sábado, 18 de abril de 2020

Dez anos na UTI, FSP

Há um rombo errante nas contas públicas federais neste ano. Segundo cálculos oficiais, já está em R$ 600 bilhões e com tendência a se aprofundar. Frente à catástrofe generalizada provocada pela pandemia na vida das famílias e nas empresas, é mais que aceitável romper os limites fiscais, mesmo com o custo elevado que será apresentado à sociedade brasileira nos anos que se seguirão.
Diante das incertezas sobre o impacto da crise, o governo de Jair Bolsonaro foi obrigado a abandonar uma meta fixa para o resultado primário em 2021 (sem os encargos da dívida). A impossibilidade de projetar o comportamento da arrecadação levou a equipe econômica a ancorar sua política fiscal no teto de gastos --dispositivo que limita o avanço das despesas à inflação.
Espera-se um déficit de R$ 127,5 bilhões para 2022, último ano do mandato de Jair Bolsonaro. Nada mais irônico para um ministro da Economia, de orientação ultraliberal e que chegou a prever zerar o déficit público já no primeiro ano da gestão bolsonarista, não conhecer o azul de perto.
Paulo Guedes entregará ao próximo presidente eleito um rombo ​ a ser administrado. Seus técnicos estimam para 2023: saldo no vermelho equivalente a R$ 83,3 bilhões e dívida pública a se aproximar de 90% do PIB (Produto Interno Bruto). Profecia realizada, o país terá atravessado um período de dez anos com as contas na UTI --martírio iniciado na administração de Dilma Rousseff em 2014.
Por ora, a estratégia é reforçar o discurso da diligência fiscal e retomar o ímpeto reformista e privatizante quando o mundo superar a crise. Na prática, porém, Guedes e o presidente semeiam uma guerra improfícua com o Legislativo. O clima conflagrado tornará a execução dessa agenda mais difícil no pós-coronavírus. De imediato, medidas emergenciais enviadas pelo Executivo ao Parlamento são submetidas a doses cavalares de anabolizante fiscal.


Julianna Sofia
Jornalista, secretária de Redação da Sucursal de Brasília.

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