Empresa decidiu focar esforços em inteligência artificial e centralizar escritórios na China; em redes sociais, companhia não publica nada há meses no País
05/07/2018 | 17h05
Por Bruno Capelas - O Estado de S. Paulo
Baidu tinha escritório na zona sul de São Paulo; na foto, Yan Di, gerente-geral da empresa no país
Leia mais
A gigante chinesa de internet Baidu está encerrando suas operações brasileiras. As informações foram confirmadas ao Estado por fontes próximas à empresa, que está traçando uma estratégia global de focar no desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial.
Nos últimos tempos, a empresa tem se direcionado para essa área, em pesquisas com veículos autônomos, reduzindo sua atenção a produtos voltados aos consumidores – no mês passado, ela anunciou, por exemplo, uma parceria com a Ford para o desenvolvimento de tecnologias de direção autônoma.
Para David Kallás, coordenador do Centro de Estudos em Negócios do Insper, a empresa preferiu olhar para o futuro do que insistir em um negócio com pouco potencial de crescimento. "Hoje, as pessoas já não instalam mais tantos aplicativos novos em seus smartphones, é um mercado que já passou pelo seu auge", diz. "Por outro lado, o setor de inteligência artificial está bem aquecido e pode explodir nos próximos anos. É natural a empresa se antecipar às mudanças."
Sobe e desce. É o ponto final de uma trajetória de cinco anos, que começou com estardalhaço, mas depois foi perdendo seu brilho: inicialmente, o plano do Baidu, que já foi chamado de "Google chinês", era se tornar uma referência no Brasil no uso de aplicativos, buscas e navegação, com soluções de segurança, busca e otimização de performance no sistema operacional Android.
A empresa chegou a ter até 40 milhões de usuários únicos no País – maior parte deles graças ao Peixe Urbano, empresa que adquiriu em 2014 por valores não revelados e vendeu ao Groupon no ano passado. Sob a gestão da chinesa, o Peixe Urbano conquistou seus primeiros resultados positivos.
Vale lembrar ainda que, desde sua chegada ao País, o Baidu não alcançou boa fama entre os brasileiros – eram comuns as reclamações de usuários em redes sociais sobre programas da empresa, como o Hao123, instalados à revelia em seus dispositivos, ou com processos de desinstalação muito difíceis.
Para Kallás, do Insper, um fator que deve ter impactado o desempenho da empresa por aqui são as as disparidades entre Brasil e China. "A única coisa que os dois têm em comum é que são mercados emergentes. As regras do jogo são muito diferentes, entre aspectos culturais, questões regulatórias ou de direito do consumidor."
O Baidu também sofreu com reveses nos últimos tempos no País. Duas foram marcantes: a desistência da criação do fundo Easterly Ventures, que aplicaria US$ 60 milhões, ao longo de quatro anos, em startups de estágio inicial; e uma derrota judicial para a PSafe, que acusou o Baidu de tentar prejudicá-la, acusando seus serviços de serem danosos aos aparelhos dos usuários.
Em redes sociais, a presença da empresa no Brasil também tem sido bastante diminuta: no Twitter, a marca não publica nada desde o início de 2017; o mesmo vale para sua página oficial no Facebook.
Nenhum comentário:
Postar um comentário