Cedae, que virou quintal político de um pastor, até agora não sabe explicar nem resolver o problema
Na crônica policial da cidade, o Guandu ficou marcado como local de crimes de execução. Nos anos 60, o rio era usado por policiais dos esquadrões da morte —ovo da serpente das atuais milícias— para ocultar corpos. Sambista de Mangueira, Padeirinho registrou a situação num partido alto: "Se manda, mané/ Que daqui a pouco os homi vêm aí/ E quem ficar de touca, não escapulir/ Vai entrar em cana, se não se mandar/ E além disso/ Quem vem na caravana é o Fumanchu/ Que leva o caboclo lá pro rio Guandu/ E faz dançar twist, rock e chá-chá-chá".
Hoje poluído por excesso de esgoto em seus afluentes, o Guandu é vital por abastecer de água os lares do Rio. Água que, desde o início do ano, apresenta forte cheiro, gosto de terra e turbidez. Até agora, a Cedae não soube explicar o motivo, tampouco resolver o problema. Informou apenas que a causa é a presença de geosmina, uma substância produzida por algas.
Não bastassem a sensação térmica de 54 graus e o Baile da Favorita em Copacabana, o carioca enfrenta mais uma distopia. Com medo de usar água da torneira, correu para comprar o produto engarrafado, que está começando a faltar. O preço aumentou. Tem gente que sente gosto estranho em tudo o que bebe --até numa Perrier. Quem pode usa a mineral para cozinhar e para escovar os dentes. Para os radicais, banho só de cachoeira.
Segundo especialistas da UFRJ, há ameaça de crise hídrica no estado. Na quinta (16), a Polícia Civil entrou no caso para descobrir se houve crime no processo de mudança nas características da água.
Apesar do caos, o governador Wilson Witzel não interrompeu as férias na Disney. Desde 2019, mais de 50 funcionários de carreira foram afastados da Cedae. A estatal integra o quintal de influência do pastor Everaldo, que indicou o atual presidente. Cupincha de Eduardo Cunha, Everaldo manda, desmanda --e não só na água podre.
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