Exibida ao longo de 56 capítulos, “Ilusões Perdidas”, de Enia Petri, com Leila Diniz e Reginaldo Faria, estreou em 26 de abril de 1965, mesmo dia da inauguração da Globo. No final da década de 1960, a emissora já tinha três horários fixos na grade (19h, 20h e 22h) dedicados a novelas. Em 1975, inaugurou a faixa das 18h.
Em 1995, mirando o público adolescente, inaugurou uma nova faixa com “Malhação”. O horário mais tardio, das 22h, foi abandonado em 1979, abrindo espaço para a exibição de séries e especiais. Retomado em 2011, foi novamente deixado de lado ao final de 2018.
Sem contar a faixa vespertina de reprises, na grade desde 1980, a Globo hoje exibe diariamente quatro novelas. Cada uma tem pelo menos um autor e quatro colaboradores.
Sempre foi o negócio principal da empresa e não surpreende, por isso, que ao inaugurar um complexo de novos estúdios, em agosto de 2019, os seus executivos tenham deixado claro que o investimento de R$ 207 milhões tinha como objetivo principal a otimização da produção de novelas.
Neste contexto industrial, os autores sempre representaram um contraponto. Eram a face mais humana e imprevisível do negócio, capazes com suas ideias (ou falta delas) de determinar o sucesso ou o fracasso de uma trama. Quanto mais lucrativa a faixa horária, mais importantes se tornaram essas figuras.
[ x ]
Formou-se, naturalmente, uma casta de autores bem-sucedidos, em particular na produção de histórias para o horário mais nobre, que já chegou a atrair a atenção de dez entre dez pessoas (no capítulo final de “Roque Santeiro”, reza a lenda), e ainda hoje é o programa de televisão mais visto no país.
São reconhecidos e muito bem remunerados por sua maestria. É um ofício que exige imaginação sem limite, disposição, agilidade e método para escrever 180 capítulos, além de jogo de cintura para fazer drásticas alterações no meio do caminho de acordo com os humores do público ou do chefe.
O processo atual de renovação obedece, em parte, a um princípio natural: o tempo. Alguns dos maiores nomes, como Benedito Ruy Barbosa, Manoel Carlos e Lauro César Muniz, já passaram dos 80 anos. Vários da turma que veio um pouco depois, entre os quais Aguinaldo Silva e Gilberto Braga, já têm mais de 70.
Uma certa cautela sempre marcou a promoção de autores para a faixa nobre. Os últimos foram João Emanuel Carneiro (“A Favorita”, 2008), Walcyr Carrasco (“Amor à Vida”, 2013) e Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari (“A Lei do Amor”, 2016).
Manuela Dias, que escreve a atual “Amor de Mãe”, nunca havia assinado uma novela antes (foi colaboradora de algumas e escreveu séries). É uma ousadia interessante.
Dias está entre os 15 novos autores de novelas lançados pela Globo desde 2015. Ainda neste ano, mais duas roteiristas vão assinar pela primeira vez um folhetim.
Este processo de renovação é um dos orgulhos de Silvio de Abreu. Ele tem 77 anos e, em novembro de 2014, assumiu o comando da área de teledramaturgia da Globo após 35 anos de trabalho como autor.
Na inauguração dos novos estúdios, Abreu falou a respeito, explicitando a lógica industrial do processo: “Eu achava que uma das coisas que faria a novela ter continuidade seria ter novos autores, novas ideias, porque se não o gênero iria morrer. E o gênero continua, e vai continuar”.
A missão dada tem sido bem cumprida, vê-se, por mais estranho que possa parecer, num momento em que se fala tanto em séries. Cinco décadas e meia depois da estreia de “Ilusões Perdidas”, a Globo parece enxergar na produção de novelas um pilar sólido para o seu futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário