terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Para biólogos, 'design inteligente' não faz sentido, FSP

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A tentativa de dar verniz científico e educacional à Teoria do Design Inteligente costuma esbarrar na semelhança entre a tese e o tradicional criacionismo --a crença numa divindade que teria criado diretamente os seres vivos como são hoje, em geral idêntica ao Deus da Bíblia.
Foi essa a conclusão do juiz americano John Jones ao decidir contra a secretaria de educação de Dover, na Pensilvânia, que defendia que a TDI fosse ensinada ao lado teoria da evolução nas escolas públicas. Jones concluiu que um currículo escolar assim violaria a separação entre religião e Estado estabelecida na Constituição dos EUA.
No Brasil, em 2004, o Estado do Rio de Janeiro, governado por Rosinha Matheus, chegou a propor a inclusão do criacionismo no ensino público, embora não tenha havido alteração nas aulas.
A maioria dos biólogos, porém, diz não ver sentido na TDI, mesmo quando se analisam os dados do DNA com técnicas modernas.
"Quem quiser defender que o genoma reflete um design inteligente, que não perderia tempo ao entulhá-lo com lixo, vai precisar resolver o paradoxo da cebola", diz o geneticista brasileiro Marcelo Nóbrega, da Universidade de Chicago. "Se o nosso genoma de 3 bilhões de letras' de DNA reflete a complexidade do nosso organismo, como justificar o genoma da cebola, com 15 bilhões de letras? Ou o da ameba Polychaos dubium, com 670 bilhões? Uma ameba é 200 vezes mais complexa do que um criacionista?", brinca ele.
Para o teólogo Eduardo Rodrigues da Cruz, da PUC-SP, que estuda a relação entre ciência e religião, a penetração da TDI na academia brasileira tem crescido. "Nota-se uma mudança, além da capacidade de liderança de Marcos Eberlin, a pessoa que faltava para o movimento explodir aqui no Brasil", afirma.
Para o especialista, é um erro limitar-se a confrontar ou ironizar defensores da TDI, sem dialogar com lideranças religiosas que não são contrárias à evolução.
"Não acho produtivo discutir com eles", diz Maria Cátira Bortolini, geneticista da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). "Acho muito mais interessante discutir por que há essas mentes predispostas geneticamente a seguirem pensando de maneira mágica, mesmo quando adultos."

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