A concretizar-se a saída do ministro Sergio Moro do governo, Jair Bolsonaro terá, em menos de uma semana, traído três dos principais grupos de eleitores que garantiram sua ascensão à Presidência.
Os primeiros atingidos foram aqueles que inadvertidamente acreditaram no discurso antissistema do capitão reformado. Bastou a palavra "impeachment" circular mais livremente para o governo buscar o apoio de figuras como Roberto Jefferson, Waldemar da Costa Neto e Arthur Lira, uma espécie de tríade de ferro do establishment venal que a campanha bolsonarista jurara banir da política.
A turma que achou que Jair Bolsonaro seria capaz de conduzir uma agenda de reformas liberais, que resolveria o grave problema fiscal brasileiro, caiu do cavalo no meio da semana, quando o general Walter Braga Netto (Casa Civil) anunciou um plano de reativação da economia que vai na contramão de tudo o que o ministro Paulo Posto Ipiranga Guedes sempre defendeu. Guedes nem tentou esconder que não concorda com o programa.
Agora foi a vez de o eleitorado lava-jatista quebrar a cara, com a possível demissão do juiz que condenou Lula e boa parte dos políticos e empresários que se fartaram nos esquemas de corrupção identificados na administração petista.
É claro que nunca fez sentido acreditar em nenhum dos três eixos da campanha de Bolsonaro. Ele sempre integrou o pior do establishment da política brasileira, nunca foi um liberal na economia e só aderiu à grita anticorrupção por oportunismo. Uma pluralidade dos eleitores brasileiros, no entanto, resolveu apostar nessas fabulações —e o país se lascou.
Até poderíamos louvar o choque de realidade como algo didático no processo de educação do eleitorado —como foi a descoberta de que o PT também roubava. O problema é que a dupla emergência, sanitária e econômica, não é um bom momento para experimentarmos com um governo totalmente desarticulado.
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