Um efeito imediato —e positivo— da quarentena forçada de milhões de pessoas foi o crescimento da audiência dos canais de televisão. Até reprises de novela da Globo estão batendo recorde no Ibope. Mas a Netflix está conseguindo algo mais difícil ainda nesta crise: ganhar dinheiro.
Os resultados do primeiro trimestre, divulgados nesta semana, surpreenderam o mercado. A Netflix adicionou 15,8 milhões de novos assinantes em todo o mundo, um recorde, praticamente o dobro do que os analistas esperavam. A empresa agora tem 183 milhões de assinantes. Com as ações em alta, o seu valor de mercado chegou a superar o da gigante Disney.
Até um pouco sem graça com a situação, o CEO, Reed Hastings, observou: "Nossa pequena contribuição nesses tempos difíceis é tornar o confinamento em casa um pouco mais suportável".
E, em carta aos acionistas, reconheceu que o crescimento está ligado diretamente a uma tragédia. "Esperamos que o progresso contra o vírus permita que os governos levantem o confinamento em breve", disse a empresa. "Quando isso acontecer, esperamos que a visualização e o crescimento diminuam."
Nem tudo foi alegria, porém. A desvalorização de algumas moedas frente ao dólar atrapalhou os negócios da Netflix. No Brasil, por exemplo, a perda da receita foi de 25% —os R$ 33 da assinatura básica, que equivaliam a US$ 8,50 há um ano, passaram a valer US$ 6,50.
Por aqui, os canais de televisão não têm muito boas notícias para contar. Os que vendem ou alugam parte da grade para igrejas evangélicas, como RedeTV! e Band, estão sofrendo mais, como registraram os jornalistas Flavio Ricco e Ricardo Feltrin em suas colunas no UOL nesta semana.
Numa triste reação em cadeia, algumas igrejas, enfrentando perda de receita por causa do fechamento dos templos, estão fazendo cortes de pessoal e pressionando pela redução dos valores pagos aos canais.
O SBT aposta na adesão ao governo como tábua de salvação. Há dez dias, Silvio Santos interrompeu a sua quarentena para negar, em nota oficial, que tenha feito lobby pela indicação de um médico conhecido para o Ministério da Saúde. Aproveitou para prestar continência ao presidente Jair Bolsonaro com a subserviência de sempre e criticar o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
"A minha concessão de televisão pertence ao governo federal e eu jamais me colocaria contra qualquer decisão do meu 'patrão' que é o dono da minha concessão. Nunca acreditei que um empregado ficasse contra o dono, ou ele aceita a opinião do chefe, ou então arranja outro emprego", disse o dono do SBT.
Os shows ao vivo de músicos populares no You Tube, num primeiro momento, assustaram as emissoras de TV. Com menos produção e custos que um programa tradicional, as chamadas "lives" ganharam a adesão do mercado publicitário e registraram enorme alcance de público.
A clara disrupção no modelo tradicional não passou despercebida pela Globo, que neste sábado escalou Ivete Sangalo para estrear "Em Casa", um projeto que reúne as características das "lives" que estão "bombando" na internet.
Nos Estados Unidos, a competição da "velha TV" com a internet levou as três maiores redes a se unirem para exibir um megaconcerto, com vídeos caseiros de artistas como Paul McCartney e Rolling Stones, organizado pela cantora Lady Gaga. Alguém consegue imaginar Globo, Record e SBT se unindo para algo semelhante no Brasil?
A partir desta semana, esta coluna passará a ser publicada às quintas-feiras.
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