Começo com uma piada. Dois dignitários assistem a uma parada militar, na qual desfilam soldados, tanques e mísseis. No final, aparece um caminhão com alguns civis maltrapilhos sobre ele. "Quem são?", pergunta a primeira autoridade. "Economistas", responde a segunda. E completa: "Você não acreditaria no estrago que eles podem causar".
Os mais novos talvez não acreditem, mas, até o início dos anos 50, havia poucos economistas trabalhando para governos e eles quase nunca eram ouvidos pelos dirigentes. Estavam lá para fazer contas. É principalmente a partir de 1969 que passam a desempenhar papel central na definição de gastos públicos, impostos e desregulamentação, levando à globalização, que coleciona alguns sucessos e um bom número de fracassos.
"The Economists' Hour" (a hora dos economistas), de Binyamin Applebaum, conta essa história (e também a piada). O livro mostra como as ideias de gente como John Maynard Keynes, Milton Friedman, Alan Greenspan, Martin Anderson, Paul Volcker, George Shultz e Robert Mundell, entre outros, chegaram aos ouvidos do poder, foram implantadas e produziram consequências.
Applebaum não trata só de macroeconomia. Embora descreva com detalhes a quebra do padrão ouro e outros momentos decisivos que forjaram o ambiente econômico em que vivemos, ele mostra também como economistas foram decisivos para acabar com o serviço militar obrigatório nos EUA e para desregulamentar o setor aéreo, tornando o avião um meio de transporte acessível não apenas para os ricos.
Na análise de Applebaum, mesmo antípodas ideológicos como Keynes e Friedman têm mais semelhanças do que diferenças. Suas intervenções decerto contribuíram para aumentar o nível de prosperidade global, mas a fé na virtude de mercados pouco regulados provavelmente foi longe demais e vai deixando um rastro de desigualdade econômica que ameaça a saúde da democracia liberal.
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