quarta-feira, 11 de março de 2020

Hélio Schwartsman R=DOTS, FSP

É preciso instruir a população para que evite contatos não essenciais

O número mágico da epidemiologia é R, definido como a quantidade de pessoas para as quais um paciente típico transmite a doença. Quando as infecções se dão em ambiente, digamos, selvagem, isto é, sem medidas de prevenção, nós temos R0, também chamado de taxa básica de reprodução. O R0 da covid-19 foi inicialmente estimado em algo entre 2,2 e 3,9.
Só que ambientes selvagens não duram muito. Assim que se percebe que há uma epidemia, autoridades e os próprios cidadãos tomam providências. O R0, que pode ser descrito como uma propriedade do agente etiológico, dá lugar ao R, que é a taxa efetiva de reprodução numa população de verdade.
E, utilizando a terminologia de Adam Kucharski em "The Rules of Contagion", podemos dizer que R=DOTS, isto é, depende da Duração da fase em que o paciente permanece infectado; do número médio de Oportunidades que ele tem de transmitir a moléstia; da probabilidade de cada oportunidade converter-se em Transmissão; e da Suscetibilidade média da população à doença.
No caso da covid-19, para a qual não há remédios nem vacina, não temos como agir sobre D e S, mas podemos trabalhar sobre O e T. Autoridades brasileiras vêm corretamente insistindo na necessidade de lavar as mãos, que é a melhor forma de reduzir T, mas elas me parecem ainda tímidas demais em relação a O.
Talvez seja cedo para suspender aulas e impor quarentenas, mas já passa da hora de instruir a população, em especial os mais vulneráveis, a evitar contatos não essenciais. Seria o caso, também, de cancelar atividades desnecessárias ou contraproducentes, como as manifestações políticas dos próximos dias.
E por que é importante agir sobre O e T? Epidemias, em sua fase inicial, seguem um padrão exponencial de transmissão. Isso significa que, se conseguirmos reduzir o R mesmo que só um tiquinho, obteremos uma diminuição dramática no número de doentes nas semanas seguintes.
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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