Como seria almoçar semanalmente com Orson Welles, podendo gravar a conversa?
De 1983 a 1985, o cineasta Henry Jaglom teve o privilégio de almoçar semanalmente com Orson Welles (1915-1985), em Hollywood, e gravar as conversas. Daí resultou, em 2013, o livro “My Lunches with Orson”, de Peter Biskind, ainda inédito aqui e que só li agora, com atraso. Mas, concorde-se ou não com Orson, nunca é tarde para ouvi-lo. Exemplos.
“[Woody Allen] tem a doença de Chaplin, uma mistura de arrogância e timidez. Faz-se de tímido, mas não é. Ele se odeia e se ama. Acho vergonhoso alguém se diminuir tanto [na tela] para fazer rir.”
“Marlon Brando não é dos mais brilhantes. Os grandes atores são assim. [Laurence] Olivier é muito burro. A inteligência faz mal a um ator. Significa que ele não é naturalmente emotivo, mas cerebral.”
“O gângster classudo foi uma invenção de Hollywood. ‘O Poderoso Chefão’ era a glorificação de um bando de vagabundos que nunca existiram. Os gângsteres de verdade não tinham a menor classe. Os melhores só serviam para dirigir caminhões de cerveja.”
“Nunca houve um ditador alto. Mussolini era baixo. Franco era baixo. Hitler era baixo. Stalin era baixo. Já os melancólicos doentios são sempre gigantes. Só os nanicos e anões têm ilusões de grandeza.”
“Eu tinha 1,90 m. Hoje tenho 1,87 ou 1,86. Meu pescoço insiste em desaparecer. É a lei da gravidade. Elizabeth Taylor já não tem pescoço, seus ombros estão chegando às orelhas. Imagine quando tiver a minha idade —seu rosto vai estar no umbigo.”
“O problema dos diretores de hoje é que eles assistiram a filmes demais. Nunca fizeram nada exceto ir ao cinema desde os oito anos. Não têm experiência de vida, só a dos filmes.”
“Ninguém jamais escreveu uma crítica de cinema como [o romancista] John O’Hara. Ele disse de ‘Cidadão Kane’: “Este não é apenas o melhor filme já feito. É o melhor que será feito em todos os tempos’. Depois desta, eu devia ter me aposentado.”
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