacique do PL, Valdemar Costa Neto, condenado e preso no escândalo do mensalão.
Em um dos encontros, gravou um vídeo ao lado do deputado Arthur Lira (AL), líder da bancada do PP, uma das siglas mais implicadas no escândalo de desvio de recursos da Petrobras.

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