Não é simples para a imprensa aderir à estratégia de tornar Bolsonaro insignificante
Respondo hoje à provocação do leitor Jean Claude Villari: “Está muito claro que nosso presidente não é capaz de fazer leituras de cenários, por mais simples que sejam. Comete erros muito graves e inadmissíveis. A minha pergunta é por que a imprensa cede tanto espaço a essa figura?”.
Villari está entre os que acham que a mídia deveria somar-se a forças como Congresso, STF e até parte dos ministros que promovem uma espécie de boicote informal da Presidência, fazendo gestões para minorar os estragos que o voluntarismo irresponsável de Bolsonaro produz.
A causa é justa, mas receio que o papel institucional da imprensa seja um pouco diferente do das outras forças citadas. Não é tão simples para os meios de comunicação aderir à estratégia de tornar o presidente insignificante.
A missão da imprensa é dupla. De um lado, devemos proceder a uma espécie de curadoria da informação, zelando por sua veracidade, exatidão e relevância. Boa parte das declarações de Bolsonaro não passa por nenhum dos três filtros. De outro, precisamos registrar os principais acontecimentos do dia, sem tentar exercer poderes censórios. O jornalismo é, como diz o chavão, o primeiro rascunho da história.
Enquanto Bolsonaro era só um deputado do baixo clero, não era difícil ignorar as estultices que nunca deixou de proferir e noticiá-las apenas quando batiam algum recorde. Agora que é o presidente, é mais complicado adotar essa política. Sua caneta tem força.
Os dois objetivos da imprensa nem sempre são compatíveis, o que frequentemente nos deixa numa sinuca de bico. Se dermos ênfase à primeira missão, falhamos na segunda, e vice-versa. Penso que erraremos menos se noticiarmos sem filtros tudo o que o presidente diz e faz. Pode-se até argumentar que foi a insistência da mídia em divulgar seus desatinos que possibilitou a articulação de forças que vai tornando a crise mais administrável.
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