Segundo crítico, hipóteses políticas, e não sabedoria econômica, motivam cruzada
Marcelo, aos 24, acaba de se formar em medicina numa universidade de alta reputação e não tem nenhum bem. Também aos 24, Gabriela, que não fez faculdade, herdou dois imóveis do pai, avaliados em R$ 1 milhão ao todo. Quem é mais rico?
É Gabriela, segundo os parâmetros da nova geração de economistas dedicados a estudar a desigualdade. Eu arriscaria dizer que Marcelo, de longe, possui a maior riqueza entre os dois.
Aplicada em papéis seguros do Tesouro, a herança de Gabriela lhe renderá pouco menos de R$ 3 mil mensais. Se for um profissional mediano, Marcelo vai ganhar o triplo. O patrimônio implícito na sua formação vale no mínimo R$ 3 milhões.
Há mais complicação. Apesar de o governo ter a mesma obrigação com o beneficiário de programa social e com o detentor de título público, apenas no segundo caso ela é computada como riqueza do titular do direito nas pesquisas em voga.
Quem tinha fortuna de R$ 5 milhões quando vigoravam juros de 10% ao ano e passou a possuir R$ 10 milhões quando a taxa caiu à metade não ficou mais rico. Seu patrimônio continua lhe rendendo pouco mais de R$ 40 mil por mês.
O efeito da colossal redução dos juros tem sido desprezado nas medições de riqueza, inflando seus resultados.
Essas e outras críticas técnicas aos andaimes nem sempre observados no programa de pesquisas celebrizado por Thomas Piketty foram tecidas numa sequência recente de posts pelo economista americano John Cochrane em seu blog.
Ele conclui que a motivação de propostas como a de talhar o patrimônio dos bilionários está associada a um postulado político, e não a resultados sólidos da investigação acadêmica.
Trata-se da ideia, cultivada por populistas à direita e à esquerda, de que bilionários envenenam a democracia. Essa é uma hipótese que até pode se mostrar verdadeira, mas ainda é mal estudada e está muito longe de ser comprovada.
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