Segredo para vida longa está em eliminar maus hábitos e cultivar bons
Da costa ao interior, passando pela capital, em qualquer canto do Uruguai existem três elementos: viajantes otimistas parados à beira da estrada com o polegar estendido, salgadinhos sabor ovo frito no mercado e cidadãos de zero a cem anos transportando seu kit-mate, com cuia, bomba e garrafa térmica.
A erva-mate é o maior dos lances locais. Quando um uruguaio nasce, espera-se que ele, assim que possa incorporar outros alimentos à dieta além do leite materno, desenvolva o gosto pela infusão típica. O que não é tarefa fácil.
Ninguém nasce gostando de mate. Seu sabor forte e amargo é, antes de tudo, hostil, evoluindo, depois, para o enjoativo. Como o café, que brasileiro nenhum adora desde o começo da vida e é preciso tomar com frequência para desenvolver o paladar. Criar o costume.
Somos criaturas de hábitos, diz o senso comum. E eles se estabelecem pelas mais variadas razões, desde a cultura local, como o chimarrão no Uruguai, até pela necessidade.
Uma amiga conta que a avó se recusa a eliminar a carne do cardápio. Já haviam tentado antes, os netos, convencê-la de que uma dieta vegetariana é mais saudável e, agora, com a alta do preço, abandonar de vez os animais significaria economia. Passou fome na infância, explica minha amiga, carne é status. Não vai deixar de comer.
Em "Sobre os Ossos dos Mortos", a Nobel Olga Tokarczuk luta contra os dois maiores hábitos locais em seu vilarejo. Quer extinguir a caça selvagem e também assegurar que nunca se habituará ao vento violento que sopra sem pausa, do verão ao inverno.
Dizem que o mate faz bem aos intestinos e ao cérebro. Então o governo espalha máquinas de água quente por lugares públicos e nas estradas onde os uruguaios pedem carona.
Acho que o segredo de uma vida longa está em eliminar maus hábitos e cultivar os bons. E que não tem nada mais pessoal que o critério que diferencia uns dos outros.
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