Ministro da Economia afirmou recentemente que pessoas destroem natureza para poder comer
SÃO PAULO
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou à Globo News, na quarta (22), que sua declaração relacionando desmatamento à pobreza era direcionada a países ricos que já destruíram sua biodiversidade. A declaração do ministro não condiz com dados sobre destruição da Amazônia e foi rebatida por Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA.
"O Al Gore deve ter muita noção disso, porque foi no país dele que houve uma redução importante de algumas etnias, muita coisa complicada", afirmou Guedes à Globo News. "Estou falando da experiência dos países avançados sobre esse confronto, como que os povos, às vezes, para escapar da miséria, acabam fazendo, como eles fizeram, atacaram a própria biodiversidade."
Guedes afirma que sua fala apontava que "o brasileiro está consciente da importância dos seus recursos naturais, da preservação dos recursos naturais, da preservação de sua biodiversidade, da importância de desenvolver a economia sustentável".
Na terça (21), porém, o ministro havia afirmado que "o pior inimigo da natureza é a pobreza" e que "as pessoas destroem o meio ambiente porque precisam comer". "Elas têm outras preocupações, as quais não são as preocupações das pessoas que já destruíram as florestas, que já combateram as suas minorais étnicas e todas essas coisas", afirmou Guedes durante um painel do Fórum Econômico Mundial.
Mas a associação de desmatamento e pobreza não encontra respaldo nos dados sobre a destruição da floresta. No Mato Grosso, por exemplo, o desmate ilegal está concentrado em grandes e médias propriedades.
Além disso, análise do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) mostra que 35% do desmatamento ocorrido entre agosto de 2018 e julho de 2019 (Prodes 2019) ocorreu em terras públicas não destinadas, em processos de grilagem. Em segundo lugar estão os assentamentos, com 27%.
Por fim, o desmatamento precisa de capital para ser realizado. Para se derrubar somente um hectare (0,01 km²) são necessários milhares de reais na área do arco do desmatamento. O desmatamento na Amazônia entre 2018 e 2019 foi de 9.762 km².
Em outro painel, ao ser questionado sobre a declaração de Guedes, Al Gore afirmou que esperar solução para a pobreza com plantações na Amazônia é dar falsas esperanças para as pessoas.
“Hoje é amplamente entendido que o solo na Amazônia é pobre. Dizer às pessoas no Brasil que elas vão chegar à Amazônia, cortar tudo e começar a plantar, e que terão colheitas por muitos anos, isso é dar falsa esperança a elas”, afirmou. “Há, sim, respostas para a Amazônia, mas não é esta.”
Nesta quinta (23), a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, também divergiu da afirmação de Guedes.
“As pessoas não precisam desmatar para comer, você pode aumentar a produtividade por área, essa é uma das vantagens comparativas do Brasil”, disse a ministra em Delhi, ao ser questionada pela Folha.
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