O início profissional de Paulo Mendes não foi fácil. Nos fim dos anos 1990, seu objetivo não era diferente da maioria dos aspirantes a executivos: trabalhar na gigante das bebidas Ambev. O sonho, porém, nunca foi realizado, apesar das sete tentativas de cavar uma oportunidade. Hoje, 20 anos mais tarde, Mendes acabou de vender a 2Get, empresa de recrutamento e seleção que criou há dez anos, para o grupo americano Heidrick & Struggles, em um acordo avaliado em R$ 70 milhões.
“A chance da gente sempre chega”, diz Mendes, de 41 anos, sobre a venda da 2Get, empresa que continuará a liderar mesmo após o acordo com a gigante dos EUA. Com 12 consultores e 50 funcionários, a companhia foi fundada depois que o empresário conseguiu duas oportunidades como executivo: na Votorantim, onde o mineiro iniciou a carreira em São Paulo, e na construtora Tenda.
Após alguns anos na Votorantim, de onde saiu em busca de um negócio que crescesse em maior velocidade, acabou na construtora Tenda, na qual chegou um ano antes da abertura de capital da construtora dedicada ao setor de baixa renda. Foi uma história de fracasso: apesar de a empresa ter feito uma grande abertura de capital, em 2007, e de por algum tempo ter atraído a Gafisa como sócia, o valor do negócio acabou “virando pó”, admite Mendes.
Os custos e a organização de uma operação que crescia vertiginosamente se mostraram muito complexos para a administração da Tenda, diz Mendes. Mas foi na construtora que Mendes teve sua primeira oportunidade realmente relevante na área de recursos humanos. Apesar de atuar como diretor comercial e de marketing, uma de suas funções foi apoiar as contratações. Ele já tinha alguma experiência nisso, graças a uma rápida passagem pela consultoria Michael Page.
“Eu me envolvi em todo o processo, tendo que contratar 900 pessoas em um ano”, lembra. “E, com isso, eu me aproximei de várias consultorias de RH.” Em uma época de bonança econômica, Mendes lembra que teve de construir relacionamentos para conseguir preencher as vagas que oferecia. “A Tenda não era tão atraente, pois era muito mais fácil atrair talentos para companhias como Coca-Cola e Unilever.”
Empreendimento
Além da experiência no mundo do RH, a Tenda também aproximou o empreendedor do fundo Galícia. Em 2009, o Galícia – que tem ex-pesos-pesados justamente da Ambev entre os fundadores – funcionou como uma espécie de investidor-anjo da 2Get.
Ainda antes de o mercado de trabalho descer ladeira abaixo, a 2Get teve de buscar um nicho para se destacar entre um mar de nomes internacionais, como Korn Ferry, Michael Page e a própria Heidrick & Struggles, que agora compra 100% de suas ações. Um dos focos, conta o empresário, foram as companhias familiares, que sempre foram deixadas meio de lado pelas grandes consultorias.
Com essa receita, conseguiu crescer cerca de 40% todos os anos, desde o início de sua operação. Fontes de mercado confirmaram ao Estado confirmaram que a 2Get, antes da aquisição, era a maior empresa de seu ramo de capital 100% nacional, seguida de perto pela Exec, que surgiu mais ou menos na mesma época.
Com a venda de 100% do negócio à Heidrick, a 2Get deverá continuar seguir no nicho em que já atua – a busca de candidatos para cargos de alta gerência e diretoria – e ampliar o investimento em tecnologia. Segundo Mendes, ferramentas desenvolvidas pela companhia permitem a leitura do perfil de um profissional na internet – incluindo o LinkedIn, artigos escritos e comunidades de discussão – via robô, agilizando o processo de contratação.
“É algo importante, pois as empresas de tecnologia começam a roubar o faturamento da indústria de consultoria. Temos de atuar nas duas frentes.”
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